5. Cecília e Seus Dedos Fatais

1 0 0
                                    

Agora, caro amigo, amiga, que cuidadosamente afaga esta página de livro, desconsidere o álcool

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Agora, caro amigo, amiga, que cuidadosamente afaga esta página de livro, desconsidere o álcool. Sou metaleira desde os meus quinze anos, mas não fazia questão de esboçar rótulos. Embora minha mãe tivesse um bom coração, não gostava das serpentes do álbum The Phantom Agony do Epica, nem da vocalista da banda seminua no álbum The Divine Conspiracy. Barulho, dizia ela. Ledo engano.

Aliás, desconsidere Cecília e seus dedos fatais. É que ela se parecia muito com a versão mais jovem da Simone Simons, lindíssima, que hoje está muito bem preservada com seus cinquenta e cinco anos, a vocalista da minha banda preferida, o Epica. Mas dava de dez a zero na tal da Simons — cantava todo o tipo de voz de metal e ainda tocava guitarra — riffs e solos de matar.

De primeiro momento, eu vi a música e, em segunda instância, esse pormenor. Algo nela era muito magnético a mim. E não, não pense o óbvio, que Saleiro estava certo, e eu tinha criado um crush por ela. Tenha certeza disso. O que estava completamente errado para mim, pois Samanta era meu verdadeiro amor, e ninguém podia ser mais bonito, atraente, sexy, quente ou um possível pretendente. Não! Eu também resolvia os problemas de libido sozinha desde os quinze e estava acostumada a ser punheteira virjona aos quarenta e um anos.

Todos os meus momentos de prazer eram dedicados à Samanta, e isso era satisfatório para mim. Desde os dezenove anos, censurei minha sexualidade e estreitei-a à única sortuda, a Samanta. Minha querida mártir DarkLady.75. Eu era demasiada romântica, ultrarromântica das mais piegas, e o que podia fazer senão seguir o curso da minha natureza?

Ademais, uma grande risada. Que tipo de mocinha de vinte anos talentosa iria querer algo com uma velha de quarenta e um, ressentida, fumante e beberrona? Uma crush bem irreal, pois então, pensei eu, aliviada pela culpa de ter achado sua boca muito linda.

Mas agora lá vai uma dica da respeitável Juliana de alguns anos mais adiante: não seja assim, todo bitolado em amores como eu era. O ser humano não é tão monogâmico assim. É natural que achemos centenas de pessoas bonitas durante a vida, que beijemos dezenas, transemos com umas seis ou sete, ou até mais. O Homem é um ser sexual, abençoado por essa dádiva. Mas não procure seu companheiro/a como se devesse acertar de primeira. Não se obceque em nada. De que adianta ser uma freira sem véu? Ficar passando vontade à toa? Por vezes, seguindo preceitos religiosos ultrapassados? Claro que não, isso é piada. Quantas pessoas acha que não flertaram comigo depois de Samanta, nos arredores de Lisboa?

Mas eu era uma carcaça fria e imunda. O meu caso era um trauma, que tanto vivia de porém. Nada era justificativa. Se a culpa pela morte de Samanta era minha, eu deveria arcar e viver com aquele carma. All you do in life comes back to you. Será?

Naquela noite me deitei em minha cama para dormir depois de uma longa, longa noite no Black House assistindo Cecília. E a cama pegou
fogo. 

 

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Café Amargo 2 - O Reencontro (Duologia Cafés Parte 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora