Início do flashback do sonho.
— Mãe? — Anastácia apenas me observava da porta do meu quarto de quando eu era jovem e ainda morava no Brasil.
Ela se aproximou da cama onde estava deitada, fez um carinho e me beijou no rosto, como se eu ainda tivesse quinze anos de idade. Anastácia tinha uma aura que a fazia reluzir em brilho. Era uma aura Sagrada.
— Juliana, querida, por que você nunca me contou? Esperou que eu desencarnasse para revelar um segredo tão inocente. — E me acariciou novamente, a voz muito mansa.
— Mãe, você não morreu? — disse eu, só então percebendo que estava dentro de um sonho.
— De corpo sim, mas não de alma e espírito. Levanta! Precisamos conversar.
Obedeci-a e senti o vento gelado vindo da janela aberta. Minha mãe prontamente me trouxe o casaco azul que era de Samanta, que eu roubei no dia de sua morte, e me pediu para que o colocasse.
— Por que nunca me contou sobre sua amiga virtual por quem se apaixonou mais tarde? Eu sempre tive orgulho de saber que minha filha era uma escritora de qualidade... — Ela tocou minha mão esquerda, e eu senti uma corrente energética divina se transpassando pelo meu corpo astral. — Achou que eu iria te repreender por que era outra garota?
— Mãe, não era exatamente isso que me ocorria. — coloquei minha palma sobre a mão dela, e a corrente divina aumentou ainda mais. Eu estava nela, e ela em mim. — Tinha medo de estragar tudo... Você descobriu sobre o baixista também, não é? — Ela acenou que sim com a cabeça. — Não me sentia digna. Samanta morava muito longe, também.
— Filha, isso foi a ponta do iceberg, pois você, na verdade, estava com medo. Medo de sentir um nobre e vero sentimento da alma. E quando se viu livre da sua própria pobreza, tomou coragem e tentou tarde demais por algo que, por ordem dos arcanjos, não posso explanar.
— Mãe! Então Samanta não se suicidou por mim? — Abri um largo sorriso.
— Nem sim, nem não. Os arcanjos não me permitem dizer a resposta. O que posso dizer é que dá mesma forma que ela era um pilar importante na sua vida, você também o era na vida dela. Vocês tinham conexão de chamas gêmeas. Vocês deveriam ter terminado juntas, mas você se desviou do seu destino por covardia. — Uma lágrima rolou de meu olho, e minha mãe a secou com um sopro que me despertou felicidade. — Mas quando uma pessoa se desvia do seu destino primeiro, abre caminho para outros destinos alternativos mais complicados.
— Caramba... Que coisa maluca... Nunca em mil anos acreditei nisso... Mas o que devo fazer para cumprir meu destino alternativo? — indaguei, completamente chocada.
— Casar-se com Cecília Braga Nunes.
— Anastácia respondeu e riu da minha expressão incrédula.— Mas mãe, vou desonrar Samanta, que perdi por um erro especialmente meu. Isso é injusto! Eu sempre amarei Samanta e ninguém pode me corromper. Nem um anjo! — balbuciei, nervosa.
— Não sou um anjo, sou sua mentora e mãe. Você me deve respeito a mim.
— Desculpa, mãe — pedi com sinceridade e ela tocou meu peito, que me fez arder de paixão cor Cecília.
— Quantos anos você tem? — Anastácia perguntou.
— Quarenta e um — respondi.
— E Cecília vinte e dois, adianto.
Então um silêncio tomou o sonho.
— Não percebeu? — quebrou o silêncio Anastácia. — Samanta morreu no ano que Cecília nasceu. Ela é a encarnação de Samanta!
— Meu Deus! — E o fogo da paixão consumiu ainda mais meu peito, delirando-me em voltas e voltas de prazer. — Então foi por isso que tive aquele sonho estranho, advindo do tamanho magnetismo na minha primeira noite no Black House assistindo-a, e, especialmente, a nossa química na interpretação de "Secret Garden" na noite passada.
— Exatamente. E minha missão é ajudá-la para assim ascender ao como Consciência. Se você quiser minha ajuda, eu me aproveito da sua mediunidade para te dar concelhos e te guiar pelas melhores veredas, se não... Bem, é sua decisão — disse minha mãe.
— Claro que aceito! — falei sem pensar, rapidamente a abraçando com uma ternura tão grande, que eu tive um orgasmo do espírito. — Mas como? — E deitei minha cabeça em seu colo entristecida. — Cecília é linda, talentosa e está na flor da idade. Não vai me querer. Jamais! Uma velha como eu, e ainda cheia de maus hábitos e antipatia. Eu não me perdoo pela morte de Samanta...
—... Mas agora você vai, Juliana. Cecília é seu despertar e sua chama gêmea — interrompeu minha mãe. — E as idades não importam. Quando Você quer, nada pode ser mudado.
Então, Anastácia se afastou de mim e elevou-se aos Céus enquanto a introdução em trombetas de "Eternity", do Kamelot, começou a tocar. Assim que a introdução acabou, acordei do sonho.
Fim do flashback do sonho.
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Café Amargo 2 - O Reencontro (Duologia Cafés Parte 2)
RomanceO ano é 2040. Depois da morte de Samanta, Juliana se vê perdida em uma vida infeliz. Muitos anos depois da fatídica morte, as lembranças do passado ainda assolam sua mente, e ela passa a beber e fumar em troca de se esquecer de suas mazelas. No enta...