Premeditado.

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Ao observar aquela aglomeração saindo do ônibus e a sua amiga encostada nele, com uma expressão de poucos amigos e os braços cruzados demonstrando não estar tão aberta assim, Lis se aproximou mesmo que toda aquela carranca que Attena havia vestido era um breve aviso de que não estava em seu melhor humor.

Em pura ousadia, a mulher negra tomou a mão dela e a puxou, abraçando-a na frente de todo mundo sem nem se importar com os comentários que possivelmente receberiam, talvez vindo de Beatrice e seus amigos, assim como os outros passageiros.

— Que foi que tá assim tão emburradinha? — Questionou mexendo nos cabelos dela e beijando o topo da cabeça ao ver que a moça foi reciproca com o abraço.

— Essa parada não estava no planejamento. — Resmungou relembrando o roteiro daquele dia, era para seguirem em viagem direto desde a madrugada até o próximo destino, coisa que havia sido informada a todos os passageiros e mesmo assim eles insistiram por uma parada em um posto.

— Mas as pessoas queriam comprar coisas para nós seguirmos. — Justificou o óbvio porque a morena parecia não estar nem um pouco a fim de entender seus companheiros de viagem.

— As pessoas querem comprar coisas toda hora, Elisa. Eles não podiam esperar? — Corrigiu a frase porque observava o comportamento deles.

Tinham uma necessidade de gastar bastante dinheiro em coisas fúteis, até mesmo em questão de comida e água, ainda que fossem provar de tudo ao chegar no destino, ficavam nessa necessidade de adiantar o que podiam.

— Não vai demorar muito, tá? Tenha um pouquinho só de paciência. — Seguiu agora acariciando as costas dela, tentando passar um pouco mais de calma para o mal humor.

— Eu juro que tô tentando. — Era óbvio que em algum momento da viagem algo precisava sair do eixo, ou não seria uma situação normal. Imprevistos acontecem e é necessário ter o aparato para lidar com eles.

— Por que isso te afeta tanto? — Não quis invalidar aquele aborrecimento dela, só gostaria de entender o motivo de ser tão grave terem parado por alguns minutos.

— Porque não estava na rota e eu calculei ela por inteiro. — Parecia óbvio para si e Elisa então tomou aquilo como motivo válido o suficiente, afinal com o sentimento do outro, a gente não mexe.

Deu a devida importância para a justificativa mesmo que ela não fosse o suficiente para si, tratou como se fosse, como se realmente entendesse. Validou assim como validaria caso toda a irritação viesse de um motivo mais profundo.

— Entendi, é importante pra você. — Concluiu em um aviso indireto de que não questionaria mais. — Você não quer comer alguma coisinha enquanto isso? — Tentou achar um meio de distração que pudesse lhe dar um retorno de prazer e felicidade imediata justamente para que ela desviasse um pouquinho a sua atenção.

— Não tô com fome. — Respondeu ainda emburrada, mas aceitava de bom grado todo o carinho e seguia abraçada no corpo de Lis.

— Uma besteirinha só? — Sugeriu falando baixinho com ela e em seu melhor tom dócil. — Ouvi dizer que nesses casos é permitido comer coxinha como café da manhã. — Sussurrou como se contasse um segredo. — Você vai deixar de aproveitar, meu bem?

— Eu vou. — Ainda tentou ser brava, mas o apelido a derreteu e pelo menos um mísero sorriso contido apareceu em seu rosto.

— Não vou te deixar sem comer nada, Attena. Não tomamos café hoje. — Suas mãos seguiam a percorrer pelas costas dela que ainda aparentava estar brava. — Já que não podemos mudar a rota, que tal nos adaptarmos a ela? — Segurou o rosto dela e a encarou, sendo gentil. — Você não está com vontade de ir ao banheiro? Não quer comprar uma água ou alguma outra comida pra levar? A gente pode procurar juntas. — Cedeu a sua mão e cruzou seus dedos após o assentir da mulher que parecia agora um pouco menos estressada já que tinha alguém que lhe guiasse. Exatamente o cuidado que ela havia solicitado a Elisa antes mesmo de viajarem.

Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora