第三十四 Os Outros Herdeiros

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Deve-se ter passado ao menos uma hora desde que saí daqui, irritadiça por Hisashi não me achar forte o suficiente para me realizar sozinha. De certo, se Yuki não tivesse indeferido meu tiro, eu teria atingido o objetivo sem precisar ter que enfrentar aquele ser fantástico lá fora, mas foi graças a ela que agora eu tinha companhia para que fizéssemos uma pequena fogueira dentro da cabana onde tomamos um chá bem quente e eu... calcinei meus ferimentos com ferro quente, chorando como uma criança, enquanto que ela... resfriou-o até que não doesse mais.

Esperamos. Esperamos. Esperamos e conversamos mais sobre aquele lendário ser que ela era. Yuki pertencia a Tribo do Céu, mas não vivia no Santuário desde muitas eras atrás, quando seus ancestrais cometeram uma terrível desonra. Os herdeiros da neve, descendentes de Fuijin, deus dos ventos, eram chamados de Yuki-oona, ou espíritos da neve. Eles comumente habitavam as montanhas nevadas e apareciam apenas durante o inverno como seres joviais belos que cantavam para seduzir e atrair viajantes desavisados — geralmente homens —, para o meio da nevasca onde morriam em decorrência do frio extremo ao qual eram expostos.

Assim como os Adoradores do Sol que todos os dias se transformavam para que o sol nascesse, os herdeiros da neve faziam o mesmo, explicando o motivo pelo qual a neve caia, mas eu, desde que era criança, não sabia de onde vinha. Os herdeiros foram expulsos do Santuário, mas clamaram pelo perdão de Maatsu Ohkami e, desde então, segundo Yuki, eles vivem nos arredores do Templo da luz e o protegem contra invasores, por isso havia neblina por todos os lugares quando chegamos as cachoeiras.

Questão maior era que a pobre garota chorava quando lembrava do quão difícil era continuar vivendo numa terra onde o sol era um terrível e cruel inimigo graças aos desatinos dos homens, provavelmente dos malditos Senhores da Guerra, provocavam aos dela.

Nosso silêncio remetia à minha preocupação, com Hisashi, com Akemi, que até então não haviam voltado. Mas isso começou a mudar quando ouvi passos subindo pela escada de madeira. Isso me alertou para o perigo. Poderia sim ser apenas eles.

Mas, e se não fosse?

Yuki e eu corremos até o canto direito da cabana e nos ocultamos na escuridão que a ausência de janelas naquele canto provocava. Eu ergui uma flecha e a preparei até o momento em que o vi.

— Izanami?

Quase atirei.

— Mestre Hisashi! — surjo das sombras ao seu olhar. — Como foi? Conseguiram encontrar os outros corpos?

— Encontrei o que fui procurar, mas não sei de Akemi até então. Quem é essa adorável criatura?

Ela sorriu, como um delicado e adorável floco de neve.

— Essa é Yuki, ela me salvou quando um... uma especie de cavalo de fogo nos perseguiu pela floresta. Yuki, esse é meu mestre, Hisashi. Sagrados divinos, Hisashi-sensei, esse lugar é tão perigoso para se andar a sós!

Ele se sentou junto a fogueira que se encontrava a luz do meio dia.

— Certamente. Outros homens e mulheres tentaram atravessar por esse lugar mas nenhum viveu para contar, ao menos foi o que encontrei por uma grande extensão de terra por onde perambulei. Existem armadilhas perigosas, animais fantásticos pela terra e pelo ar. Além de... outras presenças.

— Outras presenças? — olhei para Yuki, segurava sua pequena mão. — Yuki diz ter se separado de sua família. Ela não conseguiu avançar por causa da barreira e dos seres fantásticos.

— Não sei quem pode ser, mas com certeza não é aliado.

Nós nos sentamos junto a ele, que parecia mais preocupado, deveras pensativo e distante quanto a algo que o incomodava. E com incômodo, eu toquei em seu ombro chamando sua atenção.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora