19. Fatalidade de Cecília

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Na semana seguinte a festa, Cecília me mandou mensagem, pondo fim a minha ansiedade desmedida, que eu descarregava no cigarro dia a dia

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Na semana seguinte a festa, Cecília me mandou mensagem, pondo fim a minha ansiedade desmedida, que eu descarregava no cigarro dia a dia. O cigarro... Fumar é tão gostoso! A fumaça que entra pela boca, atravessa os pulmões e volta com sabor de fogo e tabaco... Ah, como é uma delícia fumar! É uma dependência da qual não consigo me livrar até hoje. Mesmo que a Juliana autora morra de derrame, ela é viciada num clássico Marlboro laranja que não conseguiu largar mesmo depois da fatalidade que este melodrama narrará. Porque, afinal, todos temos os nossos vícios, e o meu é o cigarro, a inspiração da minha literatura. Enquanto escrevo, tem três tocos à minha esquerda, e uma xícara de café. Sim, eu voltei a beber café! Pois como não apreciar a misteriosa bebida sublime?

E, bem, tornando ao assunto, quando Cecília na quarta-feira me mandou mensagem, eu estava faxinando o apartamento, que vivia em estado de lamento. Nunca tinha me dado conta da quantidade de latas de cerveja vazias perdidas pelo apartamento, do chão encardido e do banheiro fedorento. E os tocos de cigarro espalhados pelos cinzeiros da sala e do quarto? Credo, eu não acredito em como conseguia viver naquele chiqueiro antes de Cecília. Até lavar a roupa de cama precisei, de tão encardida que estava! Ao menos não encontrei comida estragada na geladeira...

Cecília: Boa noite, como vais, Juliana? Estou a mandar-te mensagem para falarmos sobre as aulas de guitarra. Tens disponibilidade às sextas de noite, às 20h?

Mesmo se não o tivesse, teria. Com as mãos flamejando desejo, e não necessariamente pela guitarra, respondi no mesmo instante:

Juliana: Claro! Sou toda para suas aulas. Quando começamos? Estou ansiosa!

Samanta: Depois de amanhã. Tens alguma noção de como funciona o braço de uma guitarra?

Juliana: Para te confessar, não sei fazer um acorde sequer. Só sei que tem que fazer uns malabarismos com os dedos, e o som saí.

Samanta: "Malabarismos com os dedos" ... Morri de rir com esta! Então vamos começar do básico. Teu primeiro acorde vai ser um mi menor. Cuida que tens de fazer força para o som sair. Não é como digitar no telemóvel.

Juliana: Confio em você. Vou ser a Juliana dos dedos fatais!

Cecília: Cuida, que eu demorei dez anos para ser a "Cecília dos dedos fatais". A propósito, é um apelido fofo e fixe!

Ai de mim se ela soubesse que não tinha nada de "fofo e fixe" na malícia desse apelido.

Juliana: Se você tiver paciência em me ensinar, daqui dez anos também serei.

Cecília: E se tiveres disciplina, senão nunca aprendes.

Juliana: Nossa, que professora brava eu tenho!

Cecilia: Tu és uma piada, Juliana! Sossega-te, só pego no teu pé se não praticares.

Juliana: Vou sim praticar, fique tranquila Srta. Cecília dos dedos fatais. Então começamos depois de amanhã.

Cecília: Sim. Até lá!

A essa altura, a faxina finalmente estava pronta, e eu jantando. Nunca tinha me sentido tão radiante há anos. O resto do almoço — macarrão com carne e brócolis — nunca esteve tão saboroso e bem temperado. Dessa forma, meu patrão iria me dar aumento no Bom Tempero! O fato é que uma paixão tem o poder de construir ao nível das alturas. Igual, como narrará esse melodrama, de avassalar e transformar em ruínas. Mas tomo cuidado para falar disso ainda, pois estamos num momento de descobertas felizes na trama. Mas já aviso, nem tudo são flores. A adorada roseira também tinha espinhos.

Sem nada de importante, numa altura das dez da noite, eu não tinha muito o que fazer senão dormir e descansar da faxina intensa. Deitei-me na cama perfumada pelos lençóis limpos, sorri como boba para o teto, relembrando-me das duas vezes em que abracei e fui abraçada por Cecília no dia da festa de Saleiro. Senti uma vertigem quando me lembrei do toque em seus dedos calejados e fatais. Meu coração começou a pulsar mais rápido, ansioso, e eu senti uma coisa que não sentia há tempos: tesão. E, principalmente, tesão por alguém vivo.

Das últimas dezenas de vezes que eu forçava uma memória sexual, acabava com o mesmo cenário: o tapete sujo de café, a xícara estilhaçada e Samanta morta, pálida, jogada no chão. Essa era a única memória física que eu tinha dela — no caixão, depois na lápide. Uma memória da nossa não relação sexual, dos não beijos, do não namoro que tivemos. A masturbação, quando existia, era sempre vazia e melancólica, e eu mais sentia angústia do que prazer. Era um gozo triste.

Contudo, dessa vez, eu me sentia como se ainda fosse jovem, cheia de hormônios e alegrias. Eu não via mais nenhum rosto pálido e morto, mas sim um corado e cheio de vida, um corpo sadio e quente que me abraçara em retribuição ao desenho, dedos ágeis que pulsavam êxtase! E eu não via culpa nisso; pelo contrário, sentia minha mãe, em meu interior, dizendo para que eu fosse em frente. Samanta era Cecília e Cecília, Samanta; no entanto a versão que estava destinada a mim, não o cadáver.

Por que está demorando tanto para começar?

Ouvi um murmúrio do espírito de Anastácia, e senti um arrepio na espinha. Queria que fosse diferente de tudo que já tinha feito, então resolvi me despir do pijama. Levantei-me da cama, tirei peça por peça lentamente, até sobrar só a calcinha. Apalpei meus seios medianos, e senti o toque macio da minha pele. Imaginei Cecília fazendo aquilo, então me senti em chamas. Desci mais abaixo, acariciei meu tronco, a pele escura um pouco flácida pela idade, e era como se Cecília me enchesse as estrias de beijos. Abracei-me por alguns segundos, imaginando o contato dos corpos nus. Enfiei a mão para dentro da calcinha, senti o tufo de pelos encaracolados que enegreciam ainda mais minha intimidade.

Retirei a calcinha, perna por perna, bem devagar, aproveitando a sensação da situação imaginária. Voltei a me deitar. Eu estava em chamas, incendiada pela fatalidade de uma Cecília inventada. Amaciei meu clitóris com a mão direita, bem devagar, e suspirei profundo — aquela não era minha mão, mas sim a de Cecília. Senti minha fenda lubrificada, e o prazer começou, que pulsava junto ao coração, disparado. Fechei os olhos, imaginei a cena mais uma vez, uma Cecília nua e sadia com seus dedos fatais estimulando ritmicamente meu clitóris.

Não pude tardar mais, pois minha vagina também implorava pelos "dedos de Cecília" — e introduzi meu dedo médio em movimentos de vai e vem. Eu estava tão molhada que a combinação rítmica dos estímulos me deixou extasiada, ofegante e em delírio. Aquilo estava tão delicioso, eu não queria que terminasse nunca! Mas meu corpo implorava pelo ápice, então acelerei meus movimentos. Comecei a sentir minha vagina pulsando, era a preparação para o orgasmo. E foram muitos, frenéticos, até que o último, de maior duração e explosivo, arrebatou todos os meus sentidos.

Então veio a ressaca gostosa — a sensação de ter possuído Cecília. Era incrível como tinha sido meu melhor prazer solitário de até então. Coisa deliciosa que era voltar à ativa! Senti-me como nunca, nem mesmo na adolescência. Fiquei tão preguiçosamente regozijada que dormi do jeito que ali estava: pelada. Mal podia esperar para experimentar tudo aquilo com a querida dona da
fatalidade da noite.

 Mal podia esperar para experimentar tudo aquilo com a querida dona da fatalidade da noite

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