Fulana.

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Elisa estava novamente por ali, onde costumavam se encontrar. Tinha ido exatamente na intenção de ver a desconhecida, já que não teve coragem o suficiente para mandar o bendito e-mail. Fez tanta questão e deixou sua mensagem no rascunho. Passaram-se dias e sua mente não parava de divagar em como poderia ser encontrá-la novamente, afinal seu entretenimento da semana tinha sido ela.

Não a contou que a brisa da substância que usou teria sido ruim porque o que tornava aquela experiência legal havia sido a companhia dela. Não contou que havia ido correr naquele espaço justamente a fim de encontrá-la durante o dia. Não contou que assim que chegou em casa escreveu a primeira mensagem, após passar um dia escreveu a segunda, em uma noite solitária escreveu a terceira, antes de tomar banho para sair com o marido escreveu a quarta, quando estava entediada durante a tarde escreveu a quinta, enquanto preparava sua aula em estresse escreveu a sexta... Todas não enviadas. Mas também não iria contar, se ela perguntasse qualquer coisa sobre estar ali propositalmente, claramente a resposta seria "não, eu não estou aqui a sua procura".

De seus devaneios foi puxada rapidamente, havia se preocupado tanto na tentativa de disfarçar que não estava ali por ela, que nem percebeu quando a própria se aproximou. Sentiu algo apertando seu couro cabeludo e logo o prazer juntamente com a sensação de formigamento se espalhou a ponto de fazê-la ter um arrepio onde se contraiu.

— Gostoso, não é? — Surgiu o sussurro tão perto da sua orelha que de automático a moça mordeu o lábio inferior.

— Olá para você também, fulana. — Respondeu após uma longa inspirada para recuperar a postura.

— Tô vendendo, quer comprar não? Faço por dez e você leva. — Fez a proposta segurando o objeto que havia dado prazer para a moça. Riu quando ela virou de frente, logo após deixou o queixo cair em surpresa.

— A sua pele! — Passava seus olhos de cima para baixo na desconhecida.

Dessa vez ela não usava seu conjunto de calça e blusa de manga longa, agora seus braços estavam amostra e as pernas também, todos os membros inteiramente fechados de vários tipos de tatuagem, nenhuma colorida, mas não sobrava muita pele em branco ali. Parecia uma tela que já tinha sido pintada várias vezes, mas em todas elas sendo acrescentado algo que a deixava cada vez mais bonita, absurdamente bonita... Bonita? Não, quis dizer feia. Feia. Nunca gostou muito desse tipo de coisa, por que iria gostar agora?

— A sua pele! — Ela imitou fingindo surpresa também.

— O que tem? — Elisa franziu o cenho e olhou para os próprios braços, confusa. Sem nem perceber que era um espelhamento proposital da reação, que sua amiga só estava brincando de imitação, como gostava de fazer.

— Linda. — Óbvio que ela tinha o manejo suficiente para sair da situação, não ia perder a chance de elogiá-la.

— Você acha? — Perguntou realmente curiosa, se deixou ser a pauta sendo assim exposta para julgamentos.

— Acho você linda... Por inteiro, Vênus. — Confessou em sinceridade, sorridente. — Não costuma ouvir elogios? — Cruzou os braços agora extremamente chamativos.

— Você vive nesse planeta? — Ergueu uma sobrancelha, querendo demonstrar o óbvio.

— Boa parte do tempo, mas nunca por completo. — Respondeu de verdade a pergunta, mas sem deixar de dar mais dos seus enigmas, metáforas, ou seja lá o que fosse aquilo. — Por quê?

— Porque aqui, na Terra, muita gente ainda acha que vitiligo é uma doença infecciosa que passa de pessoa para pessoa. Então não, eu não recebo elogios... Não costumo. — Mostrou uma de suas dores sem nem perceber. O preconceito era algo que enfrentava fazia muito tempo, claro que ele iria transparecer como medo em alguma hora, afinal estava acostumada com as respostas negativas e não positivas.

Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora