(四十四) Após as Provações

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— Zu'rien, Filha de Tesauro.

— Dias depois.

Uma luz atravessa as cortinas, reflete sobre meus olhos prenunciando a chegada de um novo dia. Ainda não consigo distinguir cores e formas, apenas sei que é Izanagi quem as abre porque vejo sua silhueta sempre atenta a qualquer movimento suspeito, mas nesse momento sei que está completamente vulnerável.

Eu me movo na cama e cubro meu corpo nu com as colchas felpudas antes de enfim me erguer até ser percebida. Ele fecha as cortinas e uma fresta de luz branca é tudo o que resta antes de ele pular de volta na cama e tomar o meu rosto entre suas mãos, afagar meus cabelos curtos e beijar meus lábios suavemente enquanto toco-lhe o peito liso nu.

— Você não dorme bem já faz dois dias.

— Desertar é motivo para insônias, Zu'rien — suas mãos pairam sobre o canto do meu rosto e ele esfrega seu nariz contra o meu. — Já estamos nesse lugar por dois dias, não acho que seja seguro permanecermos aqui por muito mais.

— Você ainda está ferido por lutar com aquele Samurai. O ferimento em seu abdômen foi profundo e infeccionou, mas a pasta e as suturas de formigas-de-fogo do comércio devem ter ajudado.

Ele balançou a cabeça.

— Tinha cheiro de peixe.

— Era feito de peixe — toco seu nariz com um dedo e o empurro para trás ao tocar sua testa. — Por falar em peixe, gostaria que você fizesse a gentileza de ir lá fora comprar algo para eu comer. Estou com fome, e preciso comer por dois.

Em meio a um esconderijo nos subúrbios da Tribo da Terra, Izanagi e eu encontramos um refúgio minimamente seguro desde que nossas vidas tornaram-se um caos; ele por abandonar o seu estimado mestre e eu por assumir o assassinato de um Senhor da Guerra e ser caçada por metade do seu exercito por toda a cidade.

Fora a desordem e as mortes provocadas pelo sinal de Hishal.

A partir de então, o escuro ditava as mais severas leis que devíamos seguir para ter uma mínima chance de sobreviver até o retorno de Izanami — isso se voltasse ela fosse, por bem estivesse morta nesse momento.

A única coisa que levantava uma mínima esperança, era saber que Hisashi a acompanhava e que mandei um Kamaitachi atrás deles para avisá-los. Certamente ele não daria sua vida por ela, mas ela deveria dar a dela por ele. Não acredito e não posso imaginar que Izanagi faria o mesmo se ele tivesse ido com Izanami ao invés de Hisashi... ele nunca soube o valor da dedicação.

E a união foi o que ditou nossa existência, pois, poucas horas depois que saímos fugidos do Santuário, Tesauro ordenou executar o que tinha me dito.

E toda erva, todo animal e toda água estavam sendo destruídos pelas mãos dos seus homens cruéis.

As notícias corriam rápido.

— Eu não propus em momento algum que te serviria, mulher — ele se levantou e caminhou descalço até as cortinas novamente. — Até porque, ainda espera pelo regresso desse Hisashi... não?

Eu forcei um sorriso às escuras.

— Hisashi é meu único verdadeiro amigo e a quem amo e honro como a um irmão. Não pense que ele recebeu de mim o que você recebeu... Izanagi-san. Doce porém nada inocente, Izanagi.

Ele fechou a cortina e somente sua silhueta alta e de cabelos longos se sobressaiu.

— Não é alguém para matrimônio.

— Não vou terminar como uma cortesã barata! — meu tom enrijece. Dou a volta na cama. — Mereço muito mais... em todos os sentidos.

Ele segura a minha mão e vira o rosto.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora