Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)

O que você esconde?

Coou com calma aquele chá calmante que também servia para a dor de garganta, foi um esforço porque seus olhos eram atraídos o tempo todo pela morena que penteava os cabelos lisos e longos com total afeto pelos seus fios bonitos e brilhosos. Apanhou também uma bolsa para fazer compressa, porém dessa vez estava morna, achou que poderia resolver melhor do que o gelo, visto que já tinha olhado em algum lugar que quando a lesão aconteceu já tem um tempo, a melhor opção seria uma compressa morna do que uma gelada. Gelo serve para desinchar e também evitar hematomas grandes ou muito escuros, e Attena não aparentava nenhum desses sintomas, apenas observando-a era possível dizer que ela não tinha nada.

Colocou os dois recipientes em cima do armário que havia ao lado da cama e apanhou o controle para procurar o bendito filme preferido da mulher, já que seus planos haviam sido esses e Elisa tinha desistido da pipoca porque lembrou-se que alguém falou pra si que os grãos causam tosse em quem está resfriado.

— Não liga, não, não. — Apressou-se em colocar a mão na frente do controle para que não desse tempo da televisão ligar.

— Oxe e por que não? Se tu disse que queria assistir o filme? — Elisa franziu o cenho ao proferir o questionamento sentando-se na cama e entregando-a o recipiente com o líquido fumegante.

— Digamos que eu sou muito natureba... — Iniciou sua justificativa tremendo de frio ainda se acostumando com a temperatura do quarto. — E eu acho meio injusto estarmos em um lugar assim, dentro de uma bolha literalmente, mamãe fazendo um show com a chuva e nós não apreciarmos isso. — Olhou ao redor, completamente encantada.

A palavra “literalmente” valia para aquele cenário, já que o quarto realmente era em formato de bolha que havia sido inserido diretamente na natureza. As paredes arredondadas eram todas de vidro que davam visão para o tanto de árvores que a rodeavam e consequentemente para o céu aberto, que naquele momento estava fechado. Era bem exposta a qualquer um que se enfiasse no meio das árvores, porém por dentro havia uma cortina imensa caso quisessem mais privacidade.

Para quem tinha medo, aquele não era um ambiente perfeito, mas para Attena, estava quase em seu paraíso. A sensação era de que estava sendo abraçada e ao mesmo tempo protegida, poderia deixar-se distrair fácilmente com os pingos daquela tempestade pousando e escorrendo pelo vidro. Também não lhe era assustador encarar os relâmpagos no céu cinza escuro, já que seu interior era uma bagunça tão grande como aquela, estava habituada.

— Tem algum problema pra você? — Se mostrou atenciosa com a amiga, porque respeitaria a resposta dela.

— Nenhum. — Admitiu sendo gentil enquanto esticava a perna de Padilla com muito cuidado. — Se você diz que é bom ficar assim, então eu acredito. — Depositou a bolsa morna no joelho da mulher e conseguiu ver o corpo dela relaxando aos poucos. — Tá gostoso o chá?

— Você arrasa. — Soltou o elogio ao mesmo tempo em que segurava a sua risada que queria sair porque aquele diálogo iniciado podia ser levado com outra conotação, ainda que não tivesse provado do “chá” em sua segunda versão.

— Toma logo esse chá e para de me olhar assim. — Ordenou dando risada e negando com a cabeça por já imaginar o que a morena estava pensando.

— Sim, senhora. — Disse obedecendo e virou a xícara todinha, de goles em goles rápidos em pouquíssimos segundos já não restava mais nada no recipiente.

— Não era assim! — Resmungou limpando os cantos da boca dela e apanhando a xícara. — Era pra você tomar de pouquinho em pouquinho porque aí os ingredientes iam passar devagar pela sua garganta e iam fazendo efeito.

— Não me culpe, eu apenas obedeci você. — Se defendeu envergonhada e ao ouvir a risada, relaxou.

— Está tudo certo, irá funcionar do mesmo jeito. Só não tome água por agora ou vou ter que fazer a moda antiga, sujar meu dedo no mel e no gengibre, e enfiar na sua guela. — Ameaçou observando a amiga arregalar os olhos em espanto enquanto se deitava.