Sentimento de tolos

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[Edward]

Eu cambaleei para trás, confuso pela súbita rejeição, meu corpo instantaneamente ficando carente do complemento feminino, meus lábios murchando sem a umidade e o sabor dos seus. Levei alguns minutos para acalmar minha respiração e então olhei para o horizonte, sem rumo. Ela já havia sumido de minha vista.

– Sophie! – Gritei seu nome, os pés se movendo depressa para refazer o trajeto que nos levara até ali.

Cruzei a ponte e serpenteei pelos pisantes do jardim. Alguns casais dispersos pelo meio do caminho me viram passar esbaforido, uns até mesmo interrompendo-se em suas ocupações para averiguar o que estava acontecendo.

– Sophie! – Chamei alto mais uma vez sem me importar que me ouvissem. Meus olhos não encontravam sua figura em canto algum e eu já avistava as escadarias que davam acesso ao interior de nossa residência.

Virei a cabeça de um lado a outro. Não havia sinal algum da dama de vestido rosa. Serpenteei pelo caminho de pedra do jardim e alcancei o labirinto de cerca-viva. Se minha amiga estava amedrontada como eu julgava estar, talvez tivesse se enveredado por aquele local. O labirinto era uma boa opção para alguém que não quisesse ser encontrada.

Confiante em minhas suposições, adentrei-o. A passagem era mais escura que o restante do jardim, com poucas luminárias dispondo-se pelo caminho. Em um zigue-zague, fui avançando cada vez mais rumo a seu interior.

– Sophie?

Eu conhecia bem o emaranhado de paredes cobertas de vegetação, então não me perderia. Havia uma trifurcação que nos obrigava a escolher entre três caminhos distintos: dois deles levavam a muros sem saída e o outro à saída do labirinto, do lado oposto do jardim. Escolhi um daqueles que não levava a lugar algum.

A cada esquina de muro verde que eu cruzava, a iluminação ia diminuindo, o que era totalmente proposital. Se de dia atravessar aquelas passagens já era intimidador, à noite era ainda mais sombrio. Eu soube que estava chegando ao final do percurso quando uma luminária de luz avermelhada formou minha sombra no verde do muro. A lâmpada vermelha era o sinal de que ela era órfã, não sendo sucedida por mais nenhuma outra e portanto, anunciando o fim da trilha.

Virei à esquerda.

– Sophie?

O ruído da vegetação ecoando daquela pequena área quadrangular deveria ter me alertado para a movimentação inusitada.

Meus pés se fincaram diante da cena. Eu balancei a cabeça de um lado a outro, completamente embaraçado.

– Perdoem-me, eu estava procurando por uma pessoa. – Ainda assim, consegui dizer.

Com as calças arriadas e a masculinidade ereta, um cavalheiro estocava para dentro de uma dama, cujas mãos seguravam o monte de saias volumosas para cima.

Eles me encararam em total surpresa. Meu olhar, entretanto, teimou em ceder à curiosidade de se deter exatamente onde não deveria.

Eu levei alguns segundos para perceber que ficara parado, sem reação.

– Perdoem-me. – Desculpei-me mais uma vez, dando-lhes as costas e saindo apressado, torcendo para que no calor do momento e no constrangimento do flagra eu não tivesse sido reconhecido por eles.

Fiz o caminho de volta, a imagem do que eu flagrara orbitando agora em minha mente, causando-me um anseio que ameaçava fugir de meu controle e que fazia minha pele arder. Poderia ter sido eu e Sophie, apoiados nas pedras do portal ou em qualquer outro canto esquecido daquele jardim, mas ela fugiu como se eu lhe fosse lhe fazer mal, como se fosse machucá-la.

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