Capítulo 21, parte II

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— Querida. – o médico disse com suavidade.

— Eu posso me trocar? – ela pigarreou ao perguntar. – Sim ou não?

— Dulce... – o médico a encarou.

— Eu sei o que tenho que fazer. – encarou o chão. – Ir para casa, descansar e esperar enquanto vejo partir mais uma criança que nunca vou conhecer. – então o mirou. – Não tem que me explicar nada, eu sei de cor cada dia dessa lição. Agora já posso me trocar?

— Sim, você pode. – Berto disse, sentido por relatar tal notícia à morena.

Dulce deixou a maca em seguida, a assistente a levou até o banheiro enquanto Christopher mantinha-se encarando a imagem gravada na tela, derramando seguidas lágrimas ao admirar aquele bebê.

— Eu sinto muito, Christopher. Não ouvir os batimentos pode ser uma dificuldade normal numa gestação tão recente, mas não consegui identificar o coração nem mesmo pelo color code. – Berto disse, atraindo a atenção dele. – Sei que este momento será especialmente difícil para a Dulce, mas vocês são jovens, saudáveis... e se assim desejarem, poderão tentar de novo. – o senador deu um sorriso murcho. – Eu sinto muito por vocês, de verdade.

— Obrigado. – disse baixo. – Posso levar uma cópia desse ultrassom? – apontou a imagem travada na tela. – Não importa se não vamos chegar a conhecê-lo. Ele esteve com a gente durante esse tempo, ele foi... ele sempre será parte da família.

— Claro que sim, Christopher. – disse suave. – Claro que sim. Preparo uma cópia agora.

— Obrigado. – secou a lágrima e mirou a tela novamente. – É... obrigado.

Dulce voltou à sala cerca de cinco minutos depois, sentou-se ao lado do noivo, e embora ouvisse tudo o que o médico dizia, não escutava nada. Sua mente estava longe, seu coração estava aos pedaços, ela sentia que nada mais importava; havia perdido o chão.

Ainda assim, não derramou uma só lágrima, despediu-se educadamente do homem e voltou ao carro com Christopher.

— Senhor? – Dario abriu a porta do carro.

— Vamos para casa, Dario. – Christopher avisou-o e deu espaço para que a morena entrasse primeiro.

— Quero ir à Basílica. – Dulce virou-se para o noivo.

— Agora? – Christopher arregalou os olhos.

— Sim. – assentiu e mirou Dario. – Por favor.

— María, não podemos. – disse baixo. – A essa hora, em plena luz do dia, com...

— Eu preciso ir à Basílica. – ela corrigiu o pedido.

— Podemos fazer isso em outro momento. – Christopher pediu, mas ela negou. – Agora não é possível, Dulce, e falo sério. Além de estar cheio, você ouviu tudo o que o médico acabou de falar: precisa descansar.

— Eu preciso ir à Basílica. – ela repetiu devagar. – E agora.

— Agora é perigoso. – ele rebateu, falando tão devagar quanto ela. – Entre no carro e vamos para casa, por favor.

— São duas as opções: vamos à Basílica agora ou vamos para casa, e assim que você piscar, eu vou sair e irei à Basílica. Você escolhe. – entrou no carro.

Chinga... – ele murmurou, negando com a cabeça.

— Senhor? – Dario o olhou.

— Espere aqui fora, por favor. – pediu e entrou no carro, fechando a porta. – María. – sentou-se mais perto dela. – Meu amor. – ela o olhou. – Também me dói, eu também sofro por isso, e não quero que você passe sozinha por esse momento. – estendeu a mão para ela. – Eu estou aqui, eu quero estar do seu lado.

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