14. Outra Ida ao Black House

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Complemente agora seu look e arrase, liquidação em toda a loja só hoje!

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Complemente agora seu look e arrase, liquidação em toda a loja só hoje!

Era isso que dizia o anúncio do rádio do meu carro durante meu caminho de volta do Bom Tempero, na sexta-feira, um dia antes de eu ir ao Black House. A princípio era apenas uma propaganda e não me interessava, mas senti um pequeno êxtase acima do ventre, e isso era aviso da minha mãe. Ela queria que eu comprasse roupas decentes para chamar a atenção de Cecília.

A loja do anúncio ficava a poucos minutos de onde eu estava, de modo que, acatando o pedido de minha mãe fantasma, rumei para o local. Os preços alcançavam meu bolso, por isso arrisquei um estilo metaleiro para que Cecília me reconhecesse como alguém de sangue jovem, embora não o tivesse.

Sorri com as novas aquisições e, logo de volta a casa, dei um trato nos trapos velhos que ainda conservava no meu guarda-roupa, vendendo-os ao brechó. Embora tenha saído no vermelho, encontrei lá mesmo, nesse brechó, uma camiseta com a estampa do Secret Garden, álbum de estúdio do Angra que também era composto pela faixa título. Coube perfeitamente no meu corpo e, sem qualquer dúvida, comprei-a. Isso chamaria a atenção de Cecília? Será que se lembraria da mulher que havia feito dueto com ela? A parte mais estranha era essa peça rara e antiga me aparecer do nada, do meu tamanho e tão sugestiva. Minha mãe não deixava passar nada, e eu gostava muito da sua conspiração.

Antes que Saleiro e Helena a casa, tratei de me arrumar como nunca — camiseta do Secret Garden sob um colete jeans, mais um shortinho curto com meias de rede de cima a baixo. Arrisquei um pouco de maquiagem, desde delineador a batom vermelho. Um pouco de perfume também veio a calhar. Para finalizar, um coturno cheio de spikes. Queria que Cecília realmente se recordasse daquela noite em que cantamos juntos. Mas agora de uma forma melhor.

Saleiro me mandou mensagem dizendo que ele e Helena estavam quase chegando em casa, então sem mais enrolações, desci até o térreo do prédio quando, sem muita espera, avistei o Jaguar do ex-jogador. Não precisei abrir a boca:

— O que aconteceste contigo? — perguntou Helena, assim que subi no carro, chocada com a minha aparência. — Tu estás maravilhosa! Irreconhecível! Mas é nunca que tinha te visto maquiada, toda metaleira e dona de si.

— Isto tem nome e sobrenome. — Sorriu Saleiro ao volante.

— Ele contou-me o que houve. Queres ficar com a guitarrista do Black House, não é? — acrescentou Helena.

— Quero muito mais do que ficar com ela: quero me casar com Cecília Braga Nunes! — exclamei, sem perceber o quão exageradamente patética fui.

— Sossega-te, Juliana! — Riu Saleiro, e Helena pareceu chocada com minha convicção. — Primeiro tentes algo mais casual. Precisas de despertar na cantora uma paixão antes. Fez bem em se arrumar para ela. Tu perdeste uns dez anos maquiada. Respeitosamente, estás linda hoje. — Helena fechou o rosto e pareceu chateada. — Respeitosamente, Helena! — repetiu Saleiro, logo quando descemos do carro, pois percebeu o ciúme. Com cuidado, beijou-a carinhosamente e a agradou para não criar um mal entendido.

Helena sorriu e pegou a mão de Saleiro. A gente foi para a entrada principal do Black House e pegou uma mesa colada ao palco. Cecília já estava performando, linda num vestido preto justinho que economizava em pano, de modo que corri os olhos em seu corpo de cima a baixo e parei especialmente no decote. Ela estava tocando uma música antiga de uma banda chamada Halestorm, Apocalyptic, que era muito provocativa. Sem jeito, sentei-me à mesa e a olhei como se tivesse apenas doze anos, tirando meu BV. Pedimos nossas porções e começamos a conversar, embora meus olhos se concentrassem na cantora tão próxima.

— Então, Juliana, conseguiste alguma informação sobre Cecília na internet? —perguntou Saleiro, tirando-me a distração da guitarrista.

— Ao que parece ela é uma contratada do Black House. Além disso, tem um canal de YouTube com covers de músicas famosas, e canções autorais, lindas por sinal. Além disso tem um Facebook de artista e trabalha com free-lancer se contratada para um evento fora do Black House. É bastante conhecida aqui em Lisboa. Minhas chances com ela são muito remotas. — Suspirei tristemente.

— Por favor, pares de te diminuíres, Juliana. Veio bem a calhar este feedback, pois tive uma óptma idéia. Semana que vem vou dar uma festa na minha edícula e contratar os serviços de Cecília. Quero que fiques cara a cara com esta rapariga e converses com ela. O setlist fica ao teu gosto. Escolha tuas músicas favoritas e arrase no look como fez hoje. Vai dar tudo certo! — afirmou ele.

— Cecília me dá voltas no estômago. Não sei se seria capaz de conversar direito com ela. — Engoli em seco.

— Não sejas bobinha, a rapariga é só uma pessoa como qualquer outra. — Riu Helena. — Converses sobre música, metal, estas coisas. Não tem segredo.

— Tudo bem, acho que consigo — concordei, internamente acesa e pegando fogo. — Só tenho a agradecer pela chance, Saleiro. Você tem sido meu melhor cupido.

— Juliana, desde que chegaste em Portugal, só quis teu bem. Aprendi a gostar de ti como uma irmã. Só quero que sejas feliz. Nunca é tarde demais.

— Eu espero — sussurrei.

Assistimos Cecília e sua performance, como o de costume, enquanto nós comíamos e bebíamos um pouco de cerveja. A cada gole do sumo ardente, Cecília ia penetrando em minha corrente sanguínea cada vez mais. Eu estava totalmente rendida àquela mulher. Queria possuí-la, aquele corpo lindo matéria de tesão, e esfregar meus lábios nos dela até que rendidas juntas pegássemos no sono e dormíssemos gostosamente. Minha conexão com Cecília era muito sexual, diferente da Samanta embevecida como musa. Talvez fosse minha maturidade e a falta de momentos íntimos. Mas e aí, como é que eu fico
sem sexo?

 Mas e aí, como é que eu fico sem sexo?

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Café Amargo 2 - O Reencontro (Duologia Cafés Parte 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora