9. Nightmares that still haunt me

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Pesadelos que ainda me assombram.


    A semana passou corrida e soprada como vento do outono.

    Sirius se tornou cada vez mais confortável com a companhia de Eleonora e isso era bom. Muito bom, na verdade, desde que agora havia mais uma pessoa que gostava de conversar consigo sem qualquer conotação sexual incrementada entre as palavras.

    E depois da situação com o Sr. Finch e a conversa com Remus, as coisas estranhamente não ficaram estranhas para Sirius. Ele ainda tinha uma rotina confortável e Remus ainda era como sempre se mostrou desde que o conhecera.

    Assim, as gravuras de um passado agressivo e abusivo pareciam seguir sendo lavadas pouco a pouco de sua mente, mesmo que a marca de todas as lembranças continuassem gravadas em quem Sirius era e nada pudesse mudar isso.

    Havia fantasmas. Memórias assombrosas que o perseguiam em sonhos escuros e assustadores. Mas, esses pesadelos não surgiam a algum tempo, pelo menos, não até aquele momento.

    Sirius não saberia dizer o que desencadeou aquilo mesmo que tentasse, mas, foi no próximo sábado que se seguiu que tudo aconteceu, voltando como uma tromba d'água depois de semanas.

    No quarto próximo ao topo da escada, com a porta entreaberta, Sirius acordou ofegante e suado. O cabelo preto grudando na pele e o pijama parecia o sufocar, tecidos e mais tecidos se prendendo ao corpo magro. As cobertas pesadas da cama enroscavam em suas pernas e só serviam para o agonizar.

    O coração do menino batia tão forte e alto que ele o sentia na garganta e o escutava no pé do ouvido, como tambores altos e ensurdecedores. Era como se aquele órgão vital estivesse reluzindo seu som por todo o cômodo escuro.

    Havia tido um daqueles pesadelos que não tinha há semanas, daqueles tão realistas que o deixava fora do ar nos primeiros minutos fora da sonolência.

    Um sonho ruim com um apartamento em especial, de um prédio precário em um bairro questionável.

    Nunca por escolha própria Sirius colocaria os pés lá novamente e se fechasse os olhos, ainda podia ver e sentir. Decidiu não explorar demais esses pensamentos em sua mente.

    Suspirando, voltou ao presente quando puxou as cobertas e colocou os pés para fora da cama, membros trêmulos trabalhando com afinco. A noite não estava fria e francamente, nem podia ser catalogada como noite mais. Do lado de fora, o céu tomava para si um tom de azul que começava a mesclar ao rosa e laranja da manhã. Havia neblina também, ele percebeu quando observou pelas portas duplas da sala, já no fim da escada.

    Caminhou até a cozinha, olhando às cegas na penumbra, em busca de água e, com esperança, algo que o fizesse voltar a dormir. Se sentia turvo, um pouco alto em sua cabeça.

    Sirius não era alguém silencioso durante a maior parte do tempo e em quase todas as suas ações e fazeres. No entanto, ele bem sabia agir como um ratinho silencioso e imperceptível quando queria. Anos crueis forçando-o a se aliar ao silêncio.

    Ele só não esperava que Remus também estivesse acordado e conseguisse ser tão silencioso quanto ele.

    — Sirius?

    A voz rouca naquele silêncio fez o submisso se assustar e derrubar o copo que havia pego da pia. O vidro bateu no chão em um barulho agudo, assim como o som mais baixo de todos os fragmentos se espalhando com a quebra da louça.

    Em dias normais, situações diferentes, Sirius não se assustaria com aquilo. Não mesmo.

    Mas aqui, depois de um pesadelo como aqueles, onde tudo naquele sonho ruim não poderia ser chamado de irreal, já que se tratava de uma lembrança dolorida, o menino se via frente a frente com o medo que ainda assolava seus ossos, músculos e alma. Rastejava por sua pele e se infiltrava como uma sombra.

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