Termos usados:
Seppuku: Conhecido como "Haraquiri", é um ritual oriental de suicídio motivado pela honra. Os japoneses consideram que a honra e o espirito estão acima das limitações humanas, por tanto um suicídio com honra seria melhor do que cair nas mãos dos inimigos.
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O tempo passava lentamente. O sono ia e voltava à medida em que eu tentava dormir. Certamente que a presença de Tesauro e de seus soldados Akhans renegados era perturbadora a ponto de que ninguém sentia paz. Ninguém se sentia confortável para fazer nada, sendo que eles sempre estavam lá, em silêncio. A face e as histórias de vida ocultas por máscaras de samurai que lhes conferiam aparências sombrias.
Mas que também escondiam a desonra.
Nenhum gostava de ver as nações onde nasceram e cresceram se desfazer em pó. Talvez nem as mulheres dos Akhans; mesmo não vendo os seus rostos, dava para ver que eram opulentas e pareciam muito saudáveis.
As trevas e aquela criatura lá em cima apavoraram os cidadãos. Os rugidos durante a noite me despertavam, me faziam lembrar que estavamos cercados e com poucas escolhas senão aceitar aquele vil destino. Tudo lembrava a minha primeira visita a esse lugar; chuva, caos, comida escassa, tristeza.
E, à medida em que o tempo passava, menos nos sentíamos como herdeiros do trovão. Naquela manhã fria e coberta por neblina, todos presenciamos quando o monte da velha cerejeira se tornou o palco da decadência de uma ordem que se manteve durante eras.
Ali, em frente a grande árvore, os conselheiros — líderes de suas casas, pais e mães de famílias importantes, foram executados para que, segundo Tesauro, todos os cidadãos tivessem a oportunidade de expiar o seu ódio através daqueles "senhores".
Ele sempre parecia inquieto, passava pelas pessoas sendo acompanhado por seus dois fiéis servos — meu amado irmão e a traidora cuja aparência nunca mudava; sempre bela e excêntrica.
Dias e dias nós passamos enfileirados ouvindo suas prosas. Dias e dias aqueles considerados criminosos foram separados da nação. Uns tiveram a prisão como punição, enquanto que outros repetiram a mesma punição de Zu'rien; a água eletrificada.
Meus olhos marejavam. Eu via o quão dolorosa estava sendo a minha decisão de estar sempre ao lado dele. Sempre ao lado de meu irmão que pouco ou nada queria saber sobre mim ou conversar comigo. Ele pertencia a Tesauro ao ponto de chamá-lo de pai/mestre/sábio.
Noutro dia, sobre jura de lealdade, aquela que era considerada como A Última Eremita do trovão, se prostrou diante dele. Todos se levantaram em ira contra mim, ouvi desonras ao meu nome e ao nome de meus pais.
Mas aguentei calada. Eu esperei, observei, reuni o máximo de informações que Tesauro poderia me dar em conversas. Nós nos sentávamos todos os dias juntos — em um até pensei que ele esqueceria de Izanagi e me teria mais uma vez por favorita. Fui alvo até mesmo de seus olhares atravessados.
No fim, quando aqueles intermináveis dias acabavam, só me restava voltar para a cama e chorar o quanto conseguisse. Mas, uma coisa que nunca esquecia era a minha missão, lembrada constantemente pela marca no meu peito.
Aquilo me fez persistir, aceitar que minha honra se mantinha mesmo que todos acreditassem que também estava com Tesauro. A casa de Makal se tornou amaldiçoada desde o céu até os confins da terra.
Mas, depois que as inscrições para o grande torneio foram abertas, todos acharam de me esquecer e focar no que seria a maior disputa entre guerreiros que essa nação já vira.
A ambição tornava os homens vulneráveis. Ali, diante do grande dojo, todos tínhamos ambições, pedidos para fazer, mas a honra da maioria ainda se mantinha; todos queriam a nossa liberdade. Era quase uma unanimidade que todos escolheriam pelo exílio — ao menos até que alguém como o general supremo pensasse em algo melhor. Ele era inteligente, um estrategista nato e não deixou os jovens desamparados durante os mandos e desmandos de Tesauro.
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O Ultimo Eremita do Trovão (Vencedor #TheWattys2021)
Fantasía[VENCEDOR DO PRÊMIO #THEWATTYS2021 EM FANTASIA!] Exilada de sua casa e vivendo entre lobos, Izanami não tem lembranças do seu passado, de quem ou o que a levou até a floresta quando, dez anos antes, a desonra do seu estimado mestre tirou...