Havia se preparado ao extremo, não sabia o que lhe deu, mas se arrumou por completo. Pegou um dos seus melhores vestidos que se acentuava bem em suas curvas, arrumou o seu cabelo, fez até maquiagem, apostou em brincos de argola na orelha. A bela expressão de que estava vestida para matar.
Ninguém saberia se era para matar o seu marido ou a moça que a convidou.
Só que isso ficou perceptível quando ela não se importou tanto após os elogios dele, não era daquela boca que a mulher queria ouvir que estava bonita, era de outra, porque sabia que a outra teria criatividade para cantá-la.
Mesmo assim pegou sua bolsa, deu as mãos com ele e ficou até que chegassem no local onde aconteceria o espetáculo. Morreu de procurar a fulana dos cabelos grandes e o pior que não podia nem perguntar por ela, porque não sabia o nome dela.
O tempo passou e não lhe restou outra opção quando o locutor começou a falar no microfone citando seus versos para começar a atração. Mandou um e-mail na pressa, questionando onde ela estava, só que não raciocinou que a moça não tinha celular e nem carregava o computador ou notebook com ela, não tinha como ver. Teve que se contentar, recostou-se no assento e cruzou as pernas, porém seu olhar não parava de procurá-la de maneira nenhuma.
Tudo começou com um mágico, que era muito bom no que fazia e o bônus era que aquele circo não usava do sofrimento dos animais em prol do entretenimento, todas as partes do espetáculo eram compostas por pessoas e suas habilidades, e se mantessem o mesmo nível que a primeira atração, a dificuldade de deixar alguém entediado era muito grande.
Um mímico com nariz de palhaço apareceu, era um homem, parecia ser, o corpo era malhado e as pernas também, as roupas cobriam ele por inteiro e usava luvas brancas, na cabeça uma cartola. O rosto estava marcado pela maquiagem que precisava ser exageada, totalmente branca, cobria-o inteiramente. De início nem parecia fazer parte do show, ele passava de lá para cá nos fundos como se ainda estivesse arrumando as coisas no palco, bem despreocupado. Logo depois ele olhou ao seu redor e fingiu tomar um susto porque tudo estava silencioso demais, dava a entender que não havia percebido que atrapalhava o número do amigo de trabalho, mas até o mágico parou de fazer tudo para observá-lo. Quando ele procurou alguma coisa dentro das caixas que arrastava, vestiu-se com a capa e segurou uma varinha se posicionando ao lado do profissional, fizeram a platéia compreender que a atuação dele fazia parte do número.
Assim prosseguiram, o mágico fazia sua contribuição acertando o que realizava e o mímico atrapalhado dava a graça por nunca conseguir imitá-lo perfeitamente. Só que, enquanto tudo acontecia, vez ou outra o seu olhar subia exatamente na fileira em que Elisa estava sentada, às vezes disfarçadamente, às vezes descaradamente, mas sempre presente.
Chegou em um momento que ele passou a fingir sentir uma dor no coração, onde a todo momento essa dor o impedia de realizar o que tinha que fazer e ele insistiu nisso até que o mágico perguntasse o que havia acontecido. Sem falar, já que sua boca era forçadamente fechada por um adesivo em formato de X, ele apontou para a platéia.
— Amor, é com você. — Gustavo afirmou dando risada da situação, não era ciumento e sabia que nada aconteceria entre os dois. Fazia parte do entretenimento.
Elisa nervosa colocou a mão em si e franziu o cenho, quase que perguntando não verbalmente se aquilo era mesmo com ela. Logo a confirmação veio quando ele assentiu freneticamente com a cabeça e soltou um suspiro apaixonado tão exagerado que fez as crianças presentes rirem. Para completar a sua resposta, ele enfiou a mão dentro da blusa e imitou a velocidade dos seus batimentos cardíacos, como se fosse seu coração pulsando.
O espetáculo prosseguiu e ele agora deixava cada vez mais evidente o quão mexido ficava com ela, seguia erguendo sua cabeça e encarando-a, mostrando também para a platéia que estava paquerando-a. Porém chegou em um momento onde Gustavo passou o braço por cima do ombro da mulher e a aconchegou em seu corpo, o mímico deixou claro que havia visto aquilo e se jogou no chão, imitando uma birra de criança e um choro exagerado até que o mágico perguntasse outra vez o que tinha acontecido.
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Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)
RomanceInconsistente: 1. a que falta consistência, coesão, estabilidade, firmeza física. 2. que carece de substância intelectual; que não tem conteúdo; que tem pouca profundidade. Em um momento conturbado do seu casamento, Elisa decide dar um basta em tod...