Fiquei no hospital por mais duas semanas após o primeiro beijo de Cecília. O meu médico foi informado de que eu estava reagindo de forma excelente ao tratamento e, de quebra, meu psicólogo foi informado por mim de que minhas resoluções sobre Cecília foram um total engano da minha parte.
Dentre os vários fluxos de pensamentos que tínhamos, estavam os meus pensamentos extremamente positivos sobre a vida. Suicídio, na realidade, é egocentrismo, pois por mais que você sofra, você está se vitimizando e sempre há uma saída para o problema. A vida só é um pote intragável de sal para quem o quer. Não raro, um problema é fantasmagórico, sequer existe e são só caraminholas, como Samanta o foi. Em todos os casos, por mais dolorida ou difícil que seja a angústia, a luta é persistir, sempre com ajuda. Quem tem boca vaia à Roma. Estamos na vida com o propósito de evoluir e ascender para o Universo. Estamos no mundo, mas não somos daqui. No entanto, é dever fazer um bom papel para conosco enquanto aqui estamos. Tudo o que resta depois da morte é o que você deixou daqui. E, bem, se foi o suicídio, você pode reencarnar com um carma sério, como Cecília e sua deficiência. Segredos. Mistérios. Mas tudo tem um propósito e nada é aleatório, por isso eu amo a vida e até seus nuances mais sombrios. Se eu era agnóstica, sou sincretista agora. Sincretizar as religiões é a chave para encontrar a solução para a harmonia da vida. Não há mais eterna questão, senão as que ainda não conseguimos compreender por falta de conexão com o divino.
E durante essas duas semanas, Cecília veio me visitar todos os dias. Ríamos, conversávamos, trocávamos beijos e falávamos muito sobre música. Já que nós namorávamos, com direito à aliança, já que o psicólogo as devolveu, minhas aulas de guitarra passariam a ser grátis. Cecília até me comprou uma guitarra novíssima, que me daria de presente assim que saísse definitivamente do hospital. Em contrapartida, além de trabalhar duro no guardanapo do Sporting para Saleiro, pintei uma tela de Cecília tocando guitarra, a fim de presenteá-la quando me entregasse o seu presente. Mas isso era surpresa.
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Café Amargo 2 - O Reencontro (Duologia Cafés Parte 2)
RomanceO ano é 2040. Depois da morte de Samanta, Juliana se vê perdida em uma vida infeliz. Muitos anos depois da fatídica morte, as lembranças do passado ainda assolam sua mente, e ela passa a beber e fumar em troca de se esquecer de suas mazelas. No enta...