27. Sessão Com o Psicólogo

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Deixo aqui mais aspectos da Clínica de Reabilitação Bem Viver

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Deixo aqui mais aspectos da Clínica de Reabilitação Bem Viver. A princípio, era um lugar fantasmagórico para mim. Criar laços com alguém daquele lugar era impossível. No primeiro dia, limitei-me a ler o dia todo, enquanto praguejava o Sporting no jornal de notícias esportivo da SIC. Andei em círculos, observei as flores do jardim, fumei. Meus colegas tinham debilitações mentais as quais não os permitiam ter uma conversa a altura comigo. Era-me até mórbido ver-lhes as comorbidades e pensar que eu estava compartilhando da mesma estadia. Eram homens e mulheres de todas as idades; uns tinham sofrido acidentes, outros tinham retardo, Alzheimer ou demência avançados; outros ainda se estragaram com drogas e bebidas. Podia ter sido meu fim. Se fosse mais corajosa, poderia ter acabado como a senhora que se jogou do oitavo andar: sequelada e inválida.

E ainda falando da clínica, tive minha primeira consulta com o psicólogo a contragosto, mas era uma atividade obrigatória. Fui direcionada a sala de George e teria longos quarenta minutos para conversar sobre mim, no que tocava os assuntos que não queria falar, cuja única conhecedora era eu mesma. Ainda estava estressada com a primeira impressão do hospital, com Saleiro e, ainda mais, com Cecília, nome o qual não deixou de martelar minha mente durante todo o almoço; lastimavelmente a dama dos dedos fatias que feriu e destruiu as minhas poucas conquistas em terras de Portugal.

— Boa tarde, Juliana! Sou o psicólogo George, como já te apresentaram. Podes entrar, sentar-se e fiques à vontade. Como estás? — Ele gentilmente se sentou à minha frente, fechando a porta da saleta.

— Definitivamente irritada — soltei de brusco, e o mais jovem arregalou os olhos.

— Mas o que te deixas assim tão enervada? — disse George com um tom de voz pacífico.

— Estar com você, estar neste hospital, saber que as chaves do meu apartamento estão nas mãos de um terceiro, saber que estão querendo me diagnosticar, não ter a paz de espírito desde os meus vinte anos... Tudo isso! — reclamei, raivosamente.

— Bem, Juliana, fui informado que estás neste hospital, pois supostamente tentaste cometer suicídio passional, que teu melhor amigo te encontrou desacordada no teu apartamento e que teus melhores amigos na verdade são o álcool e o cigarro segundo tu mesma. Foi-me entregue, também, isto — e mostrou a caixinha com as alianças e o monólogo —, que estavam ao teu lado após a suposta tentativa de suicídio. Eu li teu nome e o de outra rapariga nas alianças e, bem, este nome se repete no texto. O texto é nitidamente suicida e menciona outra rapariga, já falecida. Queres me explicar as conexões deste texto com tua vida?

— Não — repliquei, engolindo a seco.

George suspirou, tentou novamente:

— Se não colaborares com o tratamento, a sério, vão medicar-te errado! Queres passar o resto da tua vida neste hospital? Ficar como estes pacientes que tu viste circulando? Para teres escrito este texto, não tens retardo mental e és boa com as palavras. Mas vais ficar severamente prejudicada se não conseguirmos a tua abertura. Estou sendo franco contigo, pois vejo em ti muito potencial.

Café Amargo 2 - O Reencontro (Duologia Cafés Parte 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora