Descontrole.

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— Seu Gustavo na cozinha? Que milagre. — Ergueu as sobrancelhas observando o homem sem camisa, mas de avental, mexendo com uma colher de pau na panela que parecia cheia de algo.

— Milagres acontecem. — Assentiu um tanto alheio, mas encarou a esposa e sorriu.

— Eu tô vendo. — Respondeu enquanto lavava suas mãos, o dia inteiro havia sido trancafiada dentro do seu estúdio.

Adiantando alguns dos seus projetos, mas também colocando para fora a confusão interna em que se encontrava desde a sua última conversa com Attena, que por acaso havia sido a última realmente porque a morena não chegou a responder nenhuma das mensagens deixadas por Lis desde aquele dia.

— Imaginei que fosse sentir fome depois de gastar todo o seu dia trabalhando, então me adiantei. — Justificou-se,  riu ao ver a mulher virando seu corpo em direção a ele e semicerrando as pálpebras.

— Conheço esse comportamento. — Balbuciou desconfiada demais.

— E o que ele significa? — Se recostou no balcão da cozinha e cruzou os braços musculosos.

— Significa que eu tenho um marido que quer me pedir desculpas e não sabe como. — Se ergueu com os braços e sentou no mármore da pia, tirando o lenço dos cabelos.

— Nada disso. — Negou fazendo um drama que arrancou uma risada da mulher. — Significa que você tem alguém ao seu lado que te ama absurdamente a ponto de ficar tentando te agradar por meio de comida.

— Ata que eu como a comida e a sua desculpinha fajuta. — Alfinetou com ele gargalhando.

— Você não tem dó? — Gustavo questionou seguindo com seu exagero porque gostava de causar risos em sua esposa. — Eu sou um coitado.

— Coitado? Coitado é filhote de rato que nasce pelado no meio do mato. — Elisa cortou de pronto a sessão de vitimismo.

— É sério, amor. Você nem sequer falar comigo direito. — Demonstrou estar realmente triste.

— Porque eu estava e ainda estou muito brava contigo. — Expôs sem medo de mostrar como se sentia. — Você me assusta, às vezes.

— Te assusto? — Viu que o assunto era bem mais grave do que estava pensando, era dolorido ouvir isso de alguém que você tem há anos ao seu lado.

— Me assusta a sua capacidade de pensar somente em você e fazer com que eu sinta que a minha opinião é totalmente invalidada. — Não teve nenhum pingo de dó dessa vez.

— Não é assim, calma também. — Negou de pronto com a cabeça.

— Eu tô calma, meu amor. — Lis afirmou sem ser grosseira. — Só estou listando os fatos.

— Essa é a sua opinião. — O homem não iria aceitar uma crítica como aquela, era pesada demais.

— Olhe... — Pigarreou antes de falar. — A sua atitude foi grave.

— Sim, mas não é pra tanto. — Seguia firme ali, mas não estava alterado, apenas discordava.

— Gusta, você foi capaz de assumir parcialmente a responsabilidade de uma vida só para que isso "despertasse" em mim, a vontade de ser mãe. — Ela não achava que tinha que explicar, mas também não se ocultava se tivesse. Falaria, bastante se precisasse. — Nisso, você quebrou uma promessa nossa de não tocar nesse assunto até depois que chegarmos da nossa viagem. Você desconsiderou a minha opinião, ela é tão válida quanto a sua. Você não pensou no lado da Juju porque se ocupou apenas com seus interesses. — O encarava de maneira bruta. — Se você é capaz disso, não sei nem o que pode fazer mais. Me deixa com medo de irmos para cama e você ser capaz de furar o preservativo de propósito só para atingir uma meta de vida sua. — Sua intenção realmente foi exagerada para que ele visse o quão grave era. — Essa atitude não foi saudável, Gustavo. E eu também acho que está grandinho demais para pensar em seus atos, você consegue ser muito inconsequente.

Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora