A noite investia sobre o Templo do Raio. Naquele dia onde o frio impôs sanção dura aos movimentos de todos os guerreiros, a batalha tornou-se acalorada com ambos os lados perdendo seus homens e suas mulheres.
Quando os jovens guerreiros saíram do Templo, o mundo parecia estar se desfazendo sobre o próprio peso. Mas, bastou que a notícia da derrota de Tesauro começasse a espalhar entre as casas, depois entre as Tribos, depois por todo o Santuário para que todos rapidamente soubessem que a disputa havia chegado ao seu epílogo.
Isso quando os herdeiros do trovão somaram a maioria. Os seres fantásticos haviam descido para ajudá-los nessa empreitada e, por mais motivados que eles estivessem para garantir a vida de seu mestre, os dissidentes Akhans pararam depois de muito tempo para pensar que estavam lutando uma guerra na qual nunca teriam a chance de vencer, pois lá, cada um lutava por si mesmo e sem fim, enquanto que os herdeiros lutavam uns pelos outros, infindavelmente.
Todos sabiam que suas vidas desonradas seriam findadas, mas também sabiam que abandonando suas armas, a disputa estaria encerrada e a vida lhes seria garantida, pois ainda eram dignos de redenção.
Os céus lentamente se abriram quando o raio de luz que lembrava sangue desapareceu e voltou para dentro do Yomi, de onde apenas os dois destemidos estavam regressando. Seus corpos estavam destruídos, mas ambos tinham um fator natural de cura que amenizou suas próprias dores.
— O Daimyo virá e não haverá piedade para nenhum de vocês — amaldiçoou o Senhor Kota, que, possado de um ódio sem fim, encarava Hishal e seu irmão, além de Zu'rien.
— Pode mandar os seus Samurais e seus Yokai, nós iremos destruí-los... da mesma forma que destruímos vocês.
— Eu farei você pagar por isso — sentenciou a Senhora Mina.
Ambos os Senhores da Guerra estavam lançados por correntes de luz, unidos um ao outro sem que pudessem usar suas mãos para possuir e amaldiçoar.
Porém, um rugido a se aproximar e passos esmagando a terra prometiam trazer luz à escuridão daquela noite quando os Mestres, Guardiões e mesmo os homens rendidos de Tesauro se afastaram diante da chegada do grande dragão na umbra parecia enfurecido.
Com um rugido, os Senhores da Guerra amaldiçoaram os seus algozes enquanto a grande fera cuspia chamas sobre ambos e o odor da sua agonia subia aos ares.
Cansados de batalhar, todos enfim estavam voltando às suas casas quando a poeira cessou e a primeira erva verde nasceu no jardim do Templo tempos depois.
Passaram-se dias e noites, uma estação inteira até que todos abaixassem suas cabeças sobre o recinto de culto e dedicassem a Maatsu Ohkami toda a sua glória e suplicas por perdão. Honrados eram Izanami e seu irmão que trouxeram de volta a esperança daquele lugar e a usaram para sinalizar paz ao sagrado Santuário.
Um reino foi instaurado, assim como um novo conselho que, como uma árvore de cerejeiras, renascia todo ano, maior e mais bonito que o anterior. E o primeiro rei foi Nabuk, o destemido representante dos Akhans que havia salvado tantas crianças quanto possível naquele dia.
As crianças eram o futuro de uma nação devastada pela desonra e pelo senso de vingança que cresceu no coração de todos e por muitas eras, mas que no final precisava apenas se unir e respeitar o que a Grande Verdade dizia; eram todos um só, e precisavam servir uns aos outros para que houvesse paz.
— É uma honra incomensurável ter você como meia-irmã... Akemi-chan!
Akemi não hesitou em abraçar Izanami docemente, não querendo mais soltá-la.
— Para onde vocês vão agora? — perguntou mais, ao saudoso amigo e sensei que, junto a amada, poderiam escolher seu próprio destino a partir de então.
— Uma serva de Tsuna disse que nos ajudaria a descobrir uma forma de gerar um filho do nosso sangue sem riscos para Akemi — respondeu ele, contente.
— Falando em filho, para onde foram Izanagi e Zu'rien? — perguntou Akemi.
— Izanagi se obstinou com a história que Hisashi contou sobre Tomoe e o Clã Raito, sobre os segredos escondidos no Templo da Luz e o temor de que Himiko pudesse escapar de lá. Disse que algo que havia lá poderia nos ajudar a derrotar os Senhores da Guerra remanescentes — explicou a Izanami.
Logo depois se esforçou para olhar para a esquerda, onde o general estimado e o irmão surgiam conversando.
— Então a família de jovens primatas enfim aprendeu o necessário para sobreviverem sozinhos nessa imensa floresta — disse uma voz gentil pelas costas de Izanami.
— Mestre Kim! — Hisashi largou a noiva e praticamente sufocou o velho mestre com seu abraço de urso. — Por todos os Divinos, o senhor vive!
— Não viverei se quebrar meus ossos!
Ele o soltou, mas não resistiu e o abraçou de novo, arrancando do velho mestre os ganidos de desconforto.
Izanami, vendo que Hisashi enfim havia encontrado a paz que há tempos precisava, apenas sorriu vagamente.
Porém, algo a fez retomar a consciência endurecendo as faces.
— Espera... isso quer dizer que Zu'rien e eu também somos parentes! — observou indignada.
Todos riram.
~~ 終わり~~
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O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)
Fantasy[VENCEDOR DO PRÊMIO #THEWATTYS2021 EM FANTASIA!] Exilada de sua casa e vivendo entre lobos, Izanami não tem lembranças do seu passado, de quem ou o que a levou até a floresta quando, dez anos antes, a desonra do seu estimado mestre tirou...