Eu puxei o relógio de bolso para ver as horas. Era quase tarde demais. Eu estava ciente de que a senhorita Grantham deveria estar se preparando para deixar o abrigo em breve, mas minha inquietude era grande demais para que eu aguardasse a vinda do próximo dia para encontrá-la. Imagine ter que esperar mais de 24 horas!? Era demasiado tempo!
Antes que eu pudesse alcançar a propriedade em que ficava instalado o abrigo, testemunhei a senhora Bentley abrir a porta da frente. Eu sequer pude me esconder, pois seus olhos certeiros me encontraram à pouca distância que nos separava.
– Senhor Stretford! – Ela até pareceu contente em me ver, mesmo que àquela hora da noite.
– Senhora Bentley. – Eu fiz uma mesura, em um cumprimento. – Está de saída?
– Sim, meu bom rapaz. Já é hora.
Decepcionei-me por sua resposta simplista, que não mencionara lady Grantham. Eu esfreguei uma mão na outra, hesitando em ter que lhe perguntar diretamente, mas a matrona percebeu que eu desejava falar-lhe.
– Quer me dizer algo, senhor Stretford?
– Na verdade, sim... A senhorita Grantham... Ainda está no abrigo?
Uma das sobrancelhas da senhora se ergueu ao me replicar, sua voz soando severa:
– Não deveria procurar por uma dama solteira a esta hora, milorde.
Eu não soube dizer se fiquei mais atordoado por sua franqueza ou pelo fato da senhora Bentley ter se referido a mim por um lorde. Minha memória me dizia que eu ainda não havia lhe revelado que eu era um marquês e eu não estava certo de que a senhorita Grantham tivesse lhe contado.
– Não. – Concordei. – Mas por favor, não me julgue mal. É só que eu realmente não tive oportunidade de vir antes. E encontrá-la ainda esta noite me trará alívio. – Eu percebi que eu proferira frases que poderiam ser interpretadas de outras maneiras nada castas. – Melhor dizendo... A encomenda que enviei ontem. Preciso saber se a ideia das réplicas fora bem-sucedida ou se minha amiga ainda se encontra em apuros.
– Ah, sim. A encomenda! – A senhora Bentley pareceu razoavelmente aliviada. – Eu mesma a recebi, meu jovem.
Eu lhe voltei um olhar inquisitivo quando ela não me disse mais nada.
– Mas tudo bem, darei-lhe a chance de ouvir a resposta para a sua pergunta da própria senhorita Grantham.
– Mas... – Ela não acabara de me censurar por estar ali à sua procura àquela hora?
– Não creio que seja apropriado que uma dama e um cavalheiro se encontrem sozinhos, uma vez que estou de saída e não poderei fazer companhia aos dois, mas vá até ela. – A senhora Bentley começou a dizer. – Nós já colocamos as crianças para dormir e lady Grantham está se vestindo para tomar a carroça do senhor Lincoln, que passará daqui a menos de meia hora. Portanto, terão algum tempo para prosear.
Eu abri meus lábios para responder, mas a matrona acrescentou com urgência:
– Apenas prosear. – Ela enfatizou, olhando-me de um jeito quase ameaçador.
Senti a pele de meu rosto esquentar com o que havia de subtendido em sua postura.
– Eu não tenho outra intenção senão conversar com lady Grantham, senhora Bentley. – Falei, tentando me fazer parecer despreocupado.
– Porém, não se demorem. Não a faça perder a condução do senhor Lincoln. – Ela me alertou.
– Decerto não farei.
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Flor de East End
RomanceA noite pareceu promissora para o jovem Edward Walker: ele decidira descobrir os prazeres carnais que até então lhe eram desconhecidos aceitando o convite a uma incursão a Whitechapel, a área de Londres mais decadente e contrastante com sua vida de...