1. Early in the morning.

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De manhã cedo.


    Sirius cresceu no sistema. 

    Passou por cerca de 17 lares adotivos em seus 19 anos de vida, pulando de casa em casa quase todo ano a cada vez que uma família insatisfeita ou um dominador suspeito surgia com interesse e logo o devolvia desde que descobriam o valor precário da pequena pensão de apoio que o Governo disponibilizada para cada tutor em potencial.

    Havia se tornado um ciclo na vida do menino: Ser tirado de uma das instituições em que foi direcionado, passar poucos meses com um tutor diferente em uma tutela temporária e, quando o dinheiro de apoio que o Governo dispunha parava de cair na conta, ele era devolvido.

    A questão era que nenhuma família ou dominador estava realmente interessado nele, não quando conseguir um pouco de dinheiro fácil às custas do Sistema parecia bom demais por um certo tempo. Assim, estavam sempre interessados no dinheiro, mesmo que pouco, e não no garoto de cachos rebeldes e olhos bicolores.

    Cinza e lilás, um espetáculo.

    Ainda que a recusa recorrente de famílias e dominadores em potencial estivesse presente na vida de Sirius, a vivência em todas aquelas instituições às quais passou também não era lá o bônus do garoto. Mesmo que fosse um lar para submissos e órfãos não classificados, sempre tinha um ou outro com tendências agressivas que achava divertido o usar como saco de pancadas.

    E então, Sirius Black (única coisa que sabiam sobre o bebê abandonado era o sobrenome e nunca nem se soube de algum parente) era não só um renegado, mas o saco de pancadas para quem quisesse usar.

    Não é lá um bom início, mas já é meio caminho andado.

[...]

    O som das gaivotas parecia ensurdecedor junto com as ondas fortes que batiam contra seu corpo. A água parecia tão gelada quanto lascas de gelo cortantes que faziam sua pele arder e ele podia sentir o gosto salgado tomar toda sua boca e queimar a garganta quando, de repente, o som sumiu ao ser puxado e jogado para o fundo com a força do mar bravo e revoltado.

    E então ele acordou naquela velha cama desconfortável.

    O relógio redondo e cinza em cima da mesinha de cabeceira simples vibrou num barulho estridente assim que às oito da manhã foi atingida. Uma mão magrela tateou às cegas até encontrar o objeto berrador e, com um tapa agressivo, o calou.

    Duas batidas na porta foram ouvidas.

    — Black! Sai dessa cama, você tem visita. — Sr. March, um dos monitores responsáveis, gritou do corredor. — Ande logo!

    Sirius resmungou, ainda sentindo tremores fantasmas e uma sensação fantasiosa de roupas encharcadas, quanto obrigava o corpo a se erguer e caminhar até o guarda-roupa simples de duas portas grandes e uma gaveta dentro, na parte inferior. Puxou de um dos poucos cabides a melhor blusa que tinha, depois a calça e da gaveta um par de meias.

    Meias furadas, para variar.

    Que cachorrada...

    Bufou, vestindo aquilo. A roupa era apenas um jeans surrado, uma blusa com dois furos na manga esquerda e um par de meias com uma gastura no calcanhar direito e mais malditos furos. Tudo era cinza e sem graça, mas servia.

    Não daria tempo para um banho, o que fez o jovem submisso lamentar e rezar para que os cabelos revoltados, bom, não estivessem tão revoltados hoje. Os fios iam até abaixo do ombro, tão grandes que podia até fazer duas tranças ou um coque alto (raramente o cortavam) e eram escuros demais.

SiriusOnde histórias criam vida. Descubra agora