Pérola Negra.

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— Entra, entra, entra. — Falava apressada dando passagem para dentro do apartamento.

— Oxe e por que essa pressa toda? Tá fugindo de quem? — Ergueu uma sobrancelha e passou pela mulher, que por acaso estava enrolada apenas em uma toalha e tinha os cabelos molhados.

Pararam por um tempo e parecia até combinado, as orbes castanhas e as pretas passaram pelo corpo uma da outra de baixo para cima, com uma expressão indecifrável.

— Eita porra. — Attena foi mais rápida em iniciar uma conversa, nem ao menos se movia.

— Eu sabia que esse calor todo era preparação para chover. — Deu de ombros, falando no mesmo momento. Mas pendeu a cabeça para o lado e com um sorriso no rosto tentou entender o porquê do xingamento. — Que foi? Por que você tá me olhando assim?

— Me dá um motivo pra eu não te olhar assim. Você já se admirou no espelho hoje? — Ergueu as sobrancelhas ainda contemplando-a. — Eu já te vi de calça social, mas com blusa de gola alta... Nossa. — Fechou a porta e se recostou nela, sem nem se preocupar se estava sendo invasiva. — O seu marido já te elogiou hoje?

— Não. — Semicerrou os olhos sem entender onde a conversa iria chegar.

— Pois eu já, one point for me. —  Se atentou dando uma piscadela. Antes mesmo da mulher rebater, ela se adiantou e cumpriu com o que havia falado. — Você é, e está, maravilhosa. 

— Obrigada? — Sempre respondia da mesma maneira, envergonhada.

— Meus olhos se perdem toda vez que param em ti, você já me disse que sou como um ímã, confesso que não compreendi muito bem essa nomeação. Agora entendo por completo o que quis dizer, porque você também é um ímã, é completamente hipnotizante e já me adianto pendindo perdão se acabar me perdendo em meus pensamentos durante a conversa, esse é o efeito que causa nas pessoas que convivem contigo e cedem ao desejo de por um mínimo instante te admirar. Um segundo e acabou, você toma tudo, por inteiroSe entrar na minha cabeça, só tem você, você está em todo lugar. — Prosseguiu perdendo até o fôlego, precisou inspirar profundamente ainda contemplando a moça que havia parado com os lábios entreabertos, as mãos nos bolsos e parecia ainda digerir o que havia escutado.

— Você realmente já chega atingindo de supetão, eu acho isso um absurdo. — Expressou baixinho em indignação, sem saber como responder.

— Assim como a minha presença. Eu sou muito, Vênus, sempre fui. — E se apresentou novamente, curvando-se em uma saudação teatral. Passou então por ela, segurando a toalha para que não caísse.

— Ah, eu sei bem. — Assentiu com a cabeça em concordância. — Não tinha terminado seu banho? — A pergunta pareceu pegá-la de surpresa, ainda que a situação em que se encontravam fosse suscetível para aquele questionamento.

O sorriso enorme apareceu no rosto da morena e ela se olhou de baixo para cima, comprando aquela desculpa e assentindo.

— Com certeza, não tinha terminado ainda. — Assentiu com a cabeça e fez questão de disfarçar mal, mas Elisa não cutucou o assunto porque não queria ser inconveniente. — Nem separei as coisas ainda, acredita? Depois que a gente desligou a chamada, o Joãozinho me deu um baita trabalho.

— Ele já foi? Da proxima vez trago doce. — Tentou ser gentil e simpática.

— Já foi. — Respondeu olhando ao seu redor, como se estivesse checando algo. — É, já foi. — Disse com mais certeza. — Pense em um menino travesso. Às vezes ele consegue me enlouquecer e eu sou difícil de sair do sério.

— E o que ele fez dessa vez? — Perguntou entre risos, colocando a bolsa no sofá.

— Ele me esperou arrumar a casa pra bagunçar tudo. Era panela em cima da televisão, os meus incensos ele colocou um em cada canto, você precisa ver como está o meu guarda-roupa. — Quanto mais citava, mais fazia a amiga rir.

Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora