26. O Hospital Psiquiátrico

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Acordei numa maca de hospital vestindo calça e blusa de moletom cinza, toda dolorida

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Acordei numa maca de hospital vestindo calça e blusa de moletom cinza, toda dolorida. Tinham feito lavagem em mim, eu estava com soro e sobrevivera à tentativa de suicídio. Raios! Eu pensava. Quem haveria de ter me achada largada no chão empapada de vômito? Se bem que no auge do conflito, eu esqueci de trancar minha porta. À semelhança de Samanta! Reparei que na barra da camiseta havia um carimbo: Clínica de Reabilitação Bem Viver. Eu conhecia esse lugar. Era um dos mais afamados hospitais psiquiátricos de Lisboa.

— Olá, senhora Juliana! — disse a enfermeira assim que me viu sentada na maca. — Como te sentes? — E tirou o soro vazio de mim.

— Viva... — repliquei, um pouco sarcástica e zonza.

— Não te preocupes, estás na Clínica de Reabilitação Bem Viver. Manuel de Farias Saleiro, que se identificou como teu melhor amigo, encontrou-te desacordada no teu apartamento e trouxe-te para cá preocupado, pois tentava contato contigo há uma semana, depois de um sumiço repentino em um festival de música. Ele também disse que tu não tens parentes de sangue e és brasileira. Procede?

— Saleiro, raios... — murmurei comigo mesma, sem saber se ele tinha feito a coisa certa ao me salvar. — Sim, procede. — E a enfermeira começou a anotar tudo o que eu falava numa prancheta.

— Exames que fizemos enquanto estavas desacordada detectaram a presença de uma alta quantidade de analgésicos e álcool no teu sangue. Precisámos fazer lavagem, senão seria fatal. Manuel também disse que encontrou uma carta de despedida e um par de alianças perto do teu corpo desacordado. Isto foi uma tentativa de suicídio passional? — continuou a enfermeira.

— Isso é segredo. — Fechei o rosto, visivelmente irritada com a pergunta.

— Olha, com todo o respeito, senhora, mas não guardamos segredos aqui. Manuel relatou que tu tens histórico com álcool e cigarro, mas especialmente o primeiro. Tu tens o costume de beber para além do recomendado?

— O que posso dizer é que o álcool e o cigarro são meus melhores amigos. — E a mulher anotou a frase.

— Teve ou tem pensamentos suicidas? — insistiu ela.

— Já disse que isso é segredo! — exclamei, irritada. — Ela anotou algo que não consegui ler na prancheta e pacientemente disse:

— Senhora Juliana, queremos apenas teu bem, mantenha a calma. Terás a sessão com o psicólogo hoje após o almoço e lá poderás dizer mais claramente no que toca a respeito do que aconteceu contigo no teu apartamento. Por enquanto, as chaves do teu apartamento estão aos cuidados de Manuel Saleiro e tua casa será por aqui até que tenhamos certeza de que estás bem. Como és fumante tens direito a três cigarros por dia. Estão no teu quarto, vou conduzir-te pelo hospital e...

— Como assim, meu bem? — interrompi-a de supetão. — Eu não sou louca não, vocês não podem me tirar do meu apartamento sem minha permissão! — Desvencilhei do braço da enfermeira e os cruzei, furiosa.

— Senhora Juliana, segundo Manuel e os socorristas, tu foste encontrada à beira da morte, sozinha, no teu próprio apartamento, depois de uma semana inteira sem dar notícias do teu paradeiro a ninguém. Atentar contra a própria vida é uma causa humanitária e dá a um maior, no caso de Manuel, a permissão de pô-la num lugar hábil a recuperação. Tu estás doente e precisas de cuidados!

— Saleiro, raios! — esbravejei agora em voz alta.

— Tu ainda agradecerás a ele, senhora. — Sorriu simpaticamente a enfermeira.

Dando-me por vencida, permiti à mulher conduzir-me pelo hospital. Ela me apresentou minha nova estadia. O lugar era composto pela sala da televisão, um salão onde praticamente todos ficavam assistindo a SIC o dia todo; a sala de artes, na qual se podia pintar quadros, panos e fazer outros tipos de artesanato; o jardim, onde se fumava ou lia-se um livro, o refeitório e os quartos. Eu dormiria no n° 75 e, ironicamente, lembrei-me de DarkLady.75, doce portuguesa suicida. Chorei, e a enfermeira não soube o porquê. Entrei no meu quarto, vi sobre a cômoda os três cigarros diários, a cama de ferro com uma coberta quente de inverno.

— Boa estadia na Clínica de Reabilitação Bem Viver, Juliana. A hora do banho é daqui trinta minutos. Nós iremos chamar a todos e dar-te novas roupas. O pequeno almoço é agora, recomendo que vás imediatamente ao refeitório. O almoço é ao meio dia, já o café da tarde às cinco; o jantar às oito da noite, já o café da noite às nove. Finalmente, a hora de dormir é às vinte e duas horas. Não te preocupes, as atividades obrigatórias são notificadas. O psiquiatra vai falar contigo e medicar-te amanhã, e serás notificada dos teus medicamentos também. Ficaste com alguma dúvida? — disse pacientemente.

— A dúvida é por que razão preciso de um psiquiatra! — esbravejei, indignada ao papel a que estava sendo submetida. — Afinal, por que raio de motivo eu preciso ser medicada?

— Juliana, tu és inteligente, vais descobrir sozinha. — Ela deu um tapinha nas minhas costas e deixou-me.

 — Ela deu um tapinha nas minhas costas e deixou-me

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Café Amargo 2 - O Reencontro (Duologia Cafés Parte 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora