(六) Passado e Presente

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Uma luz persistente vibra por cima das minha pálpebras, quero ter forças para abrir os olhos novamente e vislumbrar o dia que nasce. Quero piscar, quero sentir o torpor dos meus lábios desaparecer para que eu finalmente desperte para a realidade.

Uma sala pequena me cerca. Um par de moveis com cheiro de carvalho me observam, um de cada lado, assim como a cama em que repouso e as cortinas brancas com o kanji "Paz" estão estampadas bem a frente, logo antes de uma presença me trazer a noção de que estou sendo assistida.

— Ei, finalmente acordou — Akemi, a moça que antes me banhou, estava com um sorriso reluzente ao entrar trazendo consigo uma bandeja de madeira com uma porção pequena de comida.

Porém, logo que se achegou, ela abaixou a cabeça.

— Akemi-chan! — me ajusto à cama. — O que aconteceu? Onde estou? — toco os cantos do meu rosto onde uma pulsação persistente me incomoda.

— Está nos aposentos dedicados à sua graça e em total segurança, vossa graça. Veio para cá trazida por Hisashi-san após o ritual que reviveu as suas memórias — ela ergueu a bandeja para mim. — Fome?

— Sempre — rio.

— Peço perdão pela pouca comida — reverenciou com a cabeça. — São tempos difíceis até mesmo para a nobreza.

— Dangos! — adorei de imediato.

Ela riu, um pouco mais animada.

— Isso, Dangos. Dangos, um pouco de pão e uma fruta. Como a senhoria está? Deu certo?

— Eu lembro... Akemi-chan — olho ao redor, como se imagens se firmassem na minha mente cada vez que me esforçava para encaixá-la no meu tempo e nas minhas memórias. — Apesar de não morar aqui, eu me lembro dessas paredes, da vela aromática de cerejeira derretida ali, do canto daquele grou que meu tio criava como se fosse um filho mais novo e o empalhou quando o mesmo veio a morrer. Me lembro até mesmo de você!

— De mim?! Não sou digna!

— Sim, eu me lembro de vê-la com um livro de desenhos e uma caneta de pena preta e branca. Sempre os levava de um lugar para o outro. Sempre sozinha — me arrasto mais para cima. — Por favor, sente-se e coma comigo.

— Mas...

— Por favor! — ofereço-lhe metade do palito de Dango que ela trouxe. — Se passaram dez anos, não foi?

Ela se senta na ponta da cama e presta uma reverência ao pegar o doce de minhas mãos e comemos o primeiro juntas.

— Dizem que sim... eu era tão nova quanto a senhoria na época.

— O que aconteceu?

— Fala dos... eventos?

— Sim. O que fez o Mestre Tesauro naquela noite?

Ela olhou para o chão, triste.

— Tudo o que eu sei foi porque ouvi as histórias dos mais velhos, mas... dizem que o mestre conspirou com os Senhores da Guerra de Oki-no-Shima e juntou tantas pessoas descontentes com o Conselho aqui quanto conseguiu para, dizia ele, desarmar um "golpe de estado". Nisso ele estava certo... foi o Conselho quem tentou matá-lo, mas ele reagiu e, disse Hisashi, ensinou os seus homens como matar cada um dos Eremitas do Trovão; suas forças, fraquezas, a forma de interromper o Raio deles. Eu sei que foi terrível. Eu nunca realmente entendi as motivações dele, também... acredito que nem deveria saber, desculpe.

— Por que eu te desculparia?

— Porque isso é um assunto que não me diz respeito! Por Maatsu Ohkami, preciso parar de ser intriguista! — ela se levantou com pressa. — Sou apenas uma mera serva.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora