Capítulo 37

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Capítulo 37

Christopher despertou rapidamente naquela quinta-feira, logo nos primeiros acordes da música na Alexa, mas calou a caixinha e manteve-se em silêncio na cama, deitado e com os olhos fixos no travesseiro vazio ao seu lado.

A noite anterior havia sido um verdadeiro inferno. E agora ele parecia repeti-la em um looping ingrato em sua mente.

Deixara o trabalho já por volta de oito horas da noite, e confessava que o tempo exagerado ali fora somente para suprir o baque de chegar ao apartamento e não ter a presença de Dulce; sabia o que enfrentaria e recusava-se a vive-lo.

Ficara quase 40 minutos deitado no sofá da sala, encarando as fotos que tinha espalhado pela casa com ela, lembrando-se de cada momento que haviam vivido ali dentro.

Sua mente parecera percorrer cada dia daquele intenso romance: a primeira noite no bar do apartamento, a sensação de ver o rosto dela sem a máscara, a forma como descobrira cada detalhe do corpo da morena, e como o sorriso dela se tornava fácil cada vez que se olhavam.

Ainda era capaz de rir sozinho quando se lembrava da expressão envergonhada e confusa que ela tinha quando acordara no dia seguinte e sequer lembrava-se do caminho percorrido entre o bar e o quarto do homem.

Lembrava-se dos dias que correra atrás dela, da surpresa de encontrá-la no apartamento de Christian, de como ficara extremamente maluco e perdera todo o juízo ao vê-la outra vez; a sensação de rever Dulce nunca lhe deixava o peito.

Ele se encantava por aquele momento, aquele tipo de momento que fazia o coração errar as batidas, que prendia sua respiração e deixava apenas uma camada fina de ar escapar entre seus lábios enquanto os olhos prendiam-se em cada detalhe dela. Sua memória se aguçava quando o assunto era Dulce, esquecia-se de todo o resto e tudo dentro de si falava, pensava e vibrava por ela.

Imaginar uma vida juntos fora natural e espontâneo, e não importava quantas vezes quisessem impedi-los de construir uma família, porque em seu coração... em seu coração, aquela já era uma realidade. E não havia chance de deixar de ser.

Mas de repente, sem que pudesse controlar, os olhos haviam caído inevitavelmente sobre o porta-retrato que tinha com a foto do irmão, e ali o senador lembrou-se de toda a carreira construída.

Moldara toda sua vida para poder viver o que agora podia chamar de realidade. Ele estudara, lutara, abrira mão de muitas coisas, mas acima de tudo, investira 100% de si para que agora o chamassem de senador.

A falta de Dulce era insuportável, mas arriscar a própria carreira lhe tirava o chão. Era senador.

Ele conquistara o que mais queria, e a morena precisava entendê-lo.

Naquela manhã, antes mesmo de sair da cama, puxou o celular e abriu a rede social, parte de si torcia para que a noiva tivesse caído em si e deletado tal conta.

Mas Dulce era teimosa, Dulce tinha aquela insuportável e persistente mania de nunca desistir, fosse como fosse. Ao acessar a página, então, ele deparou-se com um novo texto.

@SomosResistencia
Contagem regressiva para o fim de uma dor que durou seis anos.
Sigo firme no mesmo pensamento e na mesma convicção de tantos anos atrás. Não há história que mude aquilo no que se acredita e o que é certo.
O passado não se apaga, se respeita.
Não vamos parar! #EstouAqui #EuResisto

A mensagem, publicada há apenas seis minutos, já tinha mais de 300 mil likes e contava com diversas mostras de apoio que usavam: #EuResisto

A conta chegara ao marco impressionante de 1.5 milhão de seguidores; aquilo era uma loucura. Uma perigosa e arriscada loucura.

Jogada PolíticaOnde histórias criam vida. Descubra agora