Em todo fim, há um recomeço novinho em folha.

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“Bem que se quis
Depois de tudo
Ainda ser feliz
Mas já não há
Caminhos pra voltar
E o que que a vida fez
Da nossa vida?
O que é que a gente
Não faz por amor?” (Marisa Monte)

Estranhou porque a campainha tocou, não estava esperando ninguém e também estava ocupada cozinhando o seu almoço. Foi inevitável que o coração se enchesse de esperança de que fosse Attena e justamente por esse motivo arrumou as roupas antes de atender. Porém deu de cara com o homem negro e de barba, com seu terno alinhado assim como os cabelos, uma maleta em sua mão e na outra um envelope.

— Oi. — Disse até um tanto desanimado, mas sorriu educadamente.

— Gusta. — Chamou em um tom dócil. — Gustavo. — Corrigiu em um pigarro.

— Os papéis do nosso divórcio saíram, eu mesmo quis entregar. — Evidenciou o envelope ainda com um breve sorriso e um tom estranho. — Eu... É... — Coçou a cabeça esperando uma reação dela. — Posso entrar? — Perguntou sem querer ser invasivo.

— Por favor. — Maneou com a cabeça em negação, despertando dos inúmeros bombardeios da sua mente. Deu passagem para o homem. — Me desculpa a falta de educação, é que não estava esperando, enfim... — Deu de ombros fechando a porta. — Senta aí. — Pediu apontando com o rosto para a mesa da cozinha.

— Licença aqui. — Pediu colocando seus pertences em cima da mesa.

— Acho que não precisamos regredir tantos passos assim. — Informou incomodada mexendo nas panelas. — Você tá com sede? Tá com fome? O frango tá no forno, tô fazendo verduras, vai ficar uma delícia.

— Não, obrigado. — Abaixou a cabeça e folgou um pouco mais da gravata.

— Sério, almoça comigo. — Ofereceu mais uma vez. — Eu sei que você gosta bastante quando faço esse prato, parecia até estar adivinhando que vinha. — Riu contidamente e contagiou ele. — O que me diz? — Abriu o forno e deixou que o aroma subisse, observando ele se contorcer na cadeira.

— Já que você insiste. — Aceitou de bom grado.

— Bom... — Serviu o refratário cheio de verduras com legumes. — Espero que esteja do seu agrado.

— Sempre está, Elisa. Você cozinha muito bem. — Não conteve o seu elogio servindo-se ainda um tanto envergonhado.

— Posso dizer o mesmo de você. — Assentiu segurando o recipiente com frango e também servindo com calma.

Os dois serviram-se e Gustavo até enrolou um pouco para iniciar a se alimentar, porém cedeu a vontade. Não tinha como evitar aquele clima estranho entre os dois mesmo que quisessem muito falar sobre outras coisas, parecia que agora havia um imenso muro que dividia e separava de maneira muito bruta o antigo casal.  Entre olhares meio disfarçados, Lis tomou coragem de ter alguma iniciativa.

— E então? Como você está? — Questionou querendo a verdade.

— Eu tô bem. — Ele foi simples e logo em seguida suspirou cansadamente. — Meio confuso, sei lá. É como se tudo ainda estivesse se assentando, é estranho. E você?

— Eu tô bem também. — Respondeu, mas estar bem não significava que já tinha se acostumado com tudo e com a nova vida que tinha. — Ainda tô meio perdida, mas aos poucos tô me encontrando novamente.

— Vi sua foto recente, vestindo branco. — Precisou comentar, não tinha como deixar algo tão grandioso de lado. — Coração chega pulou do peito, estou muito feliz por você.

— Aceitei, né? Mamãe se apresentou de um jeito tão diferente e nunca senti na vida algo tão meu, sabe? — Comentou com orgulho sobre esse novo lado da sua vida. — No mesmo dia já tava vestida de branco, de branco quero permanecer.   — Se referia a aceitar estar na religião. Vestir o branco significava aceitar as responsabilidades que aquilo trazia e no sentido literal, vestir a roupa branca para todas as giras. — Falta eu perguntar pra mãe da casa se ela me aceita, mas eu acho que sim porque ela me acolheu muito bem.

Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora