Termos usados:
Keikogi: Uma veste tradicional de treinamento e combate (em dojo) usada por homens e mulheres. Composto por uma jaqueta e uma calça com caimento justo, além de um cinto preso na cintura.
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— Dois dias depois.
Não há honra numa luta pela qual não queremos lutar. Não há honra em tomar seu companheiro por inimigo. Não há honra em descontar a sua ira sobre as costas daquele que nada lhe fez. E, pior... esfacelar as esperanças que uma ou outra pessoa começavam a ter em alguém apenas para provar ser invencível.
Ouço murmúrios, ouço questionamentos e uma breve comoção quando entro no dojo e percebo que ambas as arquibancadas estão cheias, lotadas de espectadores ávidos por duas coisas: um bom embate e uma disputa justa.
E ela está lá, no meio do dojo, acompanhada por Hisashi e trajada num keikogi branco com um cinto fortemente preso na cintura por uma corda.
Seus cabelos curtos estão presos por uma faixa, separando-os da vista. E é o que eu tento copiar quando Hisashi se aproxima de mim.
— Está pronta, Izanami-sama?
— Para ser humilhada diante de todos, inclusive dos grandes Mestres? Certamente que não. Você... tentou interceder por mim?
— Como pediu. Mas Zu'rien acha que voltar atrás é uma desonra e uma covardia maior do que não te enfrentar. Se aceitasse, certamente haveria outros que se achariam no direito de apontá-la, de desafiá-la publicamente e ela não iria recusar, fosse nobres, mestres ou até discípulos.
— Ela não conhece o perdão?
— Ela não conhece sequer a palavra amor.
Os olhos dela parecem cobertos de sangue e excitação, ela parece estar babando de empolgação para fazer o que tanto tinha vontade. E pior, o corpo dela era denso e calejado e eu não sabia sequer brigar.
Hisashi pegou na minha mão e me direcionou até o dojo, sobre expectativas, sobre olhares atentos de todos os Mestres, alguns guardiões, Oba-sama e Akemi, que da arquibancada tinha um olhar vago e preocupado.
Me posicionei diante dela, que apenas desatou o que parecia ser uma tala de ambas os braços e as atirou para o lado, revelando os ferimentos de treinamento.
Um homem de pele escura, traços incomuns e bigode se aproximou.
— Vocês estão prontas? — ele pergunta, ambas acenamos. — Uma luta justa se compreende na ausência de golpes abaixo do ventre. Nada de puxões de cabelo e nem mordidas. Sem ferimentos letais, evitem a garganta alheia.
— Vou te descabelar todinha, arrancar o pó de arroz das suas bochechas rosadas... Izanami-sama.
Eu engoli em seco quando ela me deu as costas. Seus passos descalços passaram a ser a única coisa que ouvimos por um breve momento quando foi até o estoque de armas e recolheu 4 fragmentos de madeira que formavam estacas sem ponta.
Ela suspirou, ajustou os cabelos e se posicionou a minha frente, tão próximo que eu podia ver chamas em seus olhos.
— Se pudesse eu enfiava uma lâmina de verdade no seu pescoço. Essa luta representa toda a minha agonia por você. Digo e repito, não sinto vergonha nem do que sou e nem do que estou fazendo, só quero provar o tamanho da minha dor tirando de todos a esperança que estava se renovando em seus corações.
— Não se importa com a reputação de Hisashi? Ferir-me seria ferir a honra do treinamento que ele tem dedicado a me ensinar. Sou apenas uma discípula.
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O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)
Fantasia[VENCEDOR DO PRÊMIO #THEWATTYS2021 EM FANTASIA!] Exilada de sua casa e vivendo entre lobos, Izanami não tem lembranças do seu passado, de quem ou o que a levou até a floresta quando, dez anos antes, a desonra do seu estimado mestre tirou...