18. Precisamos Falar Sobre as Aulas de Guitarra

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O restante da festa foi um divertimento geral

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O restante da festa foi um divertimento geral. Cecília voltou a tocar e cantar animadamente, e como a setlist era diversificada, algumas músicas eram bem dançantes para um metaleiro. Como já havia bebido algumas a mais, comecei a dançar e cantar próxima ao palco, extasiada pelo sucesso da noite — as aulas de guitarra, pretexto para ter Cecília próxima de mim. Desavergonhada, eu dançava, cantava e fazia guturais sem se dar conta de que todos estavam observando meu comportamento festivo, inclusive Cecília, que muitas vezes sorria de volta, simpatizada pelo efeito que tinha causado em mim.

Quando Saleiro se deu conta que eu estava totalmente bêbada e dançando próxima a Cecília, ele se aproximou de mim.

— Que aconteceste? — Tocou meu ombro, tirando-me da minha cantoria. — Tu e Cecília conversaram e rolou algo? — Sorriu maliciosamente.

Olhei-o entorpecida, agi como alcoólatra, como é óbvio:

— Meu amigão, você não tem noção mesmo! — E abracei-o, segredando baixinho. — Vou ser guitarrista, das mais profissionais, melhor do qualquer um desses chinfrins de hoje em dia. Minha professora será Cecília, a soberana!

Saleiro ficou embasbacado e achei engraçado, rindo.

— Explica melhor isto, não entendi! — respondeu ele, rindo também.

— Depois de dar o desenho para a mulher mais linda de todos os tempos — e abri os braços e rodopiei para enfatizá-lo —, ela quis retribuir à minha arte. — Sorri. — Então combinamos que ela será minha professora de guitarra por €50 mensais. Vou até parar de fumar por ela! — Saleiro vibrou, mas gargalhou com meu comentário sobre cigarro. Tinha certeza de que não.

— Fico feliz por ti, mas ela beijou-te?

— Não, mas me abraçou por causa do desenho. Um beijo não teria sido melhor! — E eu me abracei e comecei a dançar junto com a música I Want to Break Free que Cecília executava.

— Claro, claro... — Saleiro fingiu que acreditou e riu, feliz por me ver feliz e apaixonada. — Só cuida para não a assustares com tuas maneiras. Precisamos de conquistar antes de namorar antes e casar, não te esqueças!

E assim a festa desenrolou-se. Ao final, cheia de alegria e adrenalina, busquei por Cecília novamente, pois precisávamos falar sobre como seriam as aulas de guitarra. Por causa do álcool, eu me sentia segura. Encontrei-a perto da piscina, junto a equipe de montagem, guardando seu equipamento. Endireitei a postura, respirei fundo, cheguei até ela com um ar sisudo para parecer sensual.

— E aí, Cecília, o setlist te deu muito trabalho hoje? — Sorri, como dando a entender que era a culpada pelas músicas.

— Confesso-te que quase não aceitei o programa do Manuel Saleiro por causa do setlist. Mulher, teu gosto é refinado demais, olha a situação da minha mão! — Cecília me mostrou seus dedos cheios de marcas e calos, e eu peguei na sua mão, inebriada, tocando na aspereza das pontas dos dedos cuidadosamente. — Nunca mais que pego um trabalho destes, mesmo que o patrão seja tão generoso como Saleiro. Fiz tanta ópera e gutural que minha voz mal sai!

Confesso que fiquei morrendo de pena com o que fiz com Cecília acidentalmente. Para alegrá-la, e dizendo a verdade, revelei-a:

— Mas foi a melhor festa da minha vida! Você estava tão bonita tocando no palco e seu talento me arrebatou. Dancei e cantei a noite toda. A Cecília dos dedos fatais! Se você for tão boa professora como guitarrista, vai criar uma inimiga do mundo do metal.

— Inimiga não... És talentosa como vocalista, daríamos um bom dueto. — E automaticamente eu quis acreditar que aquilo foi uma cantada.

— Falando em duetos, precisamos falar sobre as aulas de guitarra. Com que frequência e onde você vai me ensinar. Aliás, eu nunca tive uma guitarra, não sei mexer com parte elétrica. Como vou praticar? — questionei, demonstrando que realmente estava interessada nas aulas dela.

— As aulas eu posso dar-te na tua casa, se não te importares. Quanto a guitarra, nas aulas eu trago uma das minhas reservas, e uma caixa de som simples, mas para praticar, eu recomendo um violão por enquanto. Não precisa de ter captação, mas para te acostumares com a aspereza das cordas da guitarra, deves comprar um violão de corda de aço. — E enquanto ela falava, eu fazia apontamentos mentais. — Eu particularmente prefiro as guitarras de cabo mais fino, mas é questão de gostar. Quando fores comprar teu violão, vê o que preferes, daí trago guitarras adequadas ao teu gosto. E não te esqueças da palheta, que é muito importante. Eu gosto das mais flexíveis, aconselho a começares por elas. Compra umas três ou quatro, são bem baratinhas e estragam logo. A propósito, passa-me o teu endereço e teu número de telemóvel. Vou mandar-te um olá.

Quando caí em mim, percebi que tinha acertado o tiro no centro alvo. Sorri inconscientemente enquanto lhe dava meu número. Trocar celulares era sinal de que Cecília e eu podíamos ficar mais íntimas. A única coisa que me preocupou foi a casa. Meu apartamento vivia um chiqueiro e eu precisava limpá-lo urgentemente se não quisesse parecer uma mulher falida para o amor da minha vida.

Assim que expliquei onde morava, Cecília completou:

— Quando eu tiver disponibilidade para nossa primeira aula, mando-te mensagem, mas não passa da semana que vem. As aulas vão ser semanais — E completou, dessa vez um pouco tensa. — Mas tu és literalmente a minha primeira aluna, então não te chateias com minha falta de didática. Só estou a fazer isto por ti! — Sorriu, envergonhada.

Outro tiro certo, e eu estava nas nuvens. Queria poder beijá-la naquele mesmo instante, contudo sabia que não podia. Segurei-me, limitando-me a dizer, inebriada:

— Poxa, assim eu me sinto especial! — E a abracei em sinal de agradecimento, sentindo o calor daquele corpo matéria da perfeição. — Tenho certeza que serei a Juliana dos dedos fatais também! — Voando no mais alto dos céus, desvencilhei-a. Senti que ela tinha gostado daquilo.

— Então até nossa primeira aula! — Cecília fez os chifres do metal com as mãos, e eu fiz de volta, indo até a direção da varanda, onde, como me havia dado conta, Saleiro estava nos observando de camarote.

Fomos andando até o portão da edícula e lá estava Helena, que também soube das novidades e ficou feliz. Como já passava das três da manhã e a festa havia acabado, subimos no seu Jaguar e fomos embora já que eu sempre pegava carona com ele para as voltas dos nossos passeios. Saleiro parecia orgulhoso de mim, e conversamos todos animadamente pelo percurso até meu apartamento sobre a festa e Cecília. Quando eles me deixaram no meu prédio, Saleiro apenas me disse:

— É tão melhor viver paixões reais, não é mesmo Juliana? — E me deu uma piscadela.

— Samanta não está morta, apenas vive em Cecília — expliquei de uma forma abstrata o que minha mãe havia dito no sonho.

— Acredita no que quiseres, mas desfruta da vida! Fizeste um óptimo trabalho hoje.

Fizeste um óptimo trabalho hoje....

A sentença ecoou na minha mente, com a voz de Anastácia. Ela também o dizia, mas da sua maneira, e eu fiquei realizada com a confirmação.

Sim, eu fiz um óptimo trabalho hoje, mãe!

Sim, eu fiz um óptimo trabalho hoje, mãe!

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