1. Consequências Pós-Café

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Admito que me tornei um trapo humano depois da morte de Samanta

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Admito que me tornei um trapo humano depois da morte de Samanta. Tudo o que eu mais amava se havia ido — minha mãe, meus amigos, meu dom e a vontade de viver. Que é uma pessoa sozinha? Um espectro de medo? Pois sim, a solidão é a plena vontade de morrer. Logo eu, que achava que isso era uma espécie de empoderamento, temia a morte social?

Era 2018, e eu estava totalmente à mercê da vida. Para dizer que não estava sozinha, as latinhas de Heineken eram minha melhor companhia. Sem ao menos perceber, comecei a introduzir cerveja no meu cotidiano, de modo que já não passava um dia todo sem beber. Além disso, passei a fumar também e, embora tivesse condições de pagar pelo vício, meus hábitos não estavam nem um pouco saudáveis. E o que leva alguém a isso? Algumas longnecks pela noite e um abraço de bom-dia do cigarro eram o vazio em mim? It takes my pain away, já como dizia a canção que eu tanto gostava na adolescência.

Apenas eu, meu quarto e a cerveja. Somente isso, mais o emprego no Bom Tempero. Fechei-me tanto para a vida que nem sequer cultivei novas amizades. A Juliana do coração frio estava destruída naquele meio de gentes de Lisboa. O martírio da solidão permeou anos de amargura. No entanto, houve uma luz — para minha pasma surpresa, certa vez assistindo à televisão, descobri que meu antigo companheiro Saleiro havia realizado o sonho de jogar pelo Sporting, seu time de coração.

Então, filmes começaram a se desenrolar em minha mente. As memórias de minha amizade com Saleiro e Vanessa me despertaram sentimentos tão bons de nostalgia, que eu quis pela primeira vez sair da minha prisão, o apartamento em que vivia desde 2018. Era meado de 2023 quando tomei a decisão de ligar para Vanessa a fim de reatar nossa amizade. Porém ela havia mudado de número, não tinha Facebook e o Instagram era privado. Segui Vanessa com meu user pessoal, contudo, sem sucesso, pois esta não estava disposta a mudar sua decisão.

Entristecida, mas ainda com uma centelha de dignidade, tentei contatar Saleiro quase certa de que o jogador do Sporting não me responderia. Mas, para minha surpresa, ele respondeu e foi amigável:

Juliana: Olá, Saleiro. Ainda se lembra de mim? Soube que você foi contratado pelo Sporting e fiquei muito feliz com a notícia. Como vai a vida? Tudo ótimo?

Saleiro: Quanto tempo, Juliana! Nunca estive tão bem e próspero assim. E tu? Já arranjaste alguma nova paixoneta?

Como se nunca tivera se apaixonado por mim, Saleiro cutucou a ferida majestosamente. Logo, resolvi me abrir:

Juliana: Minha vida está uma grande merda. Sem Samanta eu vou de mal a pior. Não tenho vontade de sair de casa e confesso que tenho sido fria com todo mundo. Paixões? Nem pensar. Para arranjar outro suicídio passional? Que a alma dela abençoe meu desalento.

Saleiro: Juliana, não digas tolices. Amores vão e vêm, e o passado não pode ser diagnóstico de inaptidão. Esqueça-te de Samanta, ela nem sequer suicidou-se por ti. Sabes qual é minha opinião, não é? Sem qualquer intenção para além de amizade, amanhã é meu aniversário e pensei em convidar-te para a festa que vou dar na minha chácara. Que tal?

Hesitei um pouco com o convite, mas avaliei que eu realmente precisava me desintoxicar da minha amargura. Se ele quisesse paixão, não teria dito abertamente que havia superado meu fora de cinco anos atrás. Como pensei que podia beber alguns drinks e me divertir como há tempos não me divertia, aceitei docemente seu convite:

Juliana: Acho que preciso de um pouco de divertimento afinal... Qual o endereço da chácara?

 Qual o endereço da chácara?

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Café Amargo 2 - O Reencontro (Duologia Cafés Parte 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora