Andava com calma por aqueles corredores, ainda que estivesse tudo parcialmente escuro, não fazia medo algum e não corria perigo, então não tinha porquê ter pressa. Seguia segurando sua eco bag e olhava pelo vidrinho de cada sala, apenas a sua dava algum resquício de luz. Resolveu ir até lá para checar e se fossem alunos, o cordenador daquele local havia pedido para irem embora.
Parou ali, antes de abrir a porta se comoveu com aquela solidão toda. Elisa estava sentada em sua mesa e brincava com a comida, segurava o garfo e empurrava as folhas de salada de um lado para o outro no recipiente descartável, a cabeça estava sendo apoiada pela mão em uma posição típica de quem está entediado. Sua visão era focada em alguns papéis e vez ou outra ela suspirava, parecia cansada, estressada, ou não estava totalmente bem, mesmo que tivesse disfarçado bastante enquanto dava a aula.
Silenciosa preferiu ser, abriu a porta tão devagar que nem o rangido ela fez ou talvez a professora estivesse tão fora do universo que não percebeu. A moça colocou as mãos dentro dos bolsos da calça folgada que usava, caminhou até ela e parou em sua frente.
— Se eu fosse criar um conceito de beleza, ele teria teu nome e a tua estética. — Comentou em um tom baixo e viu a moça erguer o olhar ao mesmo tempo em que franziu o cenho.
— Perdão? — Mostrou que não prestou tanta atenção no que ela disse. A de cabelos longos mordeu o lábio inferior titubeando e desistiu de fazer o elogio outra vez.
— Perguntei se está bem. — Mudou completamente o contexto.
— Ah, estou. — Assentiu, tornando a olhar para os papéis.
Padilla rapidamente apanhou a primeira cadeira da fileira mais próxima e puxou para o mais perto que podia da mulher, atraindo aqueles olhos bonitos que ela tinha, demorou um tempo para analisar a expressão séria dela.
— Você é linda. — Precisou soltar mais uma vez e conseguiu, mesmo que breve, um leve repuxar dos cantos dos lábios que informavam que ela iria sorrir.
— O que você quer? — Não tinha a intensão de ser grosseira e nem foi, seu tom saiu agradável.
— Attena... — Informou e soltou a respiração de maneira pesada.
— Não entendi. — Mostrou a sua falta de compreensão.
— Meu nome é Attena. — Disse mais claramente, colocando suas mãos em cima da mesa. — Attena Padilla.
— Forte como imaginei. — Não conseguiu esconder o sorriso aberto que lhe surgiu.
— Achei que já tinha passado da hora de você saber, queria que descobrisse pela minha boca e não pelos documentos que eu entreguei. — Justificou-se rapidamente.
— Eu não tenho acesso a eles. — Dessa vez era ela quem estava séria demais.
— De qualquer maneira irá precisar do meu nome para lançar as minhas futuras notas no sistema. — Cruzou as pernas e arrumou o tecido da sua calça.
— Ah, então você só me contou por esse motivo? — Perguntou sem tanto ânimo, nem em sua voz preocupava-se em dar uma entonação a mais.
— Sim e não. — Foi sincera. — A gente passou um tempo um pouquinho distantes e você me deu uma bela prova de respeito, esperar para que eu mesma falasse o meu nome, ou te mostrasse ele... Ou aos poucos dizer quem sou. Ainda que fosse um fator conflitante, a paciência se mostrou por isso, acho bem mais do que justo que você saiba dele agora. — Contextualizou melhor a sua resposta e o porquê que deu a informação. — Aproveitando a brecha, quero pedir desculpas por ter vomitado tantas coisas em você e ter te colocado ali do nada em meio a um debate ou um diálogo difícil sendo que eu nem havia aprendido o seu jeito de se expressar ainda. Sinto muito por ter despejado muito só dizendo que isso tudo sou eu, batendo nessa mesma tecla, mas em uma relação não existe só um e se você for diferente de mim, nós precisamos achar uma maneira de nos encaixar. — Deixou a bolsa ao lado da cadeira e voltou a encará-la. — Eu só fui falando e falando sem sentir o terreno antes, sem saber o que era ou não gatilho pra você, o que era ou não incômodo para ti e... E isso não é o que eu quero e eu não vou mais me demonstrar assim porque da maneira em que eu falava, podia até te deixar receosa de se mostrar. Estava sempre exigindo e não é o correto.
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Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)
RomanceInconsistente: 1. a que falta consistência, coesão, estabilidade, firmeza física. 2. que carece de substância intelectual; que não tem conteúdo; que tem pouca profundidade. Em um momento conturbado do seu casamento, Elisa decide dar um basta em tod...