Capítulo 16

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Capítulo 16

— Mamãe? – a menina cutucou o braço dela. – Mamãe?

— Hm. – Dulce respondeu baixo e fraco.

— Mamãe. – a pequena disse, elevando um pouco a voz.

— Que? – abriu os olhos com dificuldade. – Quem?

— Mamãe! – esbravejou, por fim. – Mamãe!

— O que? Que? Que? – Dulce arregalou os olhos. – Filha? – olhou ao redor e não conseguiu identificar a menina. – Filha!

— Aqui, mamãe! – gritou. – Aqui!

— Aqui? – forçou a vista, mas não conseguia enxergar nada além de um borrão preto. – Aqui onde? Filha!

— Mamãe, aqui. – puxou a barra da saia dela.

— Filha! – Dulce abaixou-se rapidamente e viu a mancha vermelha sobre aquele borrão preto que se mexia. – Filha, eu não... não te vejo. O que é isso? – tentou tocá-la. – O que é isso em você? Por que está borrada? E por que... por que tem essa mancha vermelha?

— É porque me machucaram. – disse com a voz chorosa. – Me machucaram muito.

— Quem? O que houve? – desesperou. – Quem tocou em você? Quem?

— A mesma pessoa que te machucou, mamãe. – disse conformada. – Doeu em você e doeu em mim.

— O que? Não, não, não! – tentou tocá-la, mas a mão atravessou o gelado borrão preto. – Ah, não! Não, não, não, por favor, não!

— Estou machucada. – afastou-se devagar. – E bem triste. Não gosto quando você e o papai brigam assim.

— Eu também não, eu não... – correu atrás dela. – Volte aqui! Por favor, não vá embora!

— É muito triste ficar longe de vocês. – suspirou. – Tá doendo muito, mamãe. Não era a hora.

— Não... não, não, não, não! – arregalou os olhos. – NÃO! FILHA, NÃO! – Dulce correu até ela, e parecia que quanto mais corria, mais aquele borrão ia se afastando. – NÃO! FILHA, NÃO, POR FAVOR! NÃO! – a menina desapareceu por completo. – NÃO! NÃO! NÃO!

◊◊◊

Dulce abriu os olhos e sentou-se na cama com desespero, seu coração batia acelerado, o suor escorria pelas costas e as têmporas, sua boca havia secado por completo.

Olhou para o lado e viu que Christopher não estava mais na cama, então abaixou a mirada, levou uma das mãos à barriga e fechou os olhos, tentado respirar fundo para recuperar o fôlego.

— Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco... – rezou baixinho, sem tirar a mão do ventre.

Repetiu três vezes a oração, e ao final da última vez, sentiu como a respiração normalizava-se e o coração voltava a bater em um ritmo calmo e aceitável.

Encostou-se na cabeceira da cama, encarou o lado vazio do noivo e suspirou desanimada ao lembrar-se de como o clima terminara com ele na noite anterior.

Haviam discutido muito, o clima se tornara frio e doloroso, não trocaram uma só palavra durante o restante do dia, e o senador se convertera em um gelo tão grande, que nem mesmo a abraçara para dormir.

Dulce pensara que o clima voltaria ao normal na manhã seguinte, mas agora que notava que ele nem mesmo se despedira dela antes de ir ao trabalho, sua esperança desaparecera por completo.

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