De verdade

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Eu escondi o pedaço de papel em meu punho fechado e me virei para meu irmão.

– Perdão?

Robert estreitou os olhos, desconfiado.

– O que procura? – Perguntei quando ele não disse nada.

Os olhos de meu irmão vasculharam o interior de meu quarto e sem encontrar nada do qual pudesse reclamar, indagou-me:

– Por que nunca mencionou a existência desta amizade com o filho do duque?

– Porque não era algo digno de relevância.

– Sabe muito bem sobre o que penso sobre qualquer amizade que venha a ter com um cavalheiro... – Robert disse em tom de advertência.

– Trocamos algumas palavras das vezes em que nos vimos por causa de MacPherson. Não é como se nos conhecêssemos de uma vida toda. – Falei, torcendo para que minha ironia ajudasse minha declaração a parecer verdadeira.

Meu irmão coçou o queixo.

– Lembrarei de incluir lorde Stretford em meus assuntos e confirmar tudo isto com Hugh quando o encontrar.

Eu levei minhas mãos à cintura, expressando indignação.

– Está duvidando de que o que digo seja verdade? Da mesma forma como duvidara de que eu estivera na igreja ontem?

O cenho de meu irmão se franziu.

– Se duvidei, é porque me dera motivos, Sophie.

– Eu não sou mais a mesma Sophie de anos atrás. A Sophie que tinha sonhos e um futuro de felicidade. Sabe bem disso. – Comecei a dizer. – E me aborrece saber que precisa que um homem lhe fale exatamente a mesma coisa para que acredite que seja verdade. – Mas de toda esta história, eu só ainda não entendia como lorde Stretford conseguira contar exatamente a mesma mentira que eu dissera a meu irmão; o meu álibi de ter estado na igreja. – Que minhas palavras tenham tão pouco valor.

Se minha intenção fora afrontá-lo, consegui apenas que ele retrucasse as mesmas ladainhas irritantes de sempre:

– Deveria saber que a palavra de uma dama não tem a mesma valia que a palavra de um cavalheiro.

Meus dentes rangeram. Até quando esta seria uma realidade para as mulheres? Serem descreditadas? Terem suas palavras valendo nada?

– E você deveria se sentir envergonhado por seguir e acreditar nesta tolice. – Retruquei.

– É assim que é o mundo, minha irmã. E esse é o papel do homem: ter palavra. Não queira lutar contra isto.

Eu me enfureci com sua arrogância.

– O mesmo mundo que não me dá direito a ficar com...

– Deveria ter aceitado já. – Meu irmão me interrompeu de modo brusco. – Passou-se anos desde que...

– Desde que o tiraram de mim?! Sim. – Eu o interrompi, dando-lhe o troco. – Mas nunca aceitarei tal crueldade, tal injustiça!

– Aquele que era oriundo de uma transgressão, de uma imoralidade, jamais poderia ser recebido no seio desta família.

– Imoral são e foram os preceitos desta família! – A ira levantou uma crescente dentro de mim. Eu dei dois passos para dentro do quarto. – Já está satisfeito com suas perguntas? Posso me recolher à minha insignificância?

– Cuidado com seus modos, Sophie. – Robert disse entre dentes. – Algum dia posso repensar se não teria sido melhor termos te levado a um convento.

Flor de East EndOnde histórias criam vida. Descubra agora