Passou as mãos nos cabelos para checar se não havia nenhum frizz em sua poupa, isso arruinaria seu dia, ela odiava andar de cabelo solto. Com ele preso era mais fácil fingir que não existia para os outros.
Se abanou por causa do calor, não era fácil vestir um casaco grosso naquele sol, mas tudo era capaz de fazer para não mostrar as manchinhas em outro tom de pele que começavam a aparecer pelo seu corpo.
Saiu do banheiro vazio e foi em direção ao pátio da escola, abraçada ao seu único caderno e um estojo que tinha as coisas mais simples, um lápis, uma borracha e uma caneta.
— Vou te levar em casa hoje. — Chegou por trás, falando próximo ao ouvido e assustando a menina.
— Não precisa, Gustavo. — Negou com a cabeça. — Posso muito bem ir sozinha. — Resmungou achando ruim aquela proteção extrema que o menino tinha consigo. — E você tem a minha idade, não há nada que possamos fazer caso aconteça alguma tragédia.
— Você só pensa pelo lado negativo? — Começou a andar ao lado dela. — De qualquer forma, duas mentes pensantes é melhor que uma, sua chata. — Deu a conclusão. — E eu tenho dinheiro pra comprar lanchinho pra gente, vai negar?
— Depende, quanto você tem? — Ela perguntou fazendo o menino rir alto.
— O suficiente para comprar hambúrguer. — Ergueu as sobrancelhas, sugestivo. Recebeu como reação uma expressão de quem estava analisando a situação.
— Minha mãe não deixa, preciso voltar pra casa cedo. — Recusou avistando a porta da diretoria cheia.
— Deixa sim. — Não aceitava o não. — Eu passei em sua casa porque queria vim com você ao colégio, mas você já tinha saído e como já estava com dinheiro perguntei a sua mãe se podíamos ir comer hambúrguer. Ela deixou.
— Hum. — Não deu resposta.
— E então? — Esperava eufórico já que a menina era sua única amiga naquele lugar.
— O que aconteceu ali? — Tentava entender a bagunça que estava instalada naquele local.
— A novata se envolveu em briga. — Respondeu porque era fofoqueiro e óbvio que vivia antenado sobre o que acontecia no colégio.
— Novata? — Não sabia de quem estava se referindo.
— Aquela branquinha de cabelo longo, que é alta e magra. — Tentou buscar na memória dela. — Que não é do Brasil, ainda tá aprendendo o português. Foram brincar com ela, chamaram de desengonçada e todo tipo de coisa, até que ela se irritou e foi pra cima de uma menina.
— Mas também, pessoal chato. Fica mexendo com quem tá quieto, tenho certeza que ela não ficou atrás de ninguém. — Elisa tomou as dores da menina, achando tosca a atitude dos colegas. Não havia nada que pudesse fazer, afinal também sofria nas mãos deles.
— É verdade. — Gustavo concordou. — Fica aí rapidinho? Tô apertando para ir ao banheiro. — Deixou a bolsa nos pés da amiga e saiu correndo.
A menina queria se sentar porque estava cansada e então começou a recolher a bolsa pesada de Gustavo para poder achar algum lugar. Nesse mesmo tempo, a tal novata saiu da diretoria sozinha e era tão silenciosa, e sorrateira, que Elisa nem percebeu quando ela passou por si e sentou em uma das cadeiras.
Quando conseguiu colocar a mochila nas costas, se praguejou porque o zíper do seu estojo estava ruim, porque não tinha dinheiro pra comprar outro e então seus poucos materiais caíram no chão.
Observando que estava sendo uma luta para a menina negra dar conta de tudo, pois parecia pesado e aquele casaco grosso não a ajudava se mover, a outra correu rapidamente pegando do chão as três únicas coisas ali.
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Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)
RomanceInconsistente: 1. a que falta consistência, coesão, estabilidade, firmeza física. 2. que carece de substância intelectual; que não tem conteúdo; que tem pouca profundidade. Em um momento conturbado do seu casamento, Elisa decide dar um basta em tod...