13. What the eyes see and the heart feels.

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O que os olhos vêem e o coração sente.


    O primeiro tapa caiu firme contra a pele do submisso e tudo o que ele fez foi morder o lábio para conter o gemido de dor devido a ardência instantânea. Sirius era bem pouco resistente à dor; na verdade, o garoto não tinha resistência alguma.

    Idiota foi a pessoa que colocou em sua ficha que ele era masoquista.

    Por isso, aquele primeiro tapa que veio em silêncio, junto de mais três seguidos, o fizeram sibilar em lamentação contida e se concentrar o máximo possível para não fazer barulho algum diante sua punição.

    Normalmente, os dominadores não gostavam de submissos barulhentos quando estes estavam sendo corrigidos. Todo aquele tradicionalismo sobre aceitar as consequências de seus erros e ser grato por ter como arrumá-los.

    E Sirius tentou seu melhor para ser tão quieto quanto podia, mas, logo o incômodo ardente passou a ser uma dor latejante que fizeram os olhos singulares e bonitos se encherem com lágrimas grossas e sentidas. As mãos pálidas se apertando em punhos tão fortes que as juntas dos dedos começaram a ficar esbranquiçadas e as pequenas unhas se afundavam contra a pele das palmas das mãos.

    Remus John Lupin tinha uma mão realmente pesada.

    E em meio a isso, em sua cabeça confusa e na névoa de dor que nublou sua mente, Sirius conseguiu notar que Remus era silencioso. Não havia palestras de repreensão, insultos ou frases do quão decepcionado e ruim Sirius era. Não havia nada, apenas o som incessante da mão de Remus caindo contra sua pele em uma espécie de sequência que parecia mudar sempre que Sirius estava perto de descobrir a repetição.

    E de certo modo, isso acalmou um pouco aquele monstro ruim que rondava o interior de Sirius, pronto para cravar as garras da ansiedade em seus pulmões e coração ingênuo. Mesmo que a troca de sequência mudasse com constância, não deixando algo para o menino se concentrar, o silêncio ainda era muito bom.

    Quando outro tapa atingiu sua pele quente, aparentemente mais forte do que os anteriores e foi seguido por mais uma sequência na mesma intensidade que a atual, Sirius não conseguiu conter o grito nem mesmo mordendo o lábio inferior, forte o suficiente para sentir o gosto de sangue.

    — REMUS! — Gritou sem se segurar, desespero pingando de cada letra e fazendo o corpo tremer. Medo se infiltrou em sua pele e percorreu seus ossos como gelo seco; doloroso. — SENHOR! S-SENHOR! POR FAVOR! DESCULPE!

    Soluços escorreram para fora da garganta, encheram o escritório e fizeram o corpo pequeno de Sirius chacoalhar. Lutou contra a vontade de jogar as mãos para trás e cobrir seu pobre bumbum avermelhado, quente e dolorido, mas, não lutou mais contra as lágrimas.

    Não podia, não quando a dor só aumentava e os soluços já haviam tomado conta de si, o choro era irreversível agora e Sirius se viu lamentando em seu próprio coraçãozinho, chegando até mesmo a bater as pernas uma ou duas vezes.

    E Remus? O dominador se viu de cenho franzido para a visão de seu garotinho.

    Sirius tremia tanto e chorava alto como se tivesse acabado de perder algum membro. Os soluços consumiam a respiração do mais novo em um nível preocupante para Lupin e, como se a visão daquilo junto às nádegas avermelhadas já não fosse de dar dó, o dominador se viu com o coração apertado ao ver que o submisso estava tão preso em seu pânico que não havia notado que os tapas haviam parado.

    Os tapas mal passavam da sensação de calor e ardência incômoda em sua pele, Remus tomou o cuidado de ser bem moderado, mas o menino gritava como se cada um daqueles golpes fossem fortes o bastante para fazer até mesmo a mão do dominador formigar.

    Pobre garoto, continuava implorando por clemência e se desculpando... Quão grave feriram o corpo, mente e alma daquela preciosidade? Remus John Lupin se viu questionando a si mesmo por alguns segundos.

    Parecia que quanto mais cavava aquele buraco, mais coisa encontrava a respeito de Sirius Black.

    — Pobre garotinho... — Suspirou, a voz saindo baixa e abafada pelo choro alto do menino. John o puxou dos joelhos com cuidado quando começou a deixá-lo de pé em sua frente. — Shh... Shh... Acabou agora, querido. Acabou. Se acalme, Six.

    Com Sirius já sobre os próprios pés, entre os joelhos de Remus, o mais velho passou a mão grande pelo rosto pequeno, agora todo corado e molhado pelo choro.

    — E-eu e-e-

    — Shh... — Secou mais algumas lágrimas, mesmo que fosse inútil quando muitas mais caiam com frequência absurda. O menino se calou. — Está tudo bem. Shh... Você foi punido e eu não estou bravo, querido, tente se acalmar um pouco.

    E não houve efeito algum.

    Remus percebeu que o menino pareceu chorar ainda mais, mudando disfarçadamente o peso de um pé para o outro e ganhando uma porcentagem ainda maior de inquietação ao corpo. O dominador suspirou pela centésima vez.

    Suspirou mesmo quando algo dentro de si, em seu coração, pareceu congelar em tristeza e dó daquele garoto à sua frente. Seu senso de proteção, um lado quase primitivo em sua biologia, parecia um animal inquieto diante ao som do choro inconsolável.

    Lupin não pode fazer nada a não ser puxar o menino para si, o abraçando com cuidado ao esperar uma recusa e um afastamento, como os arquivos informavam que Sirius era; um submisso pouco tolerante para contato físico (o que era MUITO incomum na biologia de um submisso). No entanto, tudo o que o submisso fez foi se agarrar ao dominador depois de poucos segundos parado sem reação; bastou apenas um pouco para o garoto se agarrar ao homem como se ele fosse sua salvação.

    De certa maneira, Remus John Lupin poderia não saber ainda, mas para Sirius Black, o bebê que foi abandonado sem remorso e passando de mão em mão sem peso em cada uma daquelas consciências, ele era como um baluarte seguro onde muros reconfortantes e protetores pareciam crescer cada dia mais, sempre pronto para o proteger de qualquer coisa que o ameaçasse.

SiriusOnde histórias criam vida. Descubra agora