Longinquamente, o som dos grandes gongos anunciavam a presença de inimigos no Santuário. Eram o alerta que forçava famílias a se esconderem no subterrâneo ou onde catapultas e fogo não os atingissem. Naquele dia, quando todos acreditavam que a paz enfim estava devastada, o gongo foi mais uma vez tocado anunciando que uma nova batalha estava se desenrolando.
As linhas que desenhavam o Templo eram perfeitas para que qualquer um se movimentasse por qualquer lugar. Naquela batalha, o que os guerreiros de ambos os lados menos queriam era se esconder.
De um lado, as dezenas de Akhans desonrados pela ideia de Tesauro em findar com a vida de tudo e todos na terra. Do outro, remanescentes da invencível Guarda do Trovão, cuja única missão era lutar para que o mundo vivesse outro dia.
De um lado, guerreiros que só precisavam se enraivecer para que um poder primitivo e devastador se manifestasse. Do outro, guerreiros que possuíam a única arma que poderia matar tantos quanto possível com um único golpe certeiro.
Entre eles, poderosos feiticeiros predispostos e nascidos para a guerra; pelo caos, pela morte, pela conquista de tudo e de todos. Vilipendiado aliados e inimigos mortos em batalha, usando-os mais uma vez como escravos das suas próprias vontades a medida em que caminhavam numa marcha em direção ao coração do Yomi; um selo, um alçapão de barro cujos kanjis remetem ao passado, transpiram energia cruel dos Akunushi que se amontoam diante de si, esperando o momento em que a ruína dos Kami transparecerá através da falha dos seus Shinson.
Akemi e Hisashi desviaram dos que davam e enfrentavam os que podiam. Ambos ainda fracos pela última batalha contra um inimigo que tão fácil os derrotou, usando apenas seus próprios sentimentos contra eles mesmos. Essa era uma estratégia que vencia todas as outras.
Quando chegaram ao selo, hordas de soldados, ex-Guardiões e Akhans estavam a batalhar no grande campo de concreto que por milhares de eras esteve protegido pelos sábios, magos e feiticeiros de ordens tão antigas quanto o conhecimento.
Ali, eles vislumbraram o momento em que o poder da feiticeira se mostrou e um raio de luz vermelho repeliu a todos como uma poderosa explosão. Escombros daquilo choveram como sangue do céu, que escureceu de repente. Nuvens cilíndricas se formavam ao redor do raio vermelho, enquanto o jovem casal se ergueu sobre a terra.
— Está tudo bem?
— Sim, não me machuquei — a mestiça dos cabelos dourados moveu uma mecha para trás da orelha, mas indagava mentalmente o que pensava em fazer em seguida. — Hisashi-san... você não pode fazer isso.
— É o único jeito, Akemi-chan. Não estamos em nosso melhor estado, não podemos nos permitir a derrota final.
Ela lhe segurou a mão.
— Então... vou me juntar a você.
— Co...
Ela não permitiu respostas, apenas abriu a boca o máximo que podia e segurou seu ventre enquanto seu corpo se movia desajeitadamente até o chão novamente onde as mãos agarraram a terra.
— Akemi-chan...
— Me de... — ela urrou de dor. — Me de alguns segundos!
Ele consentiu com a boca e olhou por sobre os ombros onde viu a feiticeira entoando sua magia. Seu corpo estava cercado por uma aura vermelha incandescente enquanto flutuava a centímetros do chão.
Sabido, Hisashi usou seus anos de treinamento com o saudoso Mestre Kim para que libertasse seus poderes a partir da própria vontade. Ele ofegou com a boca fechada e tudo se manifestou naturalmente. Primeiro, uma barreira feita a partir do próprio sangue enevoado que lhe conferia um escudo e depois, o corpo avermelhou-se e expandiu-se forçando a estalar todos os ossos.
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O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)
Fantasy[VENCEDOR DO PRÊMIO #THEWATTYS2021 EM FANTASIA!] Exilada de sua casa e vivendo entre lobos, Izanami não tem lembranças do seu passado, de quem ou o que a levou até a floresta quando, dez anos antes, a desonra do seu estimado mestre tirou...