Se duas já doeu, imagina três.

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Com a despedida do seu marido pairando em sua mente, Elisa seguia olhando para o teto escuro daquele ônibus, entediada. O homem havia feito um jantar romântico, comprou flores e os dois chegaram a cochilar abraçados. Ela tinha a ciência que aquela atitude poderia ter sido uma jogada para que ela desistisse de ir, mesmo assim não foi o suficiente ainda que a mulher já estivesse sentindo saudades da rotina em que os dois tinham.

Querendo ou não, você se acostuma a acordar e a dormir ao lado de uma pessoa específica todos os dias.

Agora ela tentava ser agradável com Attena, fez de tudo para que a morena se sentisse bem ao seu lado,  ajudou a guardar os pertences dela e sentou do lado dela na janela, para que a companheira pudesse ficar mais livre quando quisesse levantar por causa da coluna e do joelho já que seriam muitas horas de viagem, e não era recomendado ficar na mesma posição por muito tempo.

Notou a amiga quieta e decidiu seguir o tempo dela, talvez estivesse cansada, talvez com sono, talvez fosse aquele alguém que não gosta de conversar muito quando acorda em um horário indevido.

Os olhos castanhos percorreram por Padilla que tinha a cabeça apoiada no encosto da cadeira e as pálpebras fechadas, em seu ouvido os fones tocavam em um volume tão alto que era possível escutar parcialmente os batuques das músicas que escutava. De início Lis achou que ela dormia, mas percebeu que não quando a mulher coçou o próprio queixo, uma brecha perfeita para pigarrear na intenção de ser notada.

Pegou seu celular e abriu no chat que havia poucas conversas, enviando uma mensagem para ela que sentiu o celular vibrar no bolso e rapidamente foi olhar o que era.

"Quando se inicia a hora da conversa?" enviada por Elisa às 1:50AM.

A viu dar uma risada contida assim que leu a mensagem, era diferente demais ver alguém de perto reagindo a algo que você manda. Rapidamente as orbes pretas pararam na mulher negra e em seguida tirou os fones de ouvido.

— Você não ia dormir? Achei que não era do tipo que ficava conversando. — Sussurrou sorridente e voltou seu corpo para ela.

— Eu achei que você não era do tipo que ficava conversando. — Repetiu a fala expondo o seu lado e conteram a risada que surgiu.

— Você fica a coisa mais linda com essas tranças, sabia? — Não conteve o elogio, seu olhar era muito meigo nela, sempre seria. — Adoro a sua risada também. — Soltou segundos depois e então pigarreou, se tocando do que estava fazendo e voltando a ficar séria.

Agora se praguejava toda vez em que deixava seu amor se sobressair, fazia parte do seu jeito dizer o que pensava, mas sabia que quando estava só entre as duas, a tensão crescia e não podia mais deixar acontecer.

— Obrigada. — Lis fez questão de voltar no assunto, mesmo sabendo que Attena gostaria de mudar. — Eu adoro a sua risada também. — Confessou inclinando o corpo um pouco mais para frente e vendo-a ficar sem graça. — Você não respondeu a minha pergunta.

— Acho que podemos começar agora. — Assentiu com a cabeça observando a mulher abrir um cobertor porque durante a madrugada sempre faz frio em ônibus, por pegar vento demais e estar em alta velocidade.

— Assim. — Falou passando o cobertor pela cabeça das duas, fazendo quase uma cabaninha. Era um bom momento, estava tudo escuro e haviam pegado uma das últimas poltronas do automóvel, ninguém notaria. — Assim é melhor.

— Não vão brigar com a gente? As pessoas deduzem logo que estamos fazendo coisa errada. — Seguiu no sussurro e deu risada porque sua mente acabou lhe punindo com imaginações indevidas.

— Estão todos dormindo. — Respondeu deixando que ficassem em um completo escuro.

— Você tem direito a uma pergunta. — Deixou de lado as suas preocupações e cedeu curtir aquele início de viagem com tudo o que ele lhe oferecia. — Valendo!

Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora