A arte precisa ser preenchida, querida.

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Aviso de conteúdo sensível.

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Ainda chegou a ouvir os barulhos, mas estava tão centrada no que fazia que nem checou ao seu redor. Tudo que existia quando estava criando, era apenas a sua matéria, a mesa, a sua criatividade e a única luz no meio da sala que iluminava, acima de si.

— Lis, o Gustavo já foi trabalhar. Ele abriu a porta pra mim e pediu pra eu te avisar. — Disse entrando com tudo no cômodo que parecia uma salinha, justamente porque a porta era bem pequena. Parou de andar na hora quando olhou a sua volta, viu aquele tanto de porcelanato brilhando e várias prateleiras cheias de esculturas, uma parte apenas com estátuas desde pequenas até em tamanho de gente real. — Caramba! — Expressou em surpresa arrancando seus óculos de sol do rosto e jogando dentro da bolsinha. — Esse daqui é seu estúdio particular? Imagino como deve ser o comercial. — Era enorme, tinha uma boa acústica, um jogo de luzes estratégico para deixar a sala mais aconchegante e o cheiro de argila molhada.

Muito dinheiro havia sido investido ali.

— Você gostou? — Questionou distraída, levantou seu olhar rapidamente apenas para checar e depois baixou de novo.

— Lindo, lindas esculturas. — Elogiou sem conter sua euforia corporal, já começou a andar pela sala, primeiro entre as estátuas grandes analisando-as de uma por uma. — Eu posso tocar? — Conteve seus dedos curiosos até que ela respondesse.

— Claro, só tome cuidado. — Assentiu com a cabeça abrindo mais uma brecha, ninguém ousava mexer em suas obras... Só que Attena, era Attena. Sabia que a moça jamais faltaria atenção ou respeito.

Haviam algumas cobertas por tecido e envolvidas em saco plástico, dava mais vontade ainda de ver, mas não seria tão atrevida e incoveniente a esse nível. A riqueza dos detalhes em esculturas que tinham o corpo humano, só mostrava o quanto Elisa era detalhista e talentosa, até mesmo o alto relevo de veias que passavam pela estrutura física, ela fazia. Haviam belos corpos nus ali.

Partiu então para a parte onde haviam peças pequenas de cerâmica, várias louças com desenhos diferentes, fora do normal. Alguns eram bem chamativos, outros delicados, outros mais contidos. E em sua exploração, achou uma obra preciosa ali no meio. Uma caneca, grande até, bem redonda onde na frente tinha um desenho que era atrativo.

Obviamente Attena foi até lá, onde a pegou e passou deu dedo indicador na borda que era toda irregular, não lisa por completo. Assim que virou, demonstrou sua surpresa em seu semblante, ao ver dentro dela um formato que lhe parecia bastante conhecido.

— Isso não é o que eu tô pensando que é, é? — Passou seu dedo por aquelas dobras e atraiu o olhar castanho da mulher que suspirou nervosamente.

— Eu sabia que você ia acabar achando. — Negou com a cabeça e desligou o motor do suporte que usava, querendo dar mais atenção a ela.

— Por que você fez isso? Digo, é brilhante, mas diferente. — Passou outra vez seus dedos no meio do formato que aparentava ser os pequenos lábios de uma vagina. Era uma obra erótica. — Eu quero uma dessa! Na verdade, eu quero vender isso aqui! — Disse encantada por aquele algo que nunca tinha visto retratado daquela maneira.

— Na aula de modelagem mais detalhada você vai ver. É claro que não vou explicar com esse exemplo, mas aprenderá a base precisa para fazer. — Ignorou a primeira pergunta propositalmente e se rendeu a risadas ao olhares que recebia da amiga. Aquelas orbes pretas iam daquele órgão feito de argila até a mulher negra, repetidas vezes empolgada.— Quer dizer que se interessa pela arte erótica? — Cruzou as pernas, abaixando seu tom de voz.

— Me interessar? Eu sou fascinada. — Admitiu sendo bem aberta sobre os seus gostos. — Adoro coisa assim. — Ergueu o recipiente exemplificando. — Coisa impactante, o sexo é impactante, um corpo nu é impactante, duas pessoas se amando é impactante. — Devolveu com muito custar a peça para a prateleira. — Adoro quase tudo que fale sobre isso. Gosto da quentura, do suor, do desejo, das peles ardendo em fogo, das artes que demonstram o prazer, o quão bonito o corpo humano é por inteiro, incluindo os órgãos genitais... É poético! — Caminhava pela sala ao listar o que pensava.

Inconsistente - Romance Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora