23. Understanding the situation.

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Entendendo a situação.

    A parede do escritório naquele canto em específico parecia particularmente tedioso na opinião de Sirius. Remus havia mexido na cor das paredes daquele único cômodo nas últimas semanas e, o que antes era branco cru, agora estava coberto por um belo cinza gelo.

    Mas mesmo a cor bonita, não amenizava a sensação de tédio que corrompia a mente de Sirius, o fazendo bufar e balançar minimamente o corpo, a testa apoiada contra a parede fria. Ele não conseguia entender onde aquilo poderia dar; com o nariz na parede como uma criança pequena demais que foi pega comendo biscoitos antes do jantar.

    Era patético, mas Remus havia mandado e, em um lugar discreto de seu cérebro, Sirius ainda estava inclinado a fazer os gostos e agrados do dominador, visando sua satisfação mesmo que o efeito disso estivesse um pouco mais mínimo agora do que mais cedo.

    — Eu tenho quase certeza que as aulas básicas daquela instituição, por mais precária possível, ensinou submissos o básico sobre a Postura e Código de Conduta para Submissos. — A voz de Remus o fez pular pela segunda vez naquele dia. — E não sei como ficar com os ombros caídos, coluna torta e testa contra a parede se encaixa em uma postura adequada. — Quando passou por Sirius, a única indicação que o submisso teve disso foram os passos que pareciam cada vez mais próximos contra a madeira do chão, o dominador deixou um tapa forte contra a bunda do garoto. — Endireite a postura, Padfoot.

    — Ei! Achei que não ia esquentar minha bunda! — Reclamou, mas se aprumou todo como um passarinho se equilibrando no galho de uma árvore. — Quando vou sair daqui?

    Ignorou a pergunta do garoto, o questionando.

    — Acha que está em posição de reclamar?

    — Acho que quero saber quando vou sair daqui!

    Remus o encarou e o menino era impossível. Podia ser um doce, completamente grudento e amoroso, mas tinha um gênio extremamente forte e sabia mostrar bem quando achava que estava certo. Aparentemente hoje era um daqueles momentos.

    O professor andou até sua mesa, contornando-a até estar acomodado contra a cadeira macia e puxou algumas coisas para seu alcance. Abriu o computador, pegou uma caneta e começou a analisar alguns planos de aulas. Vez ou outra fazia anotações em uma caderneta, muito pouco interessado no menino travesso no canto ao lado de sua estante de livros.

    Mas a voz de Sirius rompeu o silêncio do escritório de novo.

    — Quando vai me tirar daqui?

    — Não sei. — Se fez de desentendido, virando a página de um dos livros que estava usando para ensinar o módulo atual em suas aulas e pegou os óculos de leitura, os colocando no rosto para ler melhor. — Já conseguiu achar alguma razão e clareza no quão errado, rude e totalmente vergonhoso foi seu comportamento? Já mencionei que foi errado?

    Um bufo deixou os lábios de Sirius.

    — Isso é ridículo! Eu apenas me defendi!

    — É, foi o que pensei. — Voltou a atenção às suas coisas, revezando entre anotar na caderneta, ler o módulo e digitar com alguma constância no computador, o barulho do teclado reverberando pelo silêncio do escritório. — Nós temos boas horas aqui até você decidir usar esse tempo para alinhar os pensamentos e me mostrar seu arrependimento.

    O menino choramingou, apertando os olhos quando tomou coragem para dizer, a voz saindo baixa em uma medida quase imperceptível.

    — Você não pode simplesmente me tirar daqui, esquentar minha bunda e seguirmos com a vida?

    Remus largou a caneta, tomado pelo quão intrigante aquilo soou saindo da boca de Sirius.

    — E você saberia me dizer o porquê de eu estar punindo você?

    Sirius arriscou uma olhadela na direção de Remus e se arrependeu na mesma hora. O homem estava equilibrado entre o perigo severo e a deliciosa atração com aquele rosto sério e os óculos de armação fina e preta na ponta do nariz. Imediatamente ele olhou para a parede novamente. Porque aquilo não deveria ter mexido consigo, mas mexeu e de um jeito que ele não esperava.

    — Ainda acho que é ridículo. — Foi sincero em suas palavras. — Ele foi muito escroto comigo e com a Lily! E aposto que ele não está parado em um canto igual a uma criança!

    Remus suspirou, ajeitando os óculos no rosto e jogando novamente a atenção para os papéis.

    — Use esse tempo para pensar, Sirius. Claramente ainda não chegamos a algum lugar. E, por favor, fique quieto e com essa língua controlada, você já tem problemas demais.

[..]

    Remus estava realmente surpreso com a veemência do garoto. Sirius, no entanto, tinha pernas formigando, coluna com incômodo e ombros quase dormentes depois de quase duas horas ali. O submisso agradecia por pelo menos poder acompanhar o tempo através do relógio de ponteiros na parede.

    Mas, depois de duas horas, realmente havia algum resultado.

    Com o passar do tempo, minuto após minuto, a cabeça de Sirius começava a se inclinar para uma ideia diferente em relação à situação passada. Com uma linha de pensamentos em uma mudança de um lado para o outro, o submisso começou a, de fato, ver como o dominador tinha um ponto de clareza considerável ali.

    Ele teria que admitir sim que atingir alguém com algo não era uma coisa boa de se fazer e, por mais estúpido que Peter poderia ter se mostrado, realmente não foi certo fazê-lo sangrar. Não por achar que o garoto não merecesse, pois isso Sirius não mudaria de ideia. Ele havia sido rude e merecia cada gota de sangue e dor que externou e recebeu, respectivamente. Mas, agredi-lo só fez pouco por Sirius, dando às outras pessoas uma ideia falsa de si.

    Fazendo parecer que ele era um submisso sem disciplina e agressivo. E ele não era isso; não depois de Remus, o dominador sempre tentando o manter na linha.

    Então, apesar de não se arrepender de ter visto todo o vislumbre de dor que assolou a feição de Peter, Sirius se arrependia de ter feito o que fez e de alguma forma de ter desapontado Remus.

    — Moony? — A voz veio chorosa e Remus largou o livro que lia, o fechando e o deixando sobre a mesa.

    — Sim, Padfoot?

    O submisso quase choramingou com o apelido que o dominador só usava quando ele se metia em problemas. Ele não queria mais estar em problemas. Não queria ser chamado de Padfoot. Queria abraços de Remus, beijos e todos os "amor" e "querido" que sempre deixavam a boca do homem e eram direcionados apenas a ele.

    — Posso sair, por favor?

    — Você achou alguma clareza?

    — Sim, senhor. Não devia ter atirado aquele livro, ter machucado Peter e ter sido totalmente desagradável e rude com você. — A voz estava tão chorosa e molhada de lágrimas frescas que Remus suspirou resignado. — Desculpe, Moony... Posso sair? Por favor...

    O menino estava choroso e manso, parecia ter encontrado de fato alguma clareza em seus pensamentos e má ações, então, quem seria Remus se o mantivesse ali por mais tempo? Um dominador malvado e isso ele não era.

SiriusOnde histórias criam vida. Descubra agora