21. O Violão

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Passou-se um mês desde minha primeira aula com Cecília, e ela já recomendava o violão; na verdade, praticamente cobrava que eu o comprasse

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Passou-se um mês desde minha primeira aula com Cecília, e ela já recomendava o violão; na verdade, praticamente cobrava que eu o comprasse. Ela dizia o quão importante era estudar os acordes maiores e menores que havia passado para mim de forma sistematizada e impressa como apostila nos meus tempos livres também, ou esqueceria todo o aprendizado das aulas e a música a qual estava aprendendo. Toda semana eu tinha uma desculpa diferente, mas a verdade é que eu gastava muito com cigarro e cerveja e sobrava pouco no final do mês. Ainda assim, tinha uma pequena reserva de dinheiro e decidi usá-la para comprar um violão barato.

Exceto a cobrança pelo violão, as aulas iam do bom ao melhor. Em apenas um mês, Cecília e eu, sua Ju, apelido que ela me deu e que pegou, ganhamos uma intimidade ímpar. No entanto, não sabia dizer se aquilo era amizade ou flerte. Na última aula, Cecília nos tinha convidado — eu, Saleiro e Helena — para um festival no qual ela participaria na Praça Marquês de Pombal. Isso seria um dia depois da nossa próxima aula, por essa razão queria impressioná-la com um violão novo e a obediência.

Na quinta-feira, assim que saí do Bom Tempero, fui direto à loja de instrumentos mais próxima antes de fechar. Optei por comprar na loja física para testar os violões e adquirir um que fosse do meu gosto. Expliquei para o atendente que queria um instrumento o qual fosse acessível ao meu bolso, mas adequado para iniciantes de guitarra. Testei os mais variados violões, nunca deixando de olhar para a etiqueta do preço. Acabei com um Ibanez cor de madeira, cordas de aço macias, cabo fino e sem captação. O preço saiu barato perto do que imaginava: €109. Como ela me recomendou, também comprei três palhetas, todas de espessuras diferentes, para ver com qual iria me acostumar melhor.

Subi no meu Alfa Romeo, coloquei o novo instrumento no porta-malas e rumei direto ao meu apartamento. Assim que cheguei, resolvi praticar um pouco com meu violão recém-comprado para impressionar Cecília no dia seguinte. Havíamos combinado que minha primeira música seria Pain, do Jimmy Eat World. Ela não recomendou essa música a princípio, pois avaliou que era muito difícil para mim. Mas como insistisse, ela abaixou a música original para três tons abaixo, o que resultou em apenas quatro acordes simples, porém uma pestana, um fá, que me perseguiria quase durante a música inteira. É a consequência do capricho, como disse Cecília, por eu ter escolhido uma música que ela não recomendou.

Todavia eu queria impressioná-la, também sabia que os riffs de guitarra eram quase sempre pestanas, portanto queria progredir no refrão da música, livre de pestanas, e não fazer mais pestana frouxa, que saía com um som ridículo. Minha ideia para aquela quinta-feira, era conseguir o intento de tocar o refrão sem errar enquanto cantava a letra. Experimentei o violão, fiz um lá menor e palhetei para baixo, depois busquei o ré menor, com dificuldade, e outra palhetada para baixo; um dó um pouco frouxo e um mi; mais uma sequência idêntica a essa e ficava esse refrão de iniciante muito mal feito, com palhetadas sem um ritmo bem formado.

E invariavelmente fiquei repetindo maquinalmente esses acordes por horas e horas a fio, até quase fazer sangrar meus dedos, quando, duas da manhã, consegui o intento de passar por todos os acordes sem afrouxar e sem perder o tempo da música. E cantei junto, orgulhosa de mim mesma, e fui dormir. 

 

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