13. Meu Primeiro Beijo

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Era um dia de verão, e eu, aos plenos doze anos, no ano de 2011, despedia-me da minha mãe mais uma manhã, e entrava no ônibus escolar

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Era um dia de verão, e eu, aos plenos doze anos, no ano de 2011, despedia-me da minha mãe mais uma manhã, e entrava no ônibus escolar. Minha amiga Maria já estava lá, de modo que fui até ela.

— Oi, Maria! — Saudei-a e me sentei ao seu lado. — Você parece triste. O que foi?

— Queria tanto assistir o Restart ao vivo. Nunca vou conseguir... Odeio minha família! Eles não querem me levar.

Eu não gostava do Restart embora todas as meninas da sala gostassem. Eles eram uma banda que se vestia de colorido e tocava umas musiquinhas clichês.

— Por favor, Maria, você tem que se preocupar em tirar notas melhores, não com o Restart. Se você melhorar as notas, talvez sua família deixe você ir. — Tentei agradar, mas fiz o contrário acidentalmente.

Maria se deitou no meu colo e começou a chorar compulsivamente e a balbuciar como fulano e ciclano da banda eram bonitos e legais. Ela sempre se vestia com calças coloridas, passava esmalte cheio de glitter e adorava trocar figurinhas dessas de cantores e bandas que estavam na moda.

— Ah, Maria, não quis te magoar. Desculpa. Toma aqui uma figurinha do Restart que achei no chão ontem. Está um pouco amassada, mas é legal. — Tirei de dentro da minha mochila a figurinha e dei a ela.

— Incrível, eu não tinha essa. Obrigada Juliana, você é a melhor amiga de todos os tempos! — Logo Maria voltou a sorrir como se não houvesse amanhã.

Assim, as outras colegas começaram a entrar no ônibus, e os meninos também. Chegamos à escola com o ônibus agitado, cheio de adolescentes pulsando vida. Apenas Karen e Maria estudavam comigo naquela época, das amigas que eu tinha no Ensino Médio de 2014. Éramos um trio inseparável.

Naquele dia, a primeira aula era de História. A professora dessa matéria era odiável, até para mim que era uma aluna comportada, ainda que conversadeira. As aulas foram um caos, cheias de gritos e implicâncias. Lembro-me inclusive que essa professora tinha fama de ser sapatona, mesmo que eu não soubesse muito bem o que isso significasse na época.

Porém, o grande alarde aconteceu na aula seguinte, quando a professora de Língua Inglesa entrou na sala, fez a chamada e, sem qualquer motivo aparente, saiu correndo de lá aos prantos, desaparecendo pela infinitude do corredor. Provavelmente problemas pessoais, mas para toda a sala sinônimo de festa: aula vaga.

Depois de uns cinco minutos de algazarra geral e especulações do tipo "a professora ficou louca?", fomos levados pela inspetora até o parquinho, já que a quadra estava sendo usada por outra classe. Alguns meninos começaram a chutar latinha, vulgo jogar futebol, outros foram brincar nos brinquedos, mas eu, minhas amigas e alguns outros colegas mais cheios de hormônios da adolescência se juntaram para a brincadeira verdade ou desafio.

Karen, minha amiga, mais conhecida por ser a casamenteira da sala, sabia que eu achava o Leonardo bonito. Queria armar um beijo para mim com ele e se possível até um namoro. E eu estava louca para perder meu BV, pois até Maria e Karen já não eram mais BVs.

O problema é que Leonardo estava chutando latinha com os seus amigos. Então, muito corajosa, Karen o convidou para jogar verdade ou desafio. Surpreendente, ele aceitou. Brincadeira vai, brincadeira vem, e a garrafa nunca parava em mim, para minha sorte, já que tinha muito medo de verdade ou desafio. Entretanto, numa das viradas a boca da garrafa parou em Karen e o fundo em Leonardo.

— Verdade ou desafio?! — perguntou ela, animadíssima.

— Desafio! — respondeu com firmeza Leonardo, e todos se assustaram.

— Bem, então eu te desafio a beijar a Juliana na boca! — O espanto foi geral.

— BEIJA! BEIJA! BEIJA!... — gritava o coro de pré-adolescentes do parquinho da escola.

Leonardo se levantou, envergonhado, e veio em direção a mim. Levantei-me também, e nossos olhos se encontraram. Em meio a farra e gritos, os lábios se tocaram, num breve selinho. Eu adorei aquela sensação e o descompasso no coração. A plateia pedia mais — um beijo de língua. Então, quando Leonardo já voltava para seu lugar, puxei-o até mim e dei-lhe um longo, vergonhoso e desajeitado beijo de língua, igual aos dos filmes, na minha cabeça. Era como cafeína nas veias! Por mais esquisito que o beijo tenha sido, ele também foi incrível, e a adrenalina não passava. Depois do beijo, Leonardo olhou assustado para mim, e eu sorri simpaticamente, como se nada tivesse acontecido. Ficamos nos olhando feito bobos por algum tempo, até que ele rompeu o silêncio:

— Vamos namorar? — Meus olhos não podiam ver a boca dele se movendo, nem meus ouvidos ouvi-lo.

Se perder o BV tinha sido demais, imagine só namorar um menino que eu achava bonito. Na minha mente seria tipo um dez. Não perdi tempo:

— Sim! — respondi.

Uma arruaça se formou no parquinho. Em todas as partes da escola podia-se ouvir que Juliana e Leonardo estavam namorando. Nós demos a mãos e saímos correndo da multidão de colegas que estavam brincando de verdade ou desafio. Fomos atrás do banheiro e trocamos mais alguns beijos esquisitos e excitantes, na privacidade do esconderijo. Mas logo o sinal tocou e tivemos que voltar para a sala de aula.

Leonardo e eu namoramos apenas duas breves semanas. A primeira semana foi boa, mas depois disso, ele passou a preferir chutar latinha no intervalo a me beijar ou ficar comigo. Então, num dia em que estava sem paciência, terminei com ele. Não derramei uma lágrima de choro pelo término, e minhas amigas concordaram e deram razão para a minha decisão.

Mas namoro é encrenca para pré-adolescentes de doze anos. Com essa idade eu deveria estar brincando de Barbie no quintal de casa ou jogando meu velho Playstation. A infância passa muito rápido, mas a gente sempre quer crescer na ilusão de que o mundo adulto é incrível e tão melhor do que a infância. Ademais, as primeiras experiências sempre são badaladas, mas nunca dão certo. Acho que faz parte da encrenca que é a vida.

 Acho que faz parte da encrenca que é a vida

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