Sunga preta.

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— Eu tô tão, tão, tão, tão estressada. — Comentou jogando a bolsa que usava na poltrona da sala. Abriu dois botões da blusa social e amarrou os cabelos desajeitadamente.

— É? E como foi lá? — Gustavo estava na cozinha e mexia em algumas panelas, trajava um avental.

— Muito conteúdo para pouco tempo, ainda vai entrar uma aluna nova no meio do curso... — Arrancou os saltos do pé e andou até lá, pegando a água da geladeira e se servindo.

— Nossa, amor. Que complicação. — As mãos grandes dele foram até os ombros dela, apertando-os. — Já comeu? — Sussurrou abraçando-a por trás.

— Já e você, querido? — Virou-se de frente para observá-lo, sentiu o celular vibrando no bolso e o ignorou totalmente ainda que tivesse a vontade de pegar para checar.

— Já, estava a sua espera. — Desamarrou o avental, mostrando que só vestia apenas uma peça de roupa. — Coloquei uma sunga preta. — Revelou baixinho como se fosse algo significativo e ouviu ela rir, sem entender.

— E o que isso significa? — Tentou corresponder ao tom de voz dele, enquanto retribuía aos selinhos que ele lhe dava.

— O que significa? — Questionou incrédulo.

— É... — Tentava se recordar de alguma coisa.

— Uma conversa que tivemos, onde você disse que achava atraente homens de sunga preta. — Citou e ela na hora franziu o cenho, sem se recordar.

— Eu disse isso? Nós estávamos conversando sobre sexo? — A tal da memória seletiva, tendemos a prestar mais atenção em algo que nos importa mais. E não é que não tivesse interesse nas conversas que tinha com ele, mas não andavam em um momento muito bom.

— Sim, amor. Lá nas Maldivas, eu não acredito que você não lembra. — Negou com a cabeça fingindo uma decepção porque ainda levava isso na brincadeira. — Depois a gente teve uma noite incrível... — Ainda tentava.

— Uma noite incrível? — Repousou sua mão no peitoral dele e o encarou.

Buscou na sua mente e então lá estava, a noite não havia sido incrível para ela e justamente por esse motivo sua mente optou por deixar embaixo do tapete. Haviam tido relações sexuais algumas vezes naquele dia e em nenhuma delas a moça chegou ao orgasmo, no final de tudo ainda se sentiu mal e foi dormir chorando porque ele nem sequer havia se preocupado ou dado atenção, apenas e pegou no sono. No dia seguinte, ele ficou tratando como se os dois tivessem tido uma bela noite, sendo que não havia sido assim.

— Uma noite incrível, não foi? — Gustavo já começava a ficar receoso.

Não podia negar que ficou decepcionado e agora fazia um esforço maior para agradá-la. Um tempo depois das férias em Maldivas, após não conseguir mais, Elisa havia falado para ele que não sentia muita coisa quando os dois tinham relações e usou o termo "às vezes eu não chego lá", quando na verdade queria dizer que era sempre assim, só que preferiu não entristecê-lo mais e para diminuir o peso de tudo, acabou mentindo. Então todas às vezes em que ele retornava, por meio de conversas, até as noites que passaram juntos, questionava a ela sobre as coisas dando mais atenção para sentir uma calmaria depois, certificando-se de que tinham tido sim boas noites ainda que seu desempenho não fosse dos melhores. Era, infelizmente, sempre iludido.

Ele não era um mau marido, depois de ter sido avisado, todas às vezes questionava se ela também tinha chegado lá. Para não fazê-lo mal, Elisa fingia que sim ou dizia que sim inventando que estava tão eufórica que não tinha dado tempo de avisá-lo.

Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora