Fora um toque sutil, mas senti a maciez e a calidez de seus lábios. Involuntariamente, algo em mim pediu por mais e, perdendo o bom senso, envolvi seu rosto entre minhas mãos.
Já não me parecera mais um erro.
Os olhos castanhos de lady Grantham se arregalaram com minha ousadia. Eu senti sua respiração falhar, mas ela não me repeliu. Dei-lhe segundos para refletir sobre o que estava acontecendo, mas em contrapartida, seus lábios fizeram um movimento sutil, entreabrindo-se.
Fui tomado por um ímpeto e avancei, reivindicando-lhe os lábios de um jeito imperioso, minha língua invadindo o céu de sua boca para em seguida duelar com a sua, que ondulava sobre a minha. Eu me surpreendera com o fato de que ela sabia bem como acompanhar meus movimentos e que de vez em quando, seus lábios se fechassem para pressionar os meus, causando neles uma pequena sucção.
Uma onda de deleite transitou por mim, transmitindo mensagens caóticas por todo o meu corpo. Mensagens estas que me diziam para não me interromper, para beijá-la até que eu me cansasse, até que o ar nos faltasse. Mensagens que me diziam para tocá-la, para deslizar minhas mãos até sua cintura, seus quadris, para trazê-la para perto de mim como se fosse minha.
Mas a senhorita Grantham era minha... amiga... E amigos não se beijam. Ou ao menos não deveriam se beijar daquela maneira.
E mesmo contra estas convenções, estávamos a travar um embate entre lábios... Até o instante em que algum pensamento pareceu atingir em cheio minha amiga. Ela repentinamente se refreou, as plantas dos pés voltando abruptamente a ter contato com o chão e, consequentemente, findando o contato indecoroso de nossas bocas.
Não sei se fora o movimento desajeitado e urgente, mas a senhorita Grantham pareceu-me ligeiramente zonza, e temendo pelo seu bem-estar e equilíbrio, eu a segurei pela cintura a fim de ampará-la.
Seus olhos piscaram nervosamente e ela virou a cabeça para trás, acompanhando a direção do meu olhar, que deixaram os seus lábios para ser atraído por uma figura atrás de nós, no final do corredor.
Uma garotinha completamente estática, quase assustada, observava-nos.
– Mary Jane, volte para a cama! – Lady Grantham ordenou com a voz meio trêmula.
Mas o pedido não fizera efeito algum na menina, que continuava a nos fitar tal como tivesse testemunhado um crime.
Minha amiga tornou a se virar para mim, encarando-me por alguns segundos, antes de se dar conta de que minhas mãos ainda lhe amparavam. Seus olhos abaixaram-se na direção delas, em um pedido silencioso para que eu pusesse fim àquela intimidade não consentida. Então eu o fiz, ainda que estivesse quase certo de que não era minha vontade.
Livre de mim, ela girou os calcanhares e foi atrás da menina, que ao vê-la se aproximar, correu na direção de volta para o quarto, nitidamente amedrontada.
Estando só, eu ponderei sobre minha atitude. Eu havia sido impulsivo.
E, no entanto, tudo o que conseguia recapitular era a sensação de ter sua boca na minha. E em como aquele beijo parecia ter despertado um anseio de querer ainda mais de lady Grantham.
Fiquei confrontando meus pensamentos durante alguns instantes até que minha amiga surgiu novamente. Tinha o olhar baixo, claramente evitava encarar minha pessoa.
Entendendo o gesto como um sinal de que estava constrangida e desconfortável, eu me forcei a lhe dizer:
– Milady, perdoe-me. Eu não... deveria.
Porém, minhas palavras contradiziam o sentimento que pulsava dentro de mim. Era terrível ter que admitir, mas não havia arrependimento algum em meu peito. E eu ansiei para que ela não sentisse necessidade naquele pedido de desculpas. Que sorrisse com um rubor no rosto e que seu silêncio acanhado dissesse-me que havia gostado.
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Flor de East End
RomanceA noite pareceu promissora para o jovem Edward Walker: ele decidira descobrir os prazeres carnais que até então lhe eram desconhecidos aceitando o convite a uma incursão a Whitechapel, a área de Londres mais decadente e contrastante com sua vida de...