(四十) O Desafio do Destino

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Termos usados:

Sevícia: Mesmo que cruel ou maligno.

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Pela hora, grande parte dos corredores do Templo estavam vazios. Vazios o suficiente para que seus calçados fossem o único som audível em torno das paredes e pisos milenares.

Ela ajeitou os cabelos num coque elaborado, ajustou o quimono ao busto alto e seguiu por seu caminho descalça até notar algo perambulando sobre sua visão periférica à esquerda.

Tsuna olhou com cautela e caminhou por uma curta intersecção entre dois corredores. Nada viu. Seguiu adiante em direção aos seus aposentos, mas, ao virar-se para frente, um suspiro tomou conta de seu ser e só então reparou na figura franzina que se dispunha a sua frente como um espectro.

— M-mestre Kim? Enfim saiu da introspecção — ela se aproximou com um sorriso de deboche. — Estávamos te procurando já há quase quatro dias. Achávamos até que estivesse morto, estirado por algum beco por aí. Pelo o que te conheço, provavelmente esteve em um retiro espiritual.

— Lá estava eu... mergulhando na intangível superioridade dos Divinos, buscando por novos conhecimentos e conversando com aqueles que foram eternizados quando me deparei com um distúrbio e comecei a chorar, Tsuna. Isso me fez despertar para a realidade desse mundo e me trouxe a triste notícia de que meu nome havia sido manchado pela desonrada acometida por minha melhor discípula — contou o velho mestre, com uma expressão de puro desagrado. — Meu coração não aguenta mais fortes emoções... mas preciso continuar resiliente.

Ela forçou um riso.

— Nós muitas vezes entregamos nosso ouro a quem seja digno de cuidá-lo.

O mestre apontou um dedo.

— Discursos de ambição em forma de pedir perdão a sua alma não detém valor quando o que ela adora é ao ouro e ao trono.

— Eu nunca vou entender o que você diz — ela balançou a cabeça e ajustou os brincos.

— Se não entende o que digo em palavras eruditas, direi da forma comum e mundana na qual possa me entender, querida: você é a desgraça de sua casa.

— Como ousa, velho? — Tsuna deu um passo à frente. Suas faces haviam se fechado do exato instante em que esteve tão perto do mestre que até poderia notar o brilho opaco de seus olhos por trás de tantos cabelos e barba brancos. — Sou a Rainha do Céu agora!

— Uma rainha de verdade é digna e tem a veneração de seu povo, enquanto que você só tem a desonra em tudo o que fez em vida.

A terrível rainha estremeceu, sentiu o peito queimar com a ofensa daquele velho que para ela, nada sabia. E, por mais inegável que pudesse parecer, os raios fluíram sobre suas mãos, movidos pelo sentimento de raiva.

— Eu fiz o que fiz pelo bem dessas pessoas.

— Pelo contrário, jovem sevícia. Você nunca pensou em ninguém senão em si mesma. Eu observei seus muitos erros longinquamente. Sempre soube que trazia a desonra desde que jovem demais para cuidar de uma criança, deixou para Tesauro toda a responsabilidade sobre Zu'rien; ruína da luz... nascida Sayuri; lírio delicado. Ele a amava, mas você também não queria ser considerada uma desonrada diante de toda a casa de Makal e dos seus pais.

— Não fale mais...

— E também sei que o que carrega dentro desse coração, que não é sangue de homem, é o sangue de um ser corrompido pelas trevas do Yomi. Você rechaçou a ideia que Izanami teve de selar o submundo unicamente porque precisava dele para manter a si e a sua filha, Akemi, vivas. Você matou o pai dela assim que ele descobriu a putrefa verdade sobre a sua origem.

O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)Onde histórias criam vida. Descubra agora