22. Resilience.

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Resiliência.

    Sirius poderia sim ter entrado bem naquele espaço particular em sua mente, mas, ao contrário do que Remus esperou achar, o menino não parecia nada manso quando chegaram em casa.

    — Ainda acho toda essa coisa totalmente estúpida! Ele foi um cretino.

    Remus observou a ousadia daquele garoto enquanto deixava as chaves penduradas no gancho para chaves próximo a entrada e se livrava do casaco, também o deixando para trás. Os tênis do submisso estavam desleixadamente jogados no hall de entrada e o dominador engoliu a vontade de bufar.

    — E só pode ser brincadeira. — Murmurou, negando desacreditado. — Ainda não consigo entender como você pode pensar pouco sobre agredir alguém, Sirius. Sério.

    — Ele mereceu!

    — Não. Não diga isso. — O menino estava de braços cruzados próximo a escada quando Remus o alcançou, o virando para si e o encarando com severidade. — Pessoas não devem ser agredidas, nunca, e você parece não entender isso.

    Sirius o encarou de forma bem afiada quando disse:

    — Entenderia, se fosse uma pessoa mais resiliente. Mas a vida não me deixou ser e a verdade é dura, Remus. Ter dois livros atirados contra o rosto nunca matou nenhum babaca e ele vai sobreviver.

    E se virou, dando as costas para o dominador quando começou a subir as escadas com passos pesados. Remus ficou para trás, petrificado com a dureza que as palavras de Sirius o atingiram. Porque, não, Sirius não era o tipo de pessoa resiliente, aquele tipo que consegue se adaptar bem às mudanças e aos infortúnios da vida.

    Mas, mais do que a dureza daquilo o atingiu, outra coisa o confundiu.

    — Como assim "dois livros"? — Gritou do pé da escada e mesmo dali de baixo, pôde ouvir os passos de Sirius se apressando e a porta batendo. — SIRIUS!

    O grito estrondou pela casa e Remus podia apostar que o garoto havia encolhido os ombros.

[...]

     A surpresa de não ter Remus a sua procura pelo resto da tarde atingiu Sirius como um canhão. O dominador não foi à sua procura assim que a porta do quarto foi batida e, além do grito que de fato fez seus ombros se encolherem e um dos olhos se apertar em antecipação para a figura furiosa do professor, mais nada aconteceu.

    Por isso, depois de um banho, horas a fio fuçando as redes sociais no celular e uma mensagem deixada para Lily (havia pego o numero dela mais cedo, no colégio), seu interior parecia se revirar estranhamente com a sensação de um peso, como algo solado no fundo do estômago que o fazia se sentir mal consigo mesmo e ele decidiu que aquilo era o bastante.

    Então, Sirius espiou o corredor através de uma fresta da porta. Aparentemente não havia ninguém ali e ele suspirou, considerando seguro esgueirar o corpo para fora do quarto. A porta do quarto de Remus, no fim do corredor, estava fechada e, aguçando a audição, o garoto não ouviu sequer um som vindo de lá.

    Dando de ombros, caminhou como um gato pelo corredor, espiando do topo da escada todo o piso inferior. A sala também estava vazia e a luz da cozinha estava apagada. Estranho.

    Arriscou descer alguns degraus, sempre atento a qualquer movimentação. Lá fora já era fim de tarde e os galhos da grande árvore balançavam fervorosamente com o vento forte do outono. Tudo parecia muito quieto e algo em Sirius estava subindo drasticamente seus níveis de adrenalina.

SiriusOnde histórias criam vida. Descubra agora