Dulce permaneceu com os olhos fechados por mais alguns segundos. Primeiro o corpo parecera entrar em choque, depois ela sentiu os cacos de vidro da janela voarem sobre si e, por fim, a ardência foi consumindo-a até que a dor fosse quase insuportável.
As pernas se contraíram, e o primeiro impulso foi o esforço para segurar o braço, mas ao tentar mover-se, sentiu a os pulsos ainda presos à cama.
Abriu os olhos e percebeu Anthony ainda parado à sua frente, mas decifrá-lo ou simplesmente mirá-lo agora clareza parecia impossível. Todo o ambiente mudara ao redor, os tiros haviam desaparecido e só o que ela ouvia eram as batidas descompassadas do próprio coração.
Girou o rosto e encarou o ombro direito, vendo o sangue que escorria pelo tiro recebido, e seu único pensamento foi: María Fernanda.
— AH! – o grito saiu tão alto e tão desesperado, que o homem até mesmo assustou-se. – AH, AH! SOCORRO!
— QUIETA! – Anthony reclamou, segurando o próprio braço, e só então ela notou que ele também fora atingido.
A morena mirou a janela, percebeu-a estourada e concluiu duas coisas: a primeira, era que fora o impacto daquele tiro que desestabilizara Anthony e o impedira de atirar na cabeça dela. E depois, que aquela janela aberta significava que mais pessoas poderiam ouvi-la e assim, talvez, pudesse conseguir socorro para salvar a filha.
— SOCORRO! SOCORRO! – usou toda a força que tinha para gritar. – SOCORRO! AQUI NO QUARTO! SOCORRO!
— Já mandei ficar quieta! – ele jogou a arma na cabeça dela. – PORRA! QUIETA! – voltou a apertar o próprio braço. – MAS QUE MERDA!
— Ai! – ela fechou os olhos ao sentir a arma bater em sua têmpora, e a cabeça pendeu para atrás, contra a parede.
A porta do quarto abriu-se em seguida e Christopher entrou como um furacão no local, usando o colete a preto por cima da roupa.
Dulce demorou alguns segundos para abrir os olhos, e quando o fez, pensou ter visto o noivo em tal local. Será que estava delirando? A dor a havia feito imaginar o que tanto queria? Tudo aquilo estava realmente acontecendo?
— Nem pense, Uckermann! – Anthony levantou-se para pegar a arma que jogara na morena.
— Filho da puta! – Christopher o puxou em seguida, derrubando o homem no chão. – EU VOU TE MATAR! – lhe deu o primeiro soco. – Com as minhas próprias mãos! Seu filho da puta!
Dulce piscou seguidas vezes, talvez tanta dor a estivesse confundindo, talvez já estivesse morta e aquilo tudo era, na realidade, uma espécie de purgatório.
Ela olhava a cena, mas voz nenhuma se desprendia de sua garganta; estava em choque.
— Por cada dia que esteve com ela! – Christopher socava o homem com força e de forma tão seguida, que não parecia sequer respirar. – Por cada vez que chegou perto dela! – apertou-lhe o pescoço. – Nunca mais você vai tocar em ninguém! Ninguém! – sentiu a mão doer, mas não parou. – Eu vou te matar! Seu demônio! – notou que o homem desmaiara.
Então parou, olhou com o rosto marcado pelos socos, e o sangue que escorria da têmpora e da boca.
Christopher respirou fundo, permitiu-se pensar e acalmar-se pela primeira vez. Olhou para o lado e viu a morena na cama, mirando em sua direção, mas com o olhar visivelmente perdido.
— María. – levantou-se e passou as mãos ensanguentas no lençol da cama. – María, María, María... – aproximou-se dela. – María...
Dulce piscou lentamente e subiu os olhos até encontrar-se com os do homem. Naquele minuto, ela teve a certeza de que havia morrido e agora alucinava por completo; não era possível que visse Christopher.
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Jogada Política
RomanceSe tanto a queriam, ela estava ali. E permaneceria, não por gosto ou escolha, mas por uma necessidade inerente ao próprio caminho. Se tanto haviam desejado uma nova rainha, agora eles a tinham. Doce, mundo doce àquele do tráfico e da política. Do...