Andei depressa até meu celular fomentada pelas palavras de Saleiro. Abri o buscador e digitei velozmente o nome que me fazia pulsar mais rápido o coração: Cecília Braga Nunes. Muitas informações apareceram a respeito dela. Era um tipo mais ou menos conhecido em Lisboa.
Encontrei várias fotos dela tocando e cantando, com amigos e clientes, sempre linda, e o enorme sorriso. Vi vídeos gravados por ela mesma em seu canal de YouTube, covers e músicas autorais, que me despertaram uma fera interior. Mas, sem mais delongas, encontrei seu Facebook de artista, consideravelmente curtido. Descobri que, além de ser uma contratada do Black House, trabalhava com free-lancer. Um número digitado num telefone e algum dinheiro voando traria Cecília à sua festa.
Mas algo me preocupou: Cecília tinha nome. Quantas bocas já não haveriam passado pela dela? Não parecia real que Saleiro tivesse usado personagens de um romance para dizer que eu tinha alguma chance real com ela. Não que fosse feia quando me arrumava e me esquecia da cerveja, mas eu já estava fora do ponto para uma picanha suculenta como Cecília.
Bem, hipoteticamente era o que eu achava nessa época. Mas tudo se resume a aparência? A Juliana autora diz que não. Ela diz que a conquista é o suor, a opinião e a empatia. Também, a tatuagem que fez na costela direita:
Humildade
Concentração
Personalidade
Sacrifício
Trabalho
Ambição
O impossível é uma questão de tempo e escolha. Passe sua vida no foco que o tiro acerta. Olhe a variedade do mundo! Ademais, depois de ver um cão transando com uma gata em frente a calçada do meu prédio descobri que até o amor animal é bizarro. Estereótipo uma ova! A vida é uma combinação de ingredientes estranhos. Não tente entender tanto, try to unlearn all that you've learn, try to listen to your heart.
Debrucei-me sobre a mesa da cozinha e engoli desesperadamente em seco — eu estava viciada. As feições de Cecília me intoxicavam. Por que ela tinha que ser tão bonita? Um rosto de variações do fofo ao extremamente sexy, parecia improvável encontrar outra Cecília no mundo, pois ela era uma mulher muito marcante e visual.
Em mil anos, eu nem sei como fui me apaixonar por Samanta, devido seu mau hábito de esconder o rosto na internet. Mas estava pilhada por um corpinho tenro que eu não merecia. Confesso, há várias formas de amar, mas preferia a de Samanta — o frio e baixo contato visual e carnal, a longitude, o considerável anonimato. O amor me assustava e me fazia escorregar para pântanos desconhecidos e amedrontadores. Isso era um caos. Já naquela altura, não era como ter uma paixonite por Patrício e contar para as amigas da escola. Envolvia sentimentos adultos. Eu tinha parado meu amor mental aos dezenove anos. Daqui não sabia como reagir. E tinha aquilo...
Eu não sabia nada sobre sexo real. Era virgem aos quarenta e um, por desejo próprio. Não de boca, claro, mas de virgindade em si, ninguém nunca havia tocado minha intimidade. Se calhar, nem confiar na minha habilidade de beijar eu podia. Fazia tantos anos que eu não beijava...
Sabe, vou contar uma história bem divertida para você — é dos tempos da escola. Vire a página para descobri-la.
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Café Amargo 2 - O Reencontro (Duologia Cafés Parte 2)
RomanceO ano é 2040. Depois da morte de Samanta, Juliana se vê perdida em uma vida infeliz. Muitos anos depois da fatídica morte, as lembranças do passado ainda assolam sua mente, e ela passa a beber e fumar em troca de se esquecer de suas mazelas. No enta...