Confissões em um jardim

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O tempo de diversas danças já havia transcorrido. E como previu lady Amelia, eu estive acompanhada por algum cavalheiro em todas elas. Meu cartão de baile estava quase todo preenchido. Exceto pelas duas linhas finais, as três últimas danças da noite, que se seguiriam depois da valsa prometida a lorde Stretford, todas as outras ostentavam um nome masculino.

Eu fiz uma reverência para lorde Rayleigh, pois findávamos nossa quadrilha. Inevitavelmente estava chegando a hora de reencontrar meu amigo em nossa valsa prometida.

Espiei pelo salão à minha frente, procurando-o, sem sucesso. Eu o havia perdido de vista. A quadrilha era um tipo de dança muito enérgica que fazia os pares rodopiarem pelo espaço do salão em trocas de casais regulares. E assim como eu, Stretford também esteve ocupado durante todo aquele tempo. Trocava de parceira constantemente, cada dança desfilando na companhia das jovens mais belas e bem-vistas da Inglaterra.

A ideia de que meu amigo poderia estar comprometido com lady Diana Steward ainda pairava em minha mente. Mas, de qualquer forma, se não fosse ela a felizarda, seria qualquer uma daquelas damas de alta posição na sociedade. E ainda que não fosse hoje ou amanhã que ele anunciaria um noivado, não tardaria a se suceder. Edward Walker era lindo, jovem, educado e filho de um duque. Qualquer boa família teria pretensões de fazer sua filha desposá-lo. E qualquer jovem presente naquele baile corria o risco de se apaixonar por ele.

Eu ainda tentava procurá-lo discretamente pelo salão quando senti o leve repousar de uma mão em minha cintura.

– Lady Grantham?

A voz grave e surpreendentemente imponente dele fez uma carícia em meus ouvidos.

Virei-me, sua mão se recolhendo no mesmo instante. Eu me perguntei se lorde Stretford não teria se dado conta da indecorosidade de seu toque e temi que alguém tivesse notado aquele gesto impróprio.

– Milorde.

Eu lhe prestei uma reverência respeitosa, de forma polida, quase como se não nos conhecêssemos e como se não tivéssemos entrado de braços dados naquele salão horas antes.

Stretford estendeu sua mão, as primeiras notas da valsa de Strauss ressoando. Eu a segurei e ele levou a outra mão as minhas costas, encaixando-a quase perfeitamente. Eu inspirei o ar lentamente para dissimular a consternação que aquele toque me trouxera.

Sincronizados, demos o primeiro passo.

Eu ergui meu queixo, meu olhar alcançando o dele.

– É aqui, em meio à música e a tantos convidados que teremos nossa conversa?

– Não. – Meu amigo respondeu, os olhos verdes detendo toda a atenção em mim. Eles estavam ainda mais impressionantes do que usualmente já eram. Com o reflexo da luz de tantas velas dos lustres espalhados pelo teto, o aro dourado que contornava sua pupila parecia feito de ouro incandescente e o verde esmeralda das irises era mais brilhante e vívido como eu jamais vira.

Quando ele me rodopiou, eu refreei as palavras que estavam prestes a sair de meus lábios.

– Vamos aproveitar a dança, milady. Sem preocupações. – Ele declarou quando o próximo passo me uniu a ele novamente, nossos olhares se reencontrando àquela mínima distância.

Lorde Stretford dançava perfeitamente bem. E tudo em sua imagem naquela noite remetia a um sonho. Seu traje era impecável, seu cabelo dourado reluzia em um penteado que não deixava nenhum fio fora do lugar e ele tinha o porte e a postura de um nobre que era. Admirando-o como se ele fosse a personificação do próprio Adônis, uma verdade foi lançada sobre mim como algo inevitável: Edward Walker era um sonho. Mas para mim, inalcançável.

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