Raios, amor, o que queres de mim? A má sorte ou a morte? Pois incondicionalmente amei apenas duas mulheres. E, no mais, a vida é sonsa, e tudo que tenho é uma grandiloquente tragédia. Maldição e raios! Fogo e armas a ti, deus lusitano, que tatuou em minh'alma a amargura da bebida. A saborear viva o café amargo, o beijo envenenado de Heineken e desilusão. E olha que Samanta não é Cecília nem Cecília, Samanta. Anastácia é uma vigarista. Raios e maldição! Quero destruir todas as gerações de minha mãe por ter me enganado... Minh'alma por tê-la inventado... Coisa mais bárbara e cruel, e eu aqui, inválida e bêbada escrevendo asneiras no mesmo bloco no qual escrevi mil juras de amor... Que nunca hão de haver. A sina se repete, Juliana nunca vai ser amada, pois ela é Moacir, filha do sofrimento.
A felicidade cerrou os punhos para mim; Deus, Universo, Cosmos ou qualquer outra merda que eu tenha aprendido na vida não o quer. Eu nem sei se acredito em Deus. Meus melhores amigos são o álcool e o cigarro, pois eles são fiéis. Cecília é um mal querer, dos quereres o pior, e Samanta, meu único verdadeiro amor, já agora é o deus dos vermes. A matéria de perdição apodreceu no reino da morte. E eu sou um pedaço de bosta, que traiu com uma qualquer quem cometeu o suicídio, só por causa duns dedos fatais. Hormônios, demônios. Dane-se seus dedos fatais, o corpo lindo e tentador, os lábios... Eles querem outros, os de um metaleiro muito mais atraente e boa pinta do que eu. Seus dedos fatais o são nele, não em mim. Raios!
Estou dividia, diabos! Samanta eu te amo, mais do que a mim, mas já não posso, pois em matéria tu és passado. Queria poder amar Cecília, todavia não posso por um duplo desamor fatal — ambas somos comprometidas: ela e seu cabeludo, e eu com a imaterialidade de ti. Merecia, eu, estar sendo torturada, capturada e morta, morrendo lentamente. Queria vomitar todas as minhas tripas e morrer convoluta, acabada, esquartejada e abandonada. Esqueçam-me, pois! Guardai de mim meu último soneto, e prometo que vai ser o último dessa vez, por muitos motivos os quais não se cabe falar num monólogo de uma mulher bêbada:
Adeus mundo, vai-se o amor
A discórdia, o lamento e a dor;
Vai-se vida, o gosto de viver -
Lamenta-se o lamento do sofrer.Aos anjos e demônios: tremor!
Tremo ante a decisão, e com pudor,
Mas vai-se a vida e o querer,
Fica apenas a vontade de morrer.Tão severa digo isto: acabou.
Viver não tem mais sentido,
Poupe-me das aparências.Tão amarga afirmo: se selou.
Já agora, o fim está garantido
Estas são as últimas consequências.
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Café Amargo 2 - O Reencontro (Duologia Cafés Parte 2)
RomanceO ano é 2040. Depois da morte de Samanta, Juliana se vê perdida em uma vida infeliz. Muitos anos depois da fatídica morte, as lembranças do passado ainda assolam sua mente, e ela passa a beber e fumar em troca de se esquecer de suas mazelas. No enta...