11. The affection that frustrates and the kindness that is not always present.

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O carinho que frustra e a bondade que nem sempre está presente.

    Dez minutos no mercado foram o bastante para abrir uma nova perspectiva sobre Remus em Sirius e fazer desaparecer um pouco da irritação presente no café da manhã.

    O submisso pontuou que Remus não era metódico apenas em limpeza ou em fazer curativos, mas também em fazer compras. O pensamento o fez lançar um novo olhar aguçado para o band-aid em seu dedo e em seguida para o carrinho de compras do par.

    Havia uma espécie de padrão ali, com setores de alimentos e cores de embalagens; e Sirius adorou como a visão parecia reconfortante para seus olhos.

    — Você segue um padrão?

    Remus ergueu a cabeça de onde estava; escolhendo entre um pote com quatro pêssegos e outro com três.

    — Algo assim. — Deu de ombros, erguendo ambas as unidades de frutas. — Quatro ou três?

    Sirius pensou um pouco. Ele gostava de pêssegos e até o momento, considerando tudo o que conhecia de Lupin, era de seu entendimento que ele podia comer o que quisesse e quando quisesse. Não havia restrição alimentar para Sirius na casa de Remus. Na casa deles.

    — Quatro. Eu gosto.

    Lupin levou apenas dois segundos para colocar não só o pote com os quatro pêssegos no carrinho, como também os que continham três. Sirius o encarou com uma sobrancelha arqueada e o dominador encolheu os ombros em resposta.

    — Por que me disse para escolher se você planejava levar os dois?

    — Não planejava, mas você disse que gosta.

    E aquilo foi o que mexeu em algo dentro do submisso.

    "Cuidar de você."

    "Cuidar de você."

    "Mas eu me importo."

    "Você disse que gosta."

    Coisas balançaram dentro de Sirius, mexendo com sua cabeça o bastante para o deixar lá parado no corredor com cara de paisagem.

    Remus John Lupin queria cuidar de Sirius; se importava com ele; se importa o bastante para comprar pêssegos a mais apenas porque Sirius disse que gostava.

    "Você disse que gosta."

    Aonde ele queria chegar? Onde aquele dominador estava querendo chegar? Que ponto na cabeça de Sirius ele alcançaria antes de mostrar sua verdadeira natureza dominadora e maldosamente sádica?

    As perguntas o deixavam tonto e a frustração crescia em seu peito, arranhava pelos pulmões e apertava o estômago. Porque Sirius não merecia aquilo, não merecia ser cuidado, ter quem se importasse consigo e muito menos ter pêssegos a mais na geladeira só porquê gostava.

    Ele tinha dezenove anos, quase vinte, e em todos os anos desde seu primeiro lar temporário e seu primeiro dominador, nunca houve alguém que se importasse consigo. O motivo? Ele.

    Mexeram o bastante com sua cabeça para o fazer acreditar pouco de si mesmo.

    Todos que passaram por sua vida foram bons o bastante em o fazer acreditar que Sirius Black era um ótimo brinquedo para foder e alguém que não merecia o menor pingo de afeto, zelo, cuidado e importância.

    — Sirius?

    A voz preocupada de Remus surgiu em seus ouvidos. Um timbre embebido em preocupação que fizeram a visão de Sirius quase ficar turva. As vozes de fundo não ajudavam e bem naquele momento um casal passou por eles. Um submisso com roupas confortável e uma pelúcia na mão parecia fazer bico por querer algumas balinhas e o dominador apenas o tratava com carinho e amor.

    Compreensivo como Remus era consigo. Como ninguém havia sido antes.

    Seria ele algum dia igual aquele submisso? Livre para fazer um biquinho manhoso e ter uma pelúcia para se reconfortar?

    — Encrenca? — Lupin estava em seu campo de visão. Duas bolotas castanhas o encarando com inquietude. — O que há de errado?

    As sobrancelhas do moreno se franziram, os olhos bicolores cobertos por lágrimas finas e o rosto se esquentou com o que parecia rubor, mas era apenas raiva e frustração. Ambos esmagadores devido ao sentimento de enfim estar conseguindo o que lhe foi negado por toda a vida mas, que de alguma forma, não podia ser apreciado devido a desconfiança e medo que o trauma grava na alma de alguém.

    — Nada. — O submisso se afastou, esbarrando em alguém atrás de si antes que Remus pudesse ser rápido o bastante para o puxar para frente novamente. Houve um pedido de desculpas entre seu dominador e o desconhecido, mas a mente de Sirius estava atordoada o suficiente para não compreender perfeitamente. — E-eu... Você... Por que você... Por que... Eu não entendo...

    A frustração crescia dentro de si como um relógio fazendo tique-taque.

    — Sirius, está tudo bem, okay? Respire. — Ele não estava respirando? A voz de Lupin era estupidamente calma e reconfortante, mas agora apenas serviu para o frustrar mais. — Respire, se acalme e-

    — NÃO! — O grito veio do farfalhar do corpo quando Sirius se afastou com brusquidão, a mão de Remus estendida no ar em sua direção. Tinha algumas lágrimas no rosto e a respiração descompassada. Parecia prestes a explodir conforme o rosto ia se tornando cada vez mais corado. O dominador foi avisado sobre isso, sobre as explosões e as frustrações. — EU NÃO QUERO ME ACALMAR!

    — Sirius... — A voz de aviso foi inevitável no tom de Remus e o dominador fazia seu melhor diante da explosão do submisso. — Sem gritos. Se acalme e vamos conversar ou-

    — Ou o quê?! O que o bondoso Remus tem a dizer? — Havia petulância ali. Empurrando um limite que Remus sabia que seria empurrado em algum momento e por isso fechou os olhos ao respirar fundo. Sirius fungou malcriado, chamando sua atenção. — O que você vai fazer que alguém já não tenha feito?

    A cena estava atraindo a atenção das pessoas e Lupin precisava contorna-la rápido enquanto ignorava temporariamente a fala dolorida do menino. Sirius estava perigosamente perto do próprio limite e nem ele mesmo percebia isso.

    — Sirius, pare já de ir por esse caminho. Eu estou avisando...

    Os olhos bicolores estavam desafiadores quando analisou ao redor e percebeu que, bem ao lado do corpo, havia um estante de garrafas de vinho e, movido por seja lá o que fez aquela frustração surgir e aquela birra crescer em uma explosão, o menino aproximou a mão perigosamente de uma das garrafas enquanto encarava o dominador com insolência.

    Os olhos de Remus se arregalaram.

    — Sirius, não ouse... — A mão pálida se moveu em cheio na direção da garrafa, a derrubando e fazendo o vidro quebrar e a bebida avermelhada se espalhar pelo chão. — Não!

    Foi como falar com o vento.

    Mais três vieram ao chão e tiveram o mesmo fim. Alguns dominadores que pararam para ver a cena estavam negando com a cabeça em desaprovação e alguns outros curiosos tinham as mãos sobre a boca, chocados com o cenário naquele corredor.

    — O que você vai dizer agora?

    Remus tinha o rosto sério e encarava o garoto com algo que ele não soube descrever ao receber o olhar. Mas se valia de alguma coisa, o tom que se seguiu fez algo em sua espinha tremer.

    — Acho que tenho muito mais a fazer do que a dizer. — Se aproximou como pôde do garoto, tomando cuidado para não pisar nos cacos de vidro, mesmo que tocar a poça de vinho fosse inevitável. — E você vai ver que a minha bondade não me acompanha sempre, Sirius.

    É, algo tremeu em Sirius e a frustração achou um ótimo momento ir embora agora. A birra, explosão e adrenalina se esvaindo de seu corpo até que se sentisse frio.

    Ele se sentia como uma fogueira que foi apagada por um jato forte de água fria.

    — Remus, e-eu...

    Os olhos de Remus também estavam frios e agora sim ele estava encrencado.

    — Quieto. Não quero ouvir nada até chegarmos em casa.

    Enfim, achou o fim do limite.

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