(三十七) A Ponte para a Paz

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O silêncio deixou de ser um acalento e tornou-se um sinal de constante alerta. Sobre ruídos abaixo de nós, a sensação de estarmos sendo seguidos, a minha inegável preocupação com aquela gentil shojo que, se ficasse sozinha, poderia despertar o que mais temia.

Me lembro dos olhos fumegantes, dos cabelos flamejantes, dos ruídos e das espadas apontadas para o meu rosto quando a enfrentei. Não havia Akemi dentro daquilo, apenas um ser desprovido de humanidade ou sentimentos.

Mas então, um chacoalhar sob as águas nos fez olhar imediatamente para o nosso lado esquerdo, como se um pequeno peixe ou um predador dos mares estivesse próximo.

Eu olhei sob meus pés descalços, e havia uma sombra passando abaixo de nós. A neblina tornava tudo mais silencioso, dando a impressão de estarmos novamente cercados.

— Hisashi... sensei.

— Não se mova... Izanami-sama.

Yuki olhou para todos os lados, segura sobre minha cabeça, com dúvidas.

Uma baleia?

Um marlin!

Sua inegável espada-nariz não nos enganava. Apontei para frente e Hisashi notou, era apenas isso; um peixe grande na superfície.

Porém, até onde eu me conhecia por gente, peixes não costumavam voar. A menos que ele fosse arremessado aos ares de repente e um rugido, seguido de uma imensa boca saísse das águas cerca de dez metros de distância de nós para apará-lo em pleno ar.

— Sagrados Divinos!

Uma imensa criatura com uma boca ainda maior saltou sobre as águas arremessando tudo ao seu redor para longe, e nós três éramos o tudo. As águas formavam um cilindro, eu me vi de cabeça para baixo, sendo atirada, prensada, arremessada para todos os lados enquanto engolia água e buscava apoio para ao menos subir.

A criatura certamente nos viu, e estava tão próxima que, com apenas um chacoalhar de barbatanas, estava debaixo de nós novamente.

— Yuki!

Eu sai correndo para procurá-la quando vi Hisashi surgir na superfície com ela em seus braços, tentando mantê-la sobre as águas que se revoltavam à medida que a criatura nos cercava. E então, eu senti o golpe de algo em cima de mim, provavelmente a sua cauda que me arremessou de volta para dentro num cilindro. Eu fechei a boca para não engolir água, estava perdida, senti-a entrar em meus pulmões antes de abrir os olhos e reparar na sua aparência serpental; as três cabeças, os olhos grandes e a boca cheia de dentes. Eu puxei meu arco e preparei uma flecha, mas ele era rápido, esguio, com um corpo escamoso e queria me abocanhar.

Eu desviei, no exato instante em que senti sua cabeça sobre meus braços e o corpo me jogando para cima e para fora. Ele deu a volta, eu olhei para cima e meus amigos estavam lá, tentando se afastar. Eu me voltei para a criatura, mas o ar já me faltava, por isso decidi que o melhor seria regressar para cima e tomar ar antes que a visse sair das águas.

— Izanami-sama! — ouvi a voz de Hisashi.

A criatura cairia em cima de mim, por isso voltei para baixo, bem quando pensei em algo. Estávamos cercados por água, muita água, e não havia nada mais condutor de eletricidade do que a água. Rugidos ferozes, uma grande boca, uma fome impiedosa fizeram aquela criatura avançar sobre mim, mas eu fechei os olhos e confiei que Hisashi faria algo antes que todos fôssemos destruídos por nossas próprias armas.

Por isso, energizei o meu corpo.

Uma confusão cercou diante de nós e eu senti tudo em mim se eletrificar dolorosamente, como se cada órgão do meu corpo estivesse sendo queimado, mas isso pareceu funcionar contra a criatura que enfim recuou e desapareceu na escuridão mais profunda.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora