(五) Um Passado Honrado

117 14 0
                                    

— Izanami, Filha da desonrada casa de Makal.

Era a primeira vez que meu irmão e eu nos encontrávamos com o mestre Tesauro. Papai nos serviu um Tamagoyaki grande enquanto mamãe terminava seu banho matinal nas termais. Eles estavam com pressa para sair, mas precisavam aguardar até que o mestre entrasse por aquela porta para nos recolher.

Izanagi estava empolgado, noite passada mal dormiu, passou as últimas horas no Dojo olhando para os Guardiões mais velhos ensinando seus discípulos coisas que para ele não serviam de nada. Papai sempre dizia isso: "Nagi, meu filho, aprenda o que deve e não o que acha que deve. Você deve ser como uma escultura de gesso; sem imperfeições, pois os calombos tornam a obra maculada e feia".

Eu olhei atravessado sobre minha xícara, queria passar despercebida, mas papai logo reparou em mim e acariciou meus cabelos.

— Tudo bem, querida? Por que parece preocupada com o dia de hoje?

— Eu estou bem, papai, mas a mamãe disse para economizar energia física para que a mental floresça.

— Seu irmão parece indiferente com isso.

Meu irmão comia rapidamente e pedia por mais, mal reparava nos cabelos da cor da lua caindo sobre seu guisado grosso.

E foi quando ouvimos batidas em nossa porta e eu me assustei.

Uma voz masculina chegava pelo corredor, assim como a presença do mestre que tinha um sorriso gentil. Izanagi limpou a boca, sorriu e eu apenas corri para que mamãe me escondesse. Ele era grande e assustador.

— Mestre Tesauro, é uma honra recebê-lo em nosso lar — papai reverenciou respeitosamente. — Esses são meus filhos, os gêmeos Izanami e Izanagi.

— Minha humilde pessoa nunca será capaz de entender a grande honra que deve de ser patriarca dos Jisshi que representam tão bem a progênie divina — ele se ajoelhou diante do Nagi e pegou a sua mão, ele riu e aproveitou. — depois, quando se aproximou de mim, eu só queria correr dele. — E essa é a princesa do céu.

Ele estende a sua mão grande e eu olho para a mamãe, ela acena que sim e eu a pego, ele beija sobre os meus dedos e sorri.

— Senhor Makal, estou honrado por ter sido recomendado para ser sensei dos teus filhos, espero estar à altura dessa atribuição.

— Você é o melhor no que faz, mestre Tesauro. É amplamente recomendado pelos discursos motivadores e pelo método do bom exemplo. Acreditamos que os nossos filhos têm muito a aprender com a sua sabedoria acerca da verdade suprema.

— Devemos ir para o conselho — disse a honorável mamãe, contente com o grande dia de hoje. Nossa iniciação às boas práticas. — Filha, comporte-se, sim?

— Sim, mamãe!

Sempre acreditei que o travesso fosse Izanagi. Eu, se assim o quisesse, me sentaria no dojo e só falaria quando perguntada. Sou muito inteligente! Tão inteligente quanto o mestre Tesauro. Tão claro quanto às suas muitas explicações sobre o que significava acordar muito cedo para ver os adoradores do sol fazendo o que melhor sabiam; se oferecer para raiar o dia.

Mestre Tesauro nos apoia pelos ombros, nos sentamos sob o tronco da velha cerejeira e olhamos para o horizonte, a esperar. Acordamos mesmo antes das galinhas para que víssemos pela primeira vez como o sol nascia. E foi maravilhoso, pois ali, metros adiante de nós estavam as famílias dos Adoradores. Jovens, anciãos, homens e mulheres trajados em vestes que eram douradas assim como seus olhos e cabelos. Um deles, um shōnen se sentou no chão em posição de lótus por um instante, antes que subisse aos céus como um raio de luz e depois tudo se iluminasse lentamente, num estampido de luzes e cores.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora